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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O imaginário fabuloso do nordeste transmontano

O livro intitula-se “Antropologia da Comunicação, ritos, mitos, mitologias” (por Alexandre Parafita, Âncora Editora, 2012). O autor adverte-nos à partida: “As formas como as sociedades humanas comunicam entre os seus pares e com os outros, incluindo aqueles que interpela nas megadimensões do sobrenatural, são matéria-prima para uma Antropologia da Comunicação. É disso que procura tratar este livro ao apresentar abordagens pluridisciplinares sobre os esforços da comunicação ao longo da vida do Homem, a realidade complexa dos mass media, os mitos e os seus ritos, os mistérios do mundo lendário, os rituais de iniciação e passagem, as festas, as iconologias, as expressões da literatura oral tradicional, etc.”.

Primeiro, há que entender a comunicação, a sua necessidade ontológica, como processo de socialização, como atuam os órgãos de comunicação social, como comunicar acaba sempre por nos influenciar e em que termos a comunicação apela e se embebe do fenómeno estético. É um resumo muito bem elaborado que não deixará indiferentes todos aqueles que estudam Ciências da Comunicação, História e Literaturas.

O que está em causa na arte da memória é conhecer a fala do povo, a expressões da literatura oral, daqui saltando para o lendário duriense, andando à volta do conto, da lenta e do mito. Porque a antropologia da comunicação preza a literatura oral tradicional, seja ela para divertir, caricaturar ou criticar, seja ela para instruir ou ter força integradora dos membros na comunidade. As lendas têm um peso simbólico que ultrapassa a força do próprio texto. É aqui que cabe interpretar a arte da memória. De há muito que o autor estuda a região duriense, que lhe merece a seguinte menção: “Representa um desses espaços míticos, carregados de espiritualidade, onde o homem, na sua relação com os fenómenos naturais e culturais da paisagem, e sempre dominado pelas inquietações do sobrenatural, preceitos da religiosidade e preocupações agrolaborais, vai criando e alimentado os contos, as lendas e os mitos”. E procura aproximar o leitor do significado destas narrações orais: “Se os contos estão geralmente associados a saberes e valores que as gerações procuram transmitir muito à medida dos seus perfis ou conveniências éticas e estéticas, as lendas e os mitos resultam, claramente, de uma hermenêutica popular respeitante a realidades físicas e históricas muito concretas”. E para que não haja ilusões da vastidão do estudo, insiste-se que a região duriense tem sinais profusos de povos antigos, de cultos pagãos, da religiosidade cristã, é um espaço onde se conjugam formações megalíticas, vales profundos e escarpas assombrosas, tudo moldado pela sinuosidade dos rios.

Chegámos ao objeto do estudo, o património imaterial que é aquele onde mora a alma do povo e que integra a literatura popular de tradição oral (lendas, mitos, contos populares, romanceiros, cancioneiros, quadros, autos populares, advinhas, rimas infantis, orações, rezas, fórmulas de superstições e de mezinhas…), bem como saberes e vivências da cosmogonia popular (tais como os falares regionais, os ritos e as festas, os jogos, as danças, os saberes do artesanato, da culinária e dos trabalhos rurais e marítimos…). Aqui estamos nesse universo com serões à lareira, esconjuros às maleitas, recitações, teatro popular, festividades, rituais religiosos e pagãos, jogos tradicionais. De uma forma profundamente didática, o autor aproxima-nos, faz-nos ingressar no folclore obsceno, com as suas rimas infantis, poesia popular, provérbios, advinhas, orações com escárnio, mas também nos contos jocosos e divertidos. O autor observa o seu conteúdo: “O valor formativo destes textos reside na sua capacidade de promover o desenvolvimento psicossocial e cognitivo e, especialmente, a socialização da criança. A noção de pertença a um grupo é fundamental, e isso implica o conhecimento das regras e das tradições do grupo, o que passa pelo conhecimento dos seus contos, assim como dos seus jogos, das suas rimas maliciosas, orações com escárnio, etc.”; vamos depois até ao teatro popular, daqui seguimos para os contos de tradição oral e então o autor assenta arraiais nos ritos, nos mitos e nas mitologias. Dá-nos um fresco sobre o mito das mouras mortas, percorremos várias lendas até chegar os ícones sexuais e diabólicos, estão ali bem à vista as pouca vergonhas e até as tentações do diabo, salta-se depois para a “murra” do Natal (trata-se de um gigantesco canhoto de carvalho que arde noite fora no largo principal das aldeias mais puras do nordeste), daqui vamos até ao Menino Jesus da Cartolinha, saltamos para a tradição do entrudo onde pontificam os desfiles diabólicos de “caretos”, “matrafonas”, assim como as leituras de “testamentos” e “julgamentos públicos” e “pulhas casamenteiras”, assim chegamos aos rituais cristãos e pagãos da Semana Santa em Trás-os-Montes.

“Antropologia da Comunicação” é um precioso manual de consulta para diferentes disciplinas, o autor soube reunir algumas joias da oralidade do povo do nordeste transmontano e remeteu-as a preceito para os territórios da Antropologia.

Por: Beja Santos

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