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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

A presença dos Judeus em Carção

Carção - Rio Sabor
"A Capital do Marranismo"

Carção é uma freguesia portuguesa do concelho de Vimioso, no distrito de Bragança, região Norte de Portugal e sub-região do Alto Trás-os-Montes com 27,60 km² de área e 419 habitantes (2011), densidade: 15,2 hab/km². Situa-se no nó de convergência entre as aldeias de Argozelo e Santulhão, e é passagem obrigatória para quem se dirige à sede de concelho, da qual dista dez quilómetros. Tem por limites as freguesias de Argozelo, Pinelo, Vimioso, Santulhão e terras do concelho de Bragança.

Não tem anexas, mas outrora compreendia cinco casais no rio Maçãs e onze moradores na Quinta da Veiga. Pertenceu ao antigo concelho de Outeiro, extinto em 1855, tendo passado a integrar o concelho de Vimioso.1

Neste local, em 1651, foi justiçado Francisco Mendes, natural do lugar de Carção. Foi condenado à morte e enforcado na Vila de Outeiro, por ter assassinado Gaspar Gonçalves, juiz de Carção. O seu crime foi acrescido por ter despedaçado «com hua fouce roçadoura hua imagem de Christo». No meio do povo de Carção, numa grande lápide de granito cravada no solo, junto a uma fonte, está uma inscrição referente a Francisco Mendes.

Naquele sítio estavam as casas de habitação do assassino, as quais foram mandadas arrasar e salgar pela barbaridade do crime. Os seus bens foram confiscados para a Coroa, ficaram também os seus descendentes incapazes de obter qualquer ocupação até à quarta geração.

Os habitantes de Carção estão ligados ao comércio desde tempos muito antigos. Um grande número dos seus habitantes é descendente de judeus que se refugiaram no século XV nas aldeias raianas. A importância do legado judaico revela-se no símbolo da junta de freguesia de Carção que tem no brasão uma mezuzá e uma menorá, o candelabro de sete braços, um dos mais antigos símbolos judaicos.

Ponte sobre o Rio Maças
A partir do século XV e XVI iniciou-se o seu maior povoamento. Este facto ficou a dever-se à expulsão dos judeus de Espanha pelos Reis Católicos Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão (Decreto de Alhambra de 1492). Assim, entraram em Portugal milhares de pessoas e, pelo lado de Miranda do Douro, calcula-se que tenham entrado cerca de 3000 pessoas. Inicialmente fixaram-se num local chamado Prado das Cabanas, quatro quilómetros a leste de Vimioso, dispersando-se depois, pouco a pouco. Uma vez que Carção estava bem situada e tinha feira todos os meses, aqui chegaram muitas pessoas de origem judaica, trazendo com elas uma nova cultura e uma nova economia.

As tabernas e os talhos eram alguns dos negócios que pertenciam à comunidade judaica. As famílias de negociantes de Carção instalaram-se na zona da praça e os seus estabelecimentos não eram frequentados por lavradores.

Praça Antiga de Carção
A praça de Carção guarda memórias dos tempos de perseguição por parte da Inquisição, que condenou à fogueira cerca de 18 pessoas da aldeia. Consequentemente, para safar da morte, muitos Judeus converteram-se por fora, para mostrar que já eram cristãos, quando na realidade ainda viviam o verdadeiro espírito judaico.

Este fenómeno é designado de “Marranismo”. Tudo leva a crer que os judeus usavam as alheiras, produto alimentar da zona, para mostrar que já eram cristãos, logo comiam carne de porco, quando, na realidade, eram feitas, apenas, de pão e aves.

Implantada mesmo no centro de Carção, hoje a “Taberna TAI” é um símbolo vivo dos tempos em que os Judeus dominavam o negócio na praça. O edifício centenário, que passou de geração em geração, foi recuperado segundo a traça original e, agora, acolhe pessoas de todos os estratos sociais. Aqui ouvem-se histórias dos tempos em que o cristianismo e o judaísmo dividiam a população e, em tom de brincadeira, até se fazem comentários sobre as pessoas que ainda têm ar de judeus.

Os tempos passaram, as mentalidades mudaram e as práticas judaicas que ainda poderão existir fazem, apenas, parte da intimidade de cada um. A proprietária da taberna, Laura Tomé, de 57 anos, afirma que não tem grandes memórias dos tempos áureos do judaísmo, mas sabe que a “Taberna TAI” foi uma das primeiras a surgir em Carção. “Este negócio já vinha do meu sogro, que pertenceu a uma família que tinha taberna e talho”, recorda ela.

“A aldeia estava dividida. Os judeus tinham os seus negócios na zona da praça, ao passo que os lavradores viviam no cimo do povo e só frequentavam os comércios e cafés da sua zona. Quando os lavradores desciam, o que, por norma, acontecia ao fim-de-semana, havia pancadaria”, recorda o presidente da Junta de Freguesia de Carção, Marcolino Fernandes. Com 76 anos, o autarca afirma que ainda viveu no tempo em que as rivalidades entre cristãos e judeus estavam bem vincadas. “Embora eu fosse lavrador, vivi sempre no meio dos Judeus. O meu pai esteve três anos em França e quando regressou comprou uma casa mesmo no centro da praça, o que para os judeus foi uma afronta. Por isso, desde pequeno que fui assistindo às rivalidades”, frisa o carçonense.

Pedra com Símbolos Judaicos
Para reivindicar as tradições e vestígios dos judeus, está em fase de conclusão um Museu dedicado às tradições judaicas. Promovido pela Associação Almocreve, este espaço vai ter dois pisos: um para exposições temporárias e outro dedicado ao judaísmo. O museu fica mesmo no centro da praça de Carção, onde ainda se encontram outros vestígios judaicos.

Fontes:

(1 - Paróquia de Carção. Arquivo Distrital de Bragança. Página visitada em 10 de Outubro de 2013).
http://pt.wikipedia.org/wiki/Car%C3%A7%C3%A3o
http://questomjudaica.blogspot.pt/2013/10/carcao.html
http://www.jornalnordeste.com/noticia.asp?
http://tesourosqueroubei.wordpress.com/?s=Judeus
http://www.almocreve.pt/pagina-exemplo/imprensa/
http://www.catedra-alberto-benveniste.org/documentacao.asp?tab=3&tema=22
http://www.panoramio.com/photo/35236373
http://portugaltorraonatal.blogspot.pt/2010/10/carcao-vimioso_17.html
http://www.360cities.net/profile/manuel_teles
http://chaveri.blogspot.pt/2014/01/a-presenca-dos-judeus-em-carcao.html

Consultar este blogue para informação mais detalhada:
http://almocreve.blogs.sapo.pt/17218.html

in:zivabdavid.blogspot.pt

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