Toda a gente já deve, por alguma vez, ter ouvido falar dos Marqueses de Távora. Seja pelo conhecido «Processo dos Távora», através do qual o memorável Marquês de Pombal lhes «limparia o sebo», terminando com o poderio de uma das mais proeminentes famílias da História de Portugal. Ou seja pelo facto de terem sido os Senhores de Mogadouro, Mirandela, Alfândega da Fé, e ainda dos extintos concelhos de Castro Vicente e Penas Róias.
Este último facto já seria, per si, suficientemente relevante para a História do Distrito de Bragança, tal foi o legado deixado, por aqui, pelos Távora, nomeadamente no âmbito do património, podendo destacar-se o Convento de São Francisco, em Mogadouro, ou o talvez mais conhecido «Palácio dos Távora», em Mirandela, que hoje alberga a respectiva Câmara Municipal.
A ligação do meu concelho aos Távora, numa inicial perspectiva, resumia-se ao facto de algumas das suas actuais povoações terem feito, até às reformas administrativas do século XIX, parte dos concelhos de Mirandela e de Castro Vicente e, como tal, os seus direitos terem sido pertença dos ditos Távora. Até que, um dia, me apercebei que os Távora passaram a ser detentores dos direitos sobre a mais rendosa Abadia da Diocese: a de Vinhas, cujo efectivo título era «Abadia de Castro Roupal». Na época, pensei: «Os Távora, poderosíssimos Senhores, trataram de, como tal, “abarbatar” a mais rica Abadia destas terras»… Porém, assim não foi, não “abarbataram” coisíssima nenhuma! Eram seus legítimos possuidores!
Legítimos porque, afinal, os Távora, oriundos da Beira, por estas terras assentariam arraias, o que daria uma longa história, que para aqui não é chamada. Casariam os seus representantes com membros de algumas das mais relevantes famílias da região, aqui se destacando, de forma particular, os «de Morais». Uma dessa uniões matrimoniais seria a do «chefe dos de Morais» com uma dona dos Távora. Uma outra, a que mais interessa, envolveria o irmão da dita dona, Lourenço Pires de Távora, com uma irmã do dito «chefe dos de Morais», Alda Gonçalves de Morais. Senhora esta que era descendente, tudo aponta para que, por via dupla, dos insignes Bragançãos! E detentora dos tais direitos sobre a Abadia de Vinhas...
Os «de Morais» tiveram um impacto enormíssimo por Bragança, por Vinhais e, até, por Macedo de Cavaleiros, actual concelho do qual tomaram o seu apelido toponímico, a partir da magnífica aldeia de Morais. Maior impacto teriam, porém, através do referido casamento entre Lourenço Pires de Távora e Alda Gonçalves de Morais, uma «bragançana de gema», pois os ilustres Marqueses de Távora, família que tanto marcou a História de Portugal, dessa união matrimonial são o resultado directo.
Como tal, digam lá que não tenho razão quando afirmo que mais de metade da História de Portugal, tal como a conhecemos, não teria acontecido sem «sangue bragançano»?
[Nota: A foto que acompanha esta publicação retrata um local que poderá não ser reconhecido pela maioria. Situa-se em Morais (Macedo de Cavaleiros), honra dos... «de Morais»! Trata-se das ruínas da Igreja de Nª Sra. do Monte, um dos inúmeros sítios encantadores da referida freguesia.]


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