Quando recebi o convite do Senhor Primeiro-Ministro para a pasta da Coesão Territorial – que visa a promoção do desenvolvimento regional equilibrado de todo o país, com especial enfoque nos territórios do interior –, decidi que teríamos de ter uma Secretaria de Estado onde faz mais sentido: nos territórios-alvo das nossas políticas. E escolhi ter um gabinete liderado por alguém que, por si só, seria o exemplo de que no interior do país temos pessoas de grande valor, que lá escolheram viver e trabalhar, e que por lá construíram carreiras de sucesso.
Não se pode reclamar mais descentralização se não se está disposto a arriscar fazer diferente. Um país que procura maior coesão territorial só tem a ganhar com a implementação no terreno de gabinetes ministeriais. Foi o que fizemos, pela primeira vez, no Interior Norte do país. Para mim, que venho do Interior Centro, são óbvias as vantagens de aproximar os cidadãos dos centros de poder. E essas vantagens ainda se tornam mais evidentes se levarmos os centros de decisão aos cidadãos.
Foi com base nesta convicção que convidei a Professora Isabel Ferreira, destacada cientista de Bragança, para integrar o Ministério da Coesão Territorial e liderar a Secretaria de Estado da Valorização do Interior. Um convite que foi fiel à minha crença de que um governante tem de representar o exemplo daquilo que defende. Queria que este ministério e, sobretudo, o país pudessem tirar proveito dos seus conhecimentos. Era igualmente meu desejo que com esta secretária de Estado viessem a trabalhar pessoas com essa mesma experiência de vida e disponibilidade para o Interior.
Estava feita a escolha da pessoa certa para o território ideal. Bragança é a cidade do interior mais distante de Lisboa. Separam-nas mais de 500 quilómetros e, mesmo usando as autoestradas A4 e A1, o percurso de carro será de praticamente cinco horas.
No entanto, qualquer cidadão do Norte e de grande parte do Centro de Portugal sabe que chega mais rapidamente a Bragança do que a Lisboa – não só pela distância a percorrer, mas também pela maior facilidade em aceder ao centro da cidade.
Com este objetivo de proximidade e de quebrar barreiras funcionais, a Secretaria de Estado da Valorização do Interior instala-se, a partir de agora, no Centro Tecnológico Brigantia EcoPark, numa parceria com a câmara municipal e o Instituto Politécnico de Bragança. Esta mudança é um exemplo do que de melhor se pode fazer num abraço entre a ciência, o conhecimento e a economia, com o trabalho conjunto das entidades com responsabilidades no território.
A partir de agora, cidadãos e demais entidades poderão bater à porta desta Secretaria de Estado para serem atendidos por uma equipa que conhece como ninguém a realidade do interior e que tem uma grande experiência no encontro de soluções inovadoras. Doutra forma seria muito difícil ter transmontanos a trabalhar no Governo para o desenvolvimento dos territórios que tão bem conhecem. Até porque em Bragança já funcionam serviços tutelados por este ministério, os serviços da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, que serão um apoio fundamental ao trabalho da equipa agora descentralizada.
Não há boas políticas públicas sem bons políticos. E um bom político é aquele que procura, no contexto de uma estratégia de médio e longo prazo, as medidas e as soluções mais adequadas para os problemas concretos, o que exige um grande conhecimento dos mesmos, das entidades e das organizações que devem ser envolvidas. Por isso acredito que fiz a escolha certa, em todas as dimensões.
Em última análise, o sucesso das nossas políticas não está só nos recursos financeiros, mas na forma como os mesmos são aplicados e no envolvimento e comprometimento de todos, num trabalho que tem de ser necessariamente feito em rede. Muitas vezes a interioridade é invocada para se solicitarem recursos para os territórios. Contudo, esse desígnio é depois esquecido na forma como os recursos são aplicados, duplicando iniciativas nos mesmos territórios ou trabalhando individualmente temáticas que necessitam de uma escala territorial mais ampla. Os desafios são multidisciplinares e multidimensionais e exigem trabalho em rede, partilha e compromisso coletivo. Dito de outra forma, o desígnio da coesão territorial exige uma outra forma de fazer política, envolvendo, comprometendo todos os que são relevantes para os desafios que se colocam e evitando multiplicação de iniciativas que fragmentam as competências e os ativos dos territórios que ficam ainda mais fragilizados. Alterar esta realidade tem de ser um objetivo nacional, mas é ainda mais urgente e importante que seja feito nos territórios mais frágeis.
É então com uma sede em Bragança e com uma ação direta por todo o país que vamos promover a coesão territorial. Porque acreditamos que, estando mais presentes no território, conseguiremos um país mais igual, para todos, de Norte a Sul, do Litoral ao Interior. Sem exceção.
A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
Ana Abrunhosa
Sem comentários:
Enviar um comentário