Durante mais de 400.000 anos, os Neandertais prosperaram na Europa. Nas últimas décadas, encontraram-se na Península Ibérica muitas pistas sobre a sua cultura e o seu destino.
Durante as glaciações, as espécies adaptadas ao frio chegaram até ao Mediterrâneo. A Europa foi um continente gelado durante a maior parte do último milhão de anos. Ciclos de temperaturas negativas alternaram com outros mais temperados, mas o frio e o calor não se distribuíram igualmente ao longo do tempo: os períodos glaciares foram mais longos do que os períodos interglaciares. A última glaciação terminou há 12.000 anos e entrámos numa época temperada que, nos últimos séculos, se tornou cada vez mais quente devido às actividades humanas. É o aquecimento global que tanto nos preocupa.
Durante essas longas glaciações, a maior parte da Europa foi um território inóspito para qualquer espécie humana. Afinal de contas, somos primatas e viemos da África tropical. No extremo norte do continente, a superfície estava coberta de gelo permanente que, em alguns regiões, apresentava quilómetros de espessura. A sul das frentes de gelo, existia uma tundra de musgo, líquenes e turfeiras que, no Verão, ficava encharcada e infestada de mosquitos. A tundra deu lugar a vastas estepes, mares de pastagens que se estendiam do Alasca à Península Ibérica. Só na região mediterrânea se encontravam – sobretudo nos locais mais favoráveis, no litoral ou nos vales – florestas de coníferas, como pinheiros, e florestas de folhosas, como o carvalho, a faia e a azinheira.
De todos os territórios mediterrâneos nessas circunstâncias, a Península Ibérica era o maior. É por isso que se pode dizer que a história dos neandertais é em grande parte uma história ibérica.
Embora Espanha seja um dos berços da pré-história – como o sublinha a descoberta de arte rupestre em Altamira no século XIX –, até há pouco tempo havia poucas jazidas da época dos neandertais conhecidas em Espanha e em Portugal. Os vestígios fósseis também eram muito escassos. Para contar a fascinante história dos neandertais, era preciso sair da Península Ibérica. Era, claro, uma anomalia porque se conhecia a periferia da espécie e não o seu centro, o seu núcleo. Foi como estudar a história de Roma nas fronteiras do império, deixando a capital fora de análise.
Tudo isto se alterou nas últimas décadas.
Agora, as jazidas espanholas e portuguesas, bem como os pré-historiadores de ambos os países, estão na vanguarda mundial da investigação sobre neandertais. Entre os fósseis de neandertais da Península Ibérica descobertos nos últimos anos, destacam-se os conjuntos da gruta de El Sidrón (em Piloña, nas Astúrias) e da Sima de las Palomas del Cabezo Gordo (em Torre Pacheco, em Múrcia), bem como o esqueleto de Cova Foradada de Oliva (na província de Valência), mas há muitos mais vestígios que tornariam a lista interminável.
Onde e quando começaram os neandertais a sua jornada evolutiva? Os fósseis mais antigos que se podem relacionar com eles são europeus, pelo que é possível pensar que a origem da espécie está no Ocidente, embora posteriormente se tenha disseminado pela Sibéria, pela Ásia Central e pelo Médio Oriente. O crânio de Swanscombe, descoberto em Inglaterra, é claramente de origem neandertal, embora lhe falte a cara. O crânio de Steinheim, na Alemanha, também é um antepassado dos neandertais, mas infelizmente o fóssil está muito deformado. O crânio português da Aroeira também não está completo, mas pode ser uma forma muito arcaica de neandertal.
Para perceber melhor os antepassados directos dos neandertais, o melhor local é até agora Sima de los Huesos, na serra de Atapuerca (na província espanhola de Burgos), que contém quase trinta esqueletos que estão a ser recuperados e reconstituídos ano após ano. É difícil obter datações exactas para os fósseis destas quatro jazidas, mas é certo que nenhuma delas tem mais de meio milhão de anos.
