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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

O Diabo e o Lavrador


Conta-se que um dia o diabo foi ter com um lavrador e propôs-lhe fazerem uma sementeira a meias. O lavrador, como lhe fazia jeito dividir os encargos, aceitou.
   – E que semeamos? – perguntou.
   – O que for melhor – disse o diabo.
   – Que tal semearmos um campo de batatas?... – avançou o lavrador.
   – Pois que seja – concordou o sócio.
   Meteram então ombros ao negócio. O diabo entrou com as sementes, os adubos, os pesticidas, e o lavrador entrou com o trabalho. Foram dias, semanas, meses, a sachar, a regar, a pulverizar... e, por fim, o batatal cobriu de verde toda a planura do campo. Ficou um autêntico regalo para os olhos. A colheita adivinhava-se da melhor.
   Entretanto, ao aparecer para a colheita, o diabo ficou de tal modo deslumbrado com tanta verdura que logo procurou arranjar maneira de ficar com a melhor parte. Propôs então ao lavrador:
   – Vamos fazer a divisão da seguinte forma: eu fico com a parte do batatal que está para cima da terra e tu ficas com a parte que está para baixo.
   O lavrador nem pestanejou. Aceitou logo.
   – Se é assim que queres, assim seja!
   Já se está a ver. Ficou o lavrador com as batatas e o outro com a rama.
   No ano seguinte, apareceu de novo o diabo ao lavrador a propor que voltassem a fazer uma sementeira a meias.
   – E que semeamos? – perguntou o lavrador.
– O que for melhor – disse o diabo.
– Batatas, não, que ainda as tenho do ano passado. Que tal semearmos um campo de trigo?
   – Pois que seja – concordou o sócio.
   Reataram então o negócio.
   O diabo entrou com as sementes e o lavrador com o trabalho. Chegada a altura da colheita, lá estava a seara – e que bela! – a ondular ao ritmo da brisa mansa do Estio. Veio então o diabo para as partilhas e diz ao lavrador:
   – Da última vez não me correu bem o negócio que fiz contigo. Por isso, ficas tu agora com a parte do cereal que está por cima da terra e eu fico com a parte que está por baixo!
   O lavrador aceitou. É claro. Ficou ele com o grão e o outro com as raízes. Quando deu conta da asneira que fez – dizem –, o diabo fartou-se de dar guinchos e pinotes. E daí em diante já não quis mais sociedades com o lavrador.

Alexandre Parafita, “O diabo e o lavrador”, in Diabos, Diabritos e Outros Mafarricos, Lisboa, Texto Editora, 2003.

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