(colaborador do "Memórias...e outras coisas..")
Emigrante Transmontano em Natal/Brasil – desde 1979
O título original desta crônica já inserido no Livro de Catramonzeladas Literárias em alegoria ao tema aqui mostrado com verbetes meus do "assim se fala, assim se escreve" era: "Para A Saltar a França, é preciso deixar Ir Un atrás" e começa com esta citação bem apropriada.
“A sabedoria da vida é sempre mais profunda e mais ampla que a sabedoria dos homens. (Gorki)
- Esta citação nos leva a outra bem mais profunda do saber humano: Sócrates, o Grego, tal como eu, ele sempre dizia!; eu só sei que nada sei!
... iii... aatãon bamos lá caraaaago;
Fronteira de Quintanilha |
Hendaye, França, Lá no longínquo mês de Agosto de 1972, depois de eu deixar Ir un "atrás"! Péraíiii oh, por favor! E não comecem já a pensar mal de mim!, até porque eu nem sou ministro! Para deixar todos irem atrás!
E aqui, o que eu quero dizer é que todo o emigrante que "a saltava" a França naquela época dos anos se senta, ele se assentava aonde pudésse!.
- A Saltar, no bom sentido desta palavra era dar o "salto" para o lado de lá dos Pirinéus e os Emigrantes "aveques" idos pela fronteira do Sudoeste da França, quando entravam na primeira cidade Francesa de Hendaye, eles forçosamente deixavam sempre IRUN atrás!, que é a ultima cidade Espanhola do lado de cá da Fronteira! era só isso!
- E, se "voismecês" lá passaram alguma vez, também lá deixaram IR UN atrás!, e nunca foi lá nenhum Ministro nem era preciso ser primeiro ministro primeiro, para ir A Saltar à França páaaa!
- Vas‟ Y”, vasY!... (vási)
- Vas Y allors, Oh Portugais!... dêpéche tois avec ta Catramonzelada páaaa!.
- dizia o motorista da "carreira" também conhecida por "autocarro" e mais tarde nos meus alfarrábios foi rebaptizada pelo homônimo de "ômnibus", que passou a ser omnipresente nas minhas andanças pela estranja desde então.
Ali estava eu aparvalhado, pela primeira vez fora do território da Mãe-Pátria e não era Emigrante!... Eu era apenas mais um Visitante à minha Familia “avec” que já estava lá em várias localidades.
Ali na borda da "auto-ruta" a carreira estacionou, parou mesmo! como era de costume, a tal parada obrigatória para todos os passageiros "trocarem a água às azeitonas"! (as passageiras, como não têm azeitonas e por isso só precisam re-estocar o pó d'arroz não parbolizado, e nem todas gostam de panelas)!, assim mesmo, elas vão sempre ao “Tuá Lete” amiúde, nem que seja só para espreitar a vizinha do lado. Continuando dizia a Minha Irmã;
Quando "xigares" lá, eu já lá estou à tua espera. Não te esqueças que tens que "t'arrétar" em Turs! (vulgo Tours que é a capital do Loire) senão tu perdes-te!,
E, olha… lá perto "d'agare", tem até lá o Manel Tendeiro (mou cunhado) e que também te quer ber, caraago!
Foste tu que o ensinaste a ler, e ele agora está rico