Era uma vez um casal que tinha uma filha, mas a mãe morreu passado pouco tempo ficando só com o pai, que se voltou a casar. Mas a madrasta não engraçava com a filha do marido, maquinando uma maneira de se livrar dela para ficar sozinha com o marido. Passou, então, a pôr em prática uma maldade com a menina, mandava-a todos os dias guardar os animais, enquanto estes pastavam, mas só lhe dava para merenda as côdeas queimadas do pão. A ideia era matar a menina à fome, o que a levava a chorar muito enquanto guardava os animais. Até que um dia um dos seus animais, ao qual chamavam Touro Azul, meteu conversa com ela:
- O que tens para chorar tanto?
- Tenho muita fome.
Então o touro tentou acalmar aquele pranto, pedindo à menina para meter a mão na sua orelha direita e tirar um guardanapo. A menina assim o fez, estendendo-o no chão como o touro lhe pedira, o guardanapo encheu-se de miminhos que a rapariga começou a comer até não poder mais. O touro recomendou-lhe no final que encartasse o guardanapo e o guardasse na orelha de novo. Esta cena repetia-se todos os dias e a menina em vez de sofrer as maldades da madrasta ia, pelo contrário, ficando cada vez mais bonita. A madrasta ficava por isso cada vez mais irada, o que a levou a ir espreitar o que se passava lá pelos campos, surpreendendo-se ao ver a cena do touro a proporcionar um rico almoço à menina. Quando o marido chegou a casa convenceu-o a matar o touro azul, mas a menina ouviu tudo e querendo retribuir o bem que o touro lhe tinha feito resolveu contar tudo a este.
Esperou então que os pais fossem dormir, descendo depois à loja dos animais para ir ter com o touro, que ao ouvir o que a menina lhe tinha para contar, respondeu:
- Ai sim? Então vamos já arranjar maneira de lhe tramar o plano. Saíram os dois da loja e o touro pediu à menina:
- Encostas-te aí a esse muro e sobe para cima de mim!
Dito e feito, os dois tomaram caminho para fugir, até chegarem a um pomar que tinha outro caminho pelo meio. Antes de entrarem o touro parou para fazer as seguintes recomendações à menina:
- Vamos atravessar este pomar, mas livra-te de tocar um raminho que seja destas árvores. Aninha-te bem aí em cima e não toques em ramo algum!
Feitas as advertências atravessaram o pomar, à saída apareceu um forte leão que desafiou o touro para uma luta, obrigando o touro a matar a menina caso perdesse.
O touro ordenou à menina que descesse e começou a luta. O leão saiu vencido, então, o touro tomou novamente o caminho com sua menina no seu dorso, mas percorrido aquele ramal de caminho apareceu outro pomar. Antes de entrar nele, o touro fez as mesmas recomendações à menina para não tocar em ramo algum do pomar. Chegando ao termo deste apareceu um monstro com sete cabeças, que desafiou o touro para um duelo acabando por sair, também ele, vencido. De novo, o leão ordenou à menina que subisse para o seu lombo para seguirem caminho, até chegarem a uma cidade. Antes de entrarem na cidade, o touro pediu à menina que fosse a uma daquelas primeiras casas pedir uma pá e uma picareta. A menina assim o fez, voltando com as ferramentas, explicando, então, o touro: - Vais dar-me com este machado na cabeça para me matar.
A menina ao ouviu isto entrou em choro incessante e disse que isso não faria:
- És meu amigo, eu gosto de ti, mas não me podes pedir isso.
- Vês além aquela casa? É a casa do príncipe. Vai ser para lá que vais servir querem-te lá muito. Deixo-te esta minha varinha que te vai servir muito, quando tiveres alguma necessidade bates com a varinha três vezes em cima da minha campa, fazendo com que eu apareça para concretizar tudo o que tu pedires. Ela começou, assim, a entender um pouco do que ele queria com o seu pedido, ao voltar a repeti-lo, a menina acedeu à sua vontade e matou o touro com o machado.
Enterrou, depois, o touro e partiu em busca da sua nova vida, oferecendo-se, de seguida, no palácio para servir. Aceitaram-na e o príncipe arranjou-lhe para vestir uma saia de pau. Sempre que os senhores saíam a “Maria saia de pau” (alcunha que lhe deram) ficava encostada à lareira até que eles regressassem. Um dia os senhores saíram para a missa e a “Maria saia de pau” lá ficou encostada à lareira, mas cansada de ser tratada como a gata borralheira do palácio decidiu ir ter com o touro azul. Ao bater, como o touro lhe recomendara, a varinha três vezes no chão, este saiu da campa e disse-lhe:
- O que precisas de mim?
- Quero que me calces e vistas de ouro e me dês um cavalo de ouro.
O touro fez-lhe a vontade, saindo assim dourada para a missa, onde todos se admiraram com tanto brilho. No final da missa, ela tomou novamente o cavalo para regressar, mas deixou cair de propósito um dos sapatos, partindo, de seguida, a galope. O príncipe tomou o sapato esquecido decretando que casaria com a donzela a quem servisse aquele sapato. Quando os senhores chegaram ao palácio de nada suspeitaram, porque a “Maria da saia de pau” estava no seu lugar junto à lareira.
Reuniram-se, naqueles dias, muitas donzelas das redondezas para calçar o sapato, todas elas convencidas que iriam casar com o príncipe. Até que um dia a menina da saia de pau, já cansada daquele corrupio, encheu-se de coragem e pediu ao príncipe para a deixar experimentar o sapatinho, no entanto este zombou dela rindo à gargalhada:
- Oh! Oh! Oh! Até tu gata borralheira, que não tens jeito de gente, queres calçar um sapato de ouro?
Ela, no entanto, insistiu e o príncipe deixou calçar o sapatinho, assentando-lhe este que nem uma luva no pé. O príncipe ficou admirado, mas não totalmente convencido.
A menina fez, então, um pedido ao príncipe:
- Posso ir ao meu quarto?
- Vai
Ela foi e regressou toda vestida de ouro, tal como tinha aparecido na igreja, dizendo logo o príncipe:
- Foste então tu que apareceste assim na igreja?
E já convencido que a menina falava a verdade declarou:
- Serás então a minha mulher.
Para acalmar tantas outras interrogações do príncipe, a menina contou-lhe como foi a sua vida desde que a sua mãe morrera e o seu pai voltara a casar, até que um dia o touro azul a ajudou deixando-lhe aquela varinha, através da qual conseguiu todo o ouro. E assim casaram e viveram muito felizes para sempre.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localização geográfica: PAÇO DAS MÓS – ORIGEM + 60 anos.
FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Na edição de 1985: ilustrações de José Amaro
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA
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Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço.
A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)
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Parabens
ResponderEliminarMeu avô português contava essa estória para mim quando eu era criança 🥰
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