Uma vez um homem foi à pesca com a rede para o mar, lançou a rede e logo à primeira pescou o rei dos peixes, ao puxar o rei para cima este falou-lhe:
- Lança-me de novo ao mar com a rede e verás quando a puxares novamente que a rede trará tantos peixes quantos buracos ela tem. E assim foi, regressando a casa com uma grande quantidade de peixe. A mulher abismada com tanto peixe perguntou como aquilo tinha acontecido, o marido contou-lhe, então, que tinha apanhado um peixe com certas características que lhe fez uma proposta que o pescador aceitou. A mulher estava grávida e teve o desejo de comer aquele peixe, mandando o marido ao mar para o pescar. O marido assim o fez, ao lançar a rede pescou logo o rei dos peixes, que lhe fez as mesmas recomendações. Só que desta vez o homem não obedeceu ao peixe, dando-lhe a desculpa de que a mulher o queria comer. Então, o peixe cedeu mas recomendou:
- Tu não me comerás, levas-me e dás três partes à tua mulher, três à tua cadela e outras três enterras no quintal.
Ele foi para casa e fez o que o peixe recomendou, passado algum tempo a esposa deu à luz três gigantes, a cadela pariu três leões e no quintal nasceram três espadas.
Os meninos cresceram e tomaram cada um a sua espada e o seu leão. Um belo dia combinaram sair e conhecer mundo, saíram cada um munido com a sua espada e o seu leão, seguiram por uma estrada que em determinado ponto abria em três, parando ali. Decidiram cada um tomar a sua estrada, mas deixaram uma garrafa que turvava se algum deles tinha um pecado ou uma fatalidade, partindo depois à aventura. Um deles avistou uma cidade e entrou por ela a fora, passou por uma casa em cuja varanda havia uma donzela com a qual meteu conversa. Conversaram durante um tempo, até que ela o convidou a entrar, combinando encontrar-se, novamente, ao outro dia, sendo a atracção tal que marcaram casamento. Um dia os dois na varanda avistaram uma determinada torre e ele perguntou:
- Que torre tão imponente é aquela?
- É a torre de Bilorna, quem lá vai já não torna.
O rapaz curioso e valentão retorquiu:
- Hei-de lá ir e hei-de voltar.
Tomou a sua espada e o companheiro leão, atrevendo-se a procurar a torre. Ao chegar à entrada da torre veio uma velhinha que o cumprimentou e o convidou a entrar, sugerindo que prendesse o seu amigo numa das argolas de ferro da parede da torre. Ela, num gesto rápido, arranca um cabelo da sua cabeça e dá ao rapaz, para que com ele prenda o leão. Os dois dentro da torre foram admirando o interior, até que a velhinha convidou o rapaz para uma luta, visto que, este trazia uma espada consigo. Ele aceitou e os dois começaram a lutar, ficando depois o rapaz em desvantagem, procurando, então, chamar pelo leão:
- Avança leão!
- Avançará ou não que do meu cabelo cordas de ferro se farão!
O leão não foi ao seu socorro e o rapaz foi vencido, sendo preso nas masmorras da torre.
Um dos irmãos, ao regressar ao cruzamento, viu a água da garrafa daquele lado turva, pensando que o irmão se estava a sentir mal tomou o mesmo caminho para ir a seu socorro. Ao entrar à cidade encontrou a donzela (sua cunhada) com quem simpatizou de imediato, ela cumprimentou-o pensando que era o marido. No entanto, o rapaz não revelou a verdade, pensando que assim descobria o que se tinha passado com o seu irmão, indo, depois, descansar com a donzela como esposo dela. Na cama o rapaz põe a espada entre ele e ela o que a faz desconfiar:
- Então somos casados e fazes isto?
- Deixa lá não te aflijas é porque venho muito maçado … amanhã tudo estará normal.
Ao outro dia estando os dois na varanda, o rapaz avistou a torre de Bilorna, perguntando:
- Não vez que é a torre de Bilorna, quem lá vai não torna, mas tu foste e voltaste.
O rapaz ficou calado vincando a ideia de que o irmão estava naquele sítio:
- Pois eu hei-de lá ir e voltar!
- És herói porque já lá foste e voltaste
O rapaz tomou o leão e a espada, dirigindo-se a torre. Ao chegar recebeu a mesma velhinha a qual o recebeu com a mesma simpatia que ao irmão, convidando-o para entrar. No entanto, ao ver o leão preso à torre, o rapaz só pensava em salvar o irmão. A velha arrancou um cabelo e deu-o ao rapaz que prendeu o leão como o irmão tinha feito. Dentro da torre a velhinha convida também este para um duelo, mas na luta o rapaz perde e chama o leão para o salvar, ouvindo da velha a mesma resposta:
- Avançará ou não que do meu cabelo cordas de ferro se farão!
E de facto os acontecimentos repetiram-se e o segundo irmão teve o mesmo destino que o primeiro. O terceiro irmão ao ver a água turva no cruzamento foi de socorro aos irmãos, ao chegar à cidade foi, também ele, calorosamente recebido pela cunhada que o via como o esposo. Este teve fez os mesmos procedimentos na cama que o segundo irmão, levando a donzela a fazer a mesma observação. Na varanda avistou a torre, perguntando o mesmo que os dois outros irmão, levando a rapariga a reparar na sua valentia, pois o marido já lá tinha estado duas vezes retornando sempre e ainda queria lá ir uma terceira:
- Eu hei-de lá ir e voltar.
Ao chegar à torre, encontra a mesma velhinha simpática, que lhe dá um cabelo para prender o leão, mas o rapaz ao ver os outros leões presos atirou o cabelo para perto deles fazendo com que fossem libertados. Entretanto, aceitou o convite da velhinha para lutar e quando estava em apuros chamou o leão, ela respondeu do mesmo modo, mas desta vez estavam os leões todos soltos e avançaram sobre ela.
A velha ao ver que o seu plano tinha falhado implorou ao rapaz que ordenasse aos leões que não a matassem. Ele acalmou os leões, fazendo um acordo com a velha:
- Não deixo que os leões te matem, mas liberta já os meus irmãos.
Depois deste ultimato, ela não teve alternativa e libertou os dois irmãos, abraçaram-se os três, seguindo caminho para a casa do primeiro irmão. Depois de contarem tudo o que se tinha passado ao primeiro irmão, de como iludiram a sua esposa para o salvar, fizeram uma grande festa. Seguiram mais tarde cada um o seu caminho, sendo muito feliz o primeiro irmão com a sua esposa.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localização geográfica: PAÇO DAS MÓS – ORIGEM + 60 anos.
FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Na edição de 1985: ilustrações de José Amaro
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA
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A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)
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