Os fósseis mais antigos da Europa foram descobertos nas jazidas da Sima del Elefante e Gran Dolina de Atapuerca. Os da Sima del Elefante têm mais de um milhão anos, mas são ainda insuficientes para apurar a que espécie pertenciam. Poderiam ser de Homo erectus. Os fósseis humanos da Gran Dolina são muito abundantes e, com eles, conjecturou-se a hipótese de ter ocorrido uma espécie à qual se chamou provisoriamente Homo antecessor. Estes fósseis foram datados de há 800.000 a 900.000 anos de idade. Não apresentam características que os relacionem claramente com os neandertais, pelo que podem ser anteriores à separação desta linha evolutiva.
Com um registo arqueológico e paleontológico de hominídeos tão fantástico como o que temos agora, podemos repensar as grandes questões, começando por esta: seriam os neandertais uma espécie diferente da nossa?
Raça ou espécie?
Em criança, li e reli, como fazem as crianças, uma colecção de romances sobre o Oeste americano. Os dois protagonistas principais eram um alemão e um chefe índio. O livro onde se relatava a morte heróica e o posterior sepultamento do índio terminava com estas palavras, que nunca consegui esquecer: “Aqui jaz a Raça Vermelha que, se não foi maior, é porque não a deixaram ser.” Achei muito triste a morte do chefe índio e o destino da sua raça.
Terá sido exactamente isto que aconteceu aos neandertais? Estariam aqui agora, entre nós, se não os tivéssemos exterminado? Ocupariam todos os lugares na sociedade? Candidatar-se-iam às eleições? Pilotariam os aviões comerciais que nos levam de um sítio para outro? Para ser mais claro: seriam iguais a nós?
A possibilidade de os neandertais se terem cruzado com os humanos modernos (Homo sapiens) esteve sempre presente nas conjecturas ficcionais sobre a pré-história. No entanto, o estudo dos esqueletos de ambos mostrou claramente que a contribuição dos neandertais para a nossa espécie teve de ser nula ou ínfima, porque as suas características não se encontram nos ossos e dentes das populações humanas actuais. Em 1998, foi descoberto no Abrigo do Lapedo, na região de Leiria, um esqueleto infantil de Homo sapiens que se propôs ter tido algum antepassado neandertal. Não um pai ou mãe neandertal, mas um “tetratetravô” que teria vivido 10 mil ou 15 mil anos antes.
No entanto, a forma mais segura de averiguar se nós, os humanos modernos, temos ou não antepassados neandertais era sequenciar o genoma destes últimos. Tal conquista, que parecia impossível, foi realizada pelo cientista sueco Svante Pääbo e valeu-lhe o Prémio Nobel em 2022. Sabemos agora que muitos seres humanos transportam – ou transportamos – uma pequena percentagem de genes neandertais nas células. Portanto, há 40 mil ou 45 mil anos, vieram ao mundo crianças mestiças, que teriam pai neandertal e mãe sapiens, ou vice-versa. O que os romancistas imaginaram aconteceu na realidade.
A jazida asturiana de El Sidrón proporcionou fósseis muito importantes para estes estudos. A famosa Sima de los Huesos de Atapuerca também foi decisiva: o ADN humano mais antigo do mundo foi obtido em fósseis provenientes deste local. Na Galeria das Estátuas de Atapuerca, ocorreu um avanço científico que fez história: a recuperação de ADN de vários indivíduos neandertais directamente dosedimento, sem necessidade de retirar uma amostra de osso ou de dente.
Agora que sabemos que existem alguns genes neandertais no nosso genoma, deveríamos considerá-los apenas mais uma raça entre as muitas da nossa espécie? Hoje em dia, o termo raça não é utilizado para seres humanos – apenas se aplica a animais domésticos. Por isso, reformulo a questão: os neandertais eram um grupo étnico, uma cultura humana como qualquer outra?
As mudanças na linguagem que utilizamos são importantes porque respondem às novas sensibilidades e mudanças de mentalidade que a sociedade vive. Já não se fala de “tribos índias”, como acontecia antes. Recordemo-nos dos filmes. Agora, as diferentes culturas originárias da América do Norte denominam-se nações. Portanto, deveríamos falar de uma nação neandertal?
