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O ex-padre passou a noite na cadeia e deverá ser apresentado a um juiz de instrução criminal do Tribunal de Santarém, este sábado, a fim de lhe serem aplicadas medidas de coação, que podem chegar a prisão preventiva.
Natural de Trás-os-Montes, a residir na zona de Murça, há vários anos que Humberto Gama também atendia clientes na zona de Fátima, distrito de Leiria. Inclusivamente, mantinha páginas na rede social Facebook, nas quais promovia os seus serviços, mostrando como chamariz uma foto sua antiga ao lado do falecido Papa João Paulo II.
Gama vinha também sendo referenciado há anos por crimes sexuais. Porém, nunca fora detido. Ainda assim, mantinha uma atividade aparentemente credível, também por força da anunciada condição de "padre" e pelas vestes religiosas que usava diariamente.
Segundo informou a PJ quanto ao caso que motivou a sua detenção, o suspeito, "aproveitando-se da sua atividade de exorcista e explorando a fragilidade da vítima, especialmente vulnerável, constrangeu-a à prática de atos sexuais de relevo, após a ter colocado na impossibilidade de resistir". Ou seja, manietou-a, pela força.
Como se fazia passar por padre, "levando inúmeras pessoas em dificuldades a consultá-lo, cobrando honorários", a PJ está também a recolher elementos de prova que possam indiciá-lo por burla.
Instalado numa vivenda de três pisos junto à estrada que liga Fátima a Minde, Marcelino Humberto Gama, que foi expulso do sacerdócio em 1972, dedicava-se ao "exorcismo", sem, contudo, despir as vestes de "padre".
O processo de expulsão foi confirmado pelo Vaticano. Em fevereiro de 2011, o vigário-geral da diocese Leiria-Fátima, Jorge Guarda, alertava que Gama não tinha legitimidade "para as atividades religiosas ou de exorcismo" e alertava que era "igualmente abusiva a divulgação de uma sua fotografia com João Paulo II, para tentar legitimar e provar a sua condição de padre e para servir de cartão de visita para ser contactado nos arredores de Fátima".
"Claro que ponho a mão"
Relativamente a queixas de abusos sexuais em consultas, foram sendo noticiados casos em 2004, 2006 e 2009, que chegaram à justiça. Em reação a um caso concreto, na edição de 9 de fevereiro de 2006 do JN, Humberto Gama negou ter tocado na paciente. Mas não desmentiu que, em algumas situações, chega a tocar nos órgãos genitais dos seus pacientes, homens ou mulheres.
"O exorcismo é uma energia que tanto pode dar na cabeça, como na barriga ou em qualquer outra parte do corpo. Ora, se a dor for nas costas, não vou apalpar a cabeça", afirmou então o ex-padre ao JN, sublinhando: "Não vou tirar a cueca à mulher, mas se for preciso, claro que ponho a mão". E até questionou: "Os médicos não fazem todos isso?", lembrando que, "afinal, as pessoas querem é ser curadas".
Clientes "malucos"
"São todos malucos", chegava a dizer o ex-padre, quando confrontado com as queixas das pessoas que recorreram aos seus alegados exorcismos. E realçava não estar incomodado com as denúncias vindas a público, afirmando que tal publicidade lhe traz mais clientes, do Norte ao Sul do país.
Francisco Pedro
Jornal de Notícias
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