Este foi o Dia do Trabalhador com mais participação nos últimos anos em Bragança. Esta é a convicção do coordenador da União de Sindicatos de Bragança. João Diegues acredita que as comemorações do primeiro de Maio tiveram casa cheia na Praça Cavaleiro Ferreira porque os transmontanos quiseram mostrar o seu descontentamento com a actual situação laboral do país.
“Já ando na vida sindical há cerca de dez anos e é o melhor primeiro de maio que já tivemos. Tivemos aqui cerca de trezentas pessoas, o que para a nossa região é muito bom. As pessoas resolveram sair à rua e dar a cara porque já estão a sentir os problemas do país e por isso resolveram manifestarem-se”, frisou.A lista de reivindicações é extensa. Entre as mais ouvidas estiveram o aumento dos salários e a manutenção de serviços na região, para manter postos de trabalho que estão em risco em Trás-os-Montes.“Lutar sempre por mais e melhor, não deixar que nos fechem os serviços como as juntas de freguesia, os Correios, o que vai provocar despedimentos…Pedimos um aumento dos salários, uma aposta na agricultura e pescas, na indústria, reforçar a saúde, a educação e a segurança social. Manifestamo-nos ainda pela questão dos subsídios de férias e Natal que não sabemos quando os vamos receber… Continuaremos a lutar pela nossa região”, sublinhou.A assistir às comemorações, que incluíram a actuação de grupos culturais do concelho de Bragança, estiveram trabalhadores e desempregados.
A palavra de ordem é o descontentamento.“Eu sou licenciada e neste momento não vejo grandes perspectivas para o futuro. Nunca trabalhei na área, nunca leccionei. Só trabalhei num supermercado há dois anos. Mas é complicado. Temos mesmo que apertar o cinto”, contou Cátia Silva, uma jovem de 29 anos.“Tenho pena que nesta festa haja muitas cantigas mas não o essencial sobre o primeiro de Maio que são os direitos dos trabalhadores.
Acho que as pessoas não deviam ver tanto este dia como um feriado para ir às comprar mas para reivindicarem os seus direitos. Hoje em dia as alterações do código de trabalho só prejudicam os trabalhadores e para isso contribuem os próprios trabalhadores e os próprios sindicatos que não se mobilizam o necessário.
Acho que quando falamos nos direitos dos trabalhadores devemos falar nos trabalhadores que estão a recibos verdes e a contratos e não só dos que estão nos quadros, que muitas vezes só se preocupam com eles”, referiu um trabalhador que não quis identificar-se.Na plateia havia ainda alguns transmontanos, que tal como muitos, emigraram no início da década de 70. A passar férias na terra natal e perante um cenário de crise, queixam-se que em Espanha e França a situação não está muito melhor. “Para quem vive cá, tiraram tanto dinheiro, tanta coisa, não é bom para os portugueses. Mas eu acho que já não compensa muito emigrar.
Para quem já está lá instalado é bom mas para ir agora já não é muito bom”, constataram Bernardete e António Valverde, emigrantes há 40 anos em França.“Agora já não compensa ir para país nenhum. É melhor estar cá em Portugal. O euro acabou com Espanha, com França, com tudo… Espanha está mais ou menos como aqui. Já temos que vir a semear os nossos terrenos cá em Portugal”, Cândida e Álvaro Pais da Aveleda, emigrantes há 39 anos em Espanha.
O dia do trabalhador assinalado ontem pela União de Sindicatos na Praça Cavaleiro Ferreira, em Bragança.
Escrito por Brigantia (CIR)
in:brigantia.pt
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