Apesar das suas pretensões de objectividade, a ciência nunca esteve afastada da sociedade do seu tempo. No início do século XX, aplicavam-se aos neandertais exactamente os mesmos adjectivos aplicados a muitos dos povos colonizados, especialmente os das regiões mais remotas. Eram vistos como rudes e pouco inteligentes, além de serem descritos como indivíduos sujos, peludos, insensíveis, sem capacidade para a arte e a música, mas também moralmente inferiores aos ocidentais que os “estudavam”. Os “selvagens”, como se dizia, estavam à mercê das paixões, que não conseguiam controlar. Eram de certa forma como os animais, também “dominados” pelos seus instintos. Os povos “primitivos” representavam “a infância da humanidade”, uma espécie de “fósseis vivos”. E os neandertais eram a infância da infância, os mais primitivos de todos.
A reivindicação da extraordinária riqueza das culturas dos povos sem escrita chegou infelizmente demasiado tarde para eles, mas será que devemos considerar os neandertais como os aborígenes australianos ou os esquimós, como os hadza, os san ou os bambuti? Passemos então a um campo menos minado, o da zoologia.
Lobos, coiotes, ursos e mulas
Os zoólogos utilizam uma nomenclatura binomial para classificar as espécies. Como se devem chamar cientificamente os neandertais: Homo sapiens ou Homo neanderthalensis?
A biologia também não facilita a tarefa de os classificar porque a definição de espécie biológica está sob fogo à luz das novas descobertas da genética. Houve um tempo em que as fronteiras de uma espécie pareciam claras. Havia uma barreira genética intransponível entre as espécies que as impedia de trocar genes. Partia-se do princípio de que, se dois indivíduos de espécies diferentes acasalassem, não teriam descendência ou, se a tivessem, os filhos seriam esteréis. Era sempre dado o exemplo da mula, resultante do cruzamento de um cavalo e de uma burra. As mulas são estéreis, pelo que o cavalo e o burro são, por definição, espécies diferentes e geneticamente isoladas.
Mas a realidade é que as linhas evolutivas do cavalo e do burro estão separadas há muitos milhões de anos, pelo que se ergueu uma barreira genética intransponível entre eles. Em geral, as espécies que evoluíram durante poucos milhões de anos de forma independente trocam genes onde coincidem geograficamente.
Os lobos e os coiotes, por exemplo, produzem descendência fértil nas zonas fronteiriças. Se o critério do isolamento genético fosse aplicado estritamente, todos os ursos do mundo seriam da mesma espécie, porque também trocam genes, ou já o fizeram no passado, onde os seus territórios se sobrepõem.
Por exemplo, se os ursos-polares e os ursos-pardos se cruzam, têm descendência. Entre os ursos-pardos existe até uma pequena percentagem de genes dos ursos-das-cavernas, aproximadamente a mesma quantidade de genes de neandertais que as populações humanas transportam.
A espécie Homo erectus surgiu há apenas dois milhões de anos. É pouco tempo para que se estabeleça o isolamento genético, de forma que é possível assegurar que todas as populações humanas há menos de dois milhões de anos poderiam trocar genes. Se não o fizeram em grande escala, foi porque viviam em regiões diferentes, mais ou menos separadas por barreiras geográficas ou, quem sabe, barreiras culturais.
Além disso, sabemos agora que, antes de os humanos modernos deixarem África na grande migração há cerca de 100.000 a 60.000 anos e absorverem genes de neandertal pelo caminho que os levou a colonizar a Eurásia, os neandertais já teriam tido contacto com populações africanas de Homo sapiens. Sabemo-lo porque o cromossoma Y (que se transmite por via paterna) e o ADN mitocondrial (que se transmite por via materna) dos neandertais eram iguais ao nosso e não como os dos seus antepassados da Sima de los Huesos.
Outra conclusão que Svante Pääbo e a sua equipa demonstraram é que os neandertais tinham parentes distantes na Ásia, os denisovanos, assim denominados porque o seu genoma foi sequenciado na gruta de Denisova, na Sibéria. Não conhecemos a sua morfologia, uma vez que dispomos apenas de alguns dentes e pequenos fragmentos de osso, mas sabemos que os neandertais se cruzaram com os denisovanos, tal como o Homo sapiens fez quando saiu de África. Há humanos modernos portadores de genes denisovanos, nomeadamente na Nova-Guiné, na Austrália e no resto da Oceânia.
