Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 16 de novembro de 2019

Um casamento à Judeu

Por: Fernando Calado
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

A minha avó Maria Oliveira andava muito consumida com a sua vida e com os despropósitos do seu único filho rapaz em se querer casar com a filha dum lavrador que mourejava de sol a sol nas ladeiras de Carção.
- Quando já se viu um rapaz judeu casar com a filha dum lavrador?!
E abanava a cabeça, naquele seu jeito que revelava um nervoso miudinho que lhe era peculiar.
Como ninguém dava opinião, a Maria Oliveira concluía ela própria o discurso em jeito de reforço da argumentação:
- E há tão boas raparigas da nossa gente judia em Carção… raparigas que sabem fiar, bordar, tecer… raparigas bem prendadas e este diabo para o que lhe deu!
Mas o Serafim, que muitos e muitos anos mais tarde seria o meu pai, já tinha comprado um fato novo para o casamento e até já estava guardado na casa da rapariga, filha de lavradores e pouco se interessava dos recados e do desgosto materno.
Mas por acaso, nas voltas que o mundo dá, o Serafim encontrou o seu amigo Aníbal, que tinha uma cunhada solteira a viver lá em casa. Mais um peso para a economia doméstica de almocreve remediado, sempre dependente das contingências do negócio.
- Podias casar com a minha cunhada Eugénia? Olha que é boa rapariga, fina como as libras e trabalhadeira!
Sugeriu o tio Aníbal, naquele seu modo de judeu, sempre agradado em arranjar bons casamentos.
E assim, nas mesmas voltas que o mundo e o negócio dão, o Serafim e a Eugénia, cunhada do tio Aníbal, lá se encontraram e agradaram-se.
Passado pouco tempo tinham o casamento apalavrado para contentamento da Maria Oliveira, pois a Eugénia era judia, era prendada e sabia bordar, fiar e tecer.
E assim o fato do casamento com a rapariga dos lavradores, lá ficou em casa dela… e assim foi possível nascerem os meus cinco irmãos e já muito mais tardiamente nascer eu.
… e por pouco não estaria aqui hoje a contar esta conta. Agradeço ao tio Aníbal o ter aparecido em boa hora.
Claro que Maria Oliveira ficou feliz, até ao final dos seus dias, com o casamento do seu filho tão amado, de nome Serafim, com a estimada Eugénia, filha de Judeus respeitados e oficiais do seu ofício.


Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

Sem comentários:

Enviar um comentário