O corpo Neandertal
O Homo neanderthalensis poderia ter-se chamado Homo calpicus. Calpe é o nome pelo qual se conhecia Gibraltar na Antiguidade. Ali, no Rochedo, concretamente na pedreira de Forbes, foi descoberto em 1848 um crânio fóssil, ao passo que a descoberta do esqueleto da jazida de Neanderthal só ocorreu em 1856. No entanto, o inglês William King preferiu o sítio alemão quando criou a espécie Homo neanderthalensis em 1863. Curiosamente, em Londres, Darwin teve nas mãos o crânio de Gibraltar, mas não o considerou o “elo perdido entre Homem e macaco” que procurava. O neandertal parecia-se demasiado connosco.
Para ver o quanto diferiam os neandertais da espécie humana actual, passemos agora às diferenças anatómicas. O seu corpo era largo, enquanto o nosso é esguio. Alguns autores argumentam que o corpo largo dos neandertais era uma adaptação ao frio, mas em Atapuerca pensamos que era largo apenas porque era arcaico, ou seja, conservava o corpo de Homo erectus – robusto, forte e desenhado para esforços explosivos.
Em contrapartida, foi o nosso corpo que mudou, não por acção do clima, mas para melhorar a biomecânica da marcha bípede, tornando-a mais eficiente ao aproximar as articulações das ancas aos fémures. A cabeça também era diferente, tanto a face como o crânio cerebral. Os humanos da Sima de los Huesos são neandertais primitivos e, graças a eles, sabemos que o rosto mudou antes da abóbada craniana. Orostodo neandertal era muito especial e diferente de qualquer outro hominídeo, devido ao formato pontiagudo, em forma de cunha, com uma abertura nasal posicionada para a frente. O crânio cerebral também era único, muito longo quando visto de lado e circular quando visto de trás. Mas tinha uma abóbada baixa com uma crista óssea espessa acima das órbitas oculares e, neste aspecto, os neandertais eram arcaicos. Por fim, a sua mandíbula não tinha queixo, outro traço antigo.
Por outras palavras, os neandertais não se enquadram na variação humana actual. Se ainda estivessem vivos, seriam fisicamente muito diferentes de qualquer outra população humana.
A mente Neandertal
As linhas evolutivas dos neandertais e dos humanos modernos separaram-se há pelo menos 400.000 anos. A partir desse momento, os cérebros de uns e outros tornaram-se maiores, mas de forma independente. Embora não se possa determinar a mente de uma espécie pela sua morfologia cerebral, o cérebro dos neandertais não tem a mesma forma do nosso, que é mais esférico. Talvez a anatomia do cérebro simplesmente reflicta a do crânio e o que conta seja o tamanho. Ora, o cérebro dos neandertais tinha o tamanho do nosso.
O osso hióide (localizado na base da língua) dos neandertais também não era diferente do nosso. Não há correspondência directa entre o formato desse osso e a língua, mas é importante notar que o único hióide de australopiteco descoberto é muito semelhante ao dos chimpanzés.
Por último, estudos auditivos sugerem que os neandertais comunicavam em frequências de voz semelhantes às nossas. Os australopitecos comunicavam em frequências mais próximas das dos chimpanzés.
Resta, por fim, o simbolismo, que é a prova definitiva da linguagem humana. Os neandertais teriam uma mente simbólica? Evidências claras a favor seriam objectos de adorno e a arte. Na realidade, quando dizemos objectos de adorno, como pingentes, queremos dizer objectos dotados de um significado, mesmo que não saibamos qual é. O mesmo acontece com a arte. Pintavam o corpo e gravavam sinais e figuras nas paredes das cavernas ou nas rochas ao ar livre por alguma razão que não conhecemos e não conheceremos nunca. Os símbolos são sinais codificados de uma comunidade e esses códigos pertencem apenas à comunidade que os criou. Uso sempre como exemplo a aliança de casamento: é um objecto que apenas algumas culturas sabem interpretar; para outras, é um simples adorno.
Em Espanha, existem três grutas com pinturas cuja datação remonta à época dos neandertais, milhares de anos antes da chegada dos humanos modernos à Europa, há 45.000 ou 40.000 anos. Uma delas é La Pasiega, localizada na Cantábria; outra é Maltravieso, em Cáceres, e a terceira é Ardales, em Málaga. Nas paredes das três, existem muitas outras representações, mas todas correspondem à época do homem moderno. Ou seja, estas manifestações “artísticas” atribuídas aos neandertais são a excepção, e não a regra, nos seus respectivos santuários. A ciência é muito exigente quando se trata de considerar algo como demonstrado, e é por isso que quero ser prudente no que diz respeito à arte neandertal.
No entanto, há evidências muito mais abundantes de que os neandertais arrancavam penas de grandes aves de rapina e necrófagas – como as águias, os quebra-ossos ou outros abutres – e garras de águia, provavelmente para se enfeitarem com elas. Também é possível que tenham pintado os corpos com almagre e cinza. O almagre, também denominado ocre vermelho, é um óxido de ferro que se encontra em muitas jazidas neandertais, que sem dúvida foi transportado propositadamente para ali. Mas para que fim? Talvez para ser usado como pigmento para adorno pessoal.
Uma descoberta interessante acerca da mente simbólica do Neandertal ocorreu na gruta de Los Aviones, em Múrcia. Aqui encontraram-se conchas perfuradas que podem ter sido utilizadas pelos neandertais para decoração pessoal.
No interior da Península Ibérica não existem muitos sítios neandertais em grutas, e isto deve-se ao facto de não existir calcário no centro dos dois planaltos. Mas há calcários e grutas nas bordas montanhosas dos planaltos, como na serra de Guadarrama, no Sistema Central.
O Calvero de la Higuera, no município madrileno de Pinilla del Valle, é um desses locais onde ficou registada a vida dos neandertais do interior. Além dos fósseis humanos, produziu-se aqui uma descoberta surpreendente: numa das grutas, acumularam-se crânios de bisontes, auroques (o antepassado selvagem do gado bovino), veados machos e rinocerontes. Todos animais com “chifres” de um tipo ou de outro. No entanto, não há corças nem cavalos, que não têm estas defesas. Porque se coleccionaram estes "troféus"? Se foi por algo específico, ou seja, se este comportamento tinha um significado para a comunidade, como parece, podemos dizer que a sua mente era simbólica.
A extinção dos Neandertais
Não sabemos como se deu a extinção dos neandertais, mas não pode ter sido diferente da de qualquer outra espécie. Em Espanha, assistimos ao vivo ao desaparecimento da cabra-montês, a cabra dos Pirinéus que, se não era uma espécie própria, não estaria muito longe disso. E assistimos na Península Ibérica ao quase desaparecimento do lince-ibérico. O que sucede nestes casos é que a área de distribuição da espécie se fragmenta e as populações tornam-se cada vez mais pequenas. Acabam por ficar isoladas umas das outras e o fluxo genético entre elas é interrompido até deixarem de ser geneticamente viáveis e vão-se extinguindo como as brasas de um grande incêndio.
No caso da cabra-montês e do lince-ibérico, não há dúvida de que o responsável pelo desastre foi o ser humano. Mas teremos sido também nós os responsáveis pela extinção dos neandertais? A coincidência temporal geral entre a extinção dos neandertais e a chegada dos humanos modernos é favorável a esta hipótese.
Outros autores defendem que os neandertais se extinguiram devido à glaciação. Eu não acredito nessa tese, embora pense que as populações neandertais se encontravam numa situação crítica nesses momentos desfavoráveis devido ao clima. Teriam provavelmente recuperado, mas a chegada de um concorrente humano precipitou a sua extinção.
Continua por determinar o mapa e calendário da expansão dos humanos modernos e da extinção dos neandertais. O período crítico situa-se há 45.000 a 35.000 anos. É possível que os neandertais do Mediterrâneo tenham durado mais tempo do que os neandertais do Norte. O principal problema técnico para descobri-lo é o facto de o método de datação de que dispomos, o carbono-14, estar no limite do seu alcance para estas idades. Talvez estejamos a pedir-lhe uma resolução que não nos pode dar. Um século é muito à escala humana (já para não falar de um milénio), mas à escala geológica não é nada.
O desaparecimento dos neandertais permanece ainda envolto numa névoa, uma névoa que a ciência ainda não consegue dissipar. Mas se há um lugar onde se podem resolver este e outros mistérios da história dos neandertais, será a Península Ibérica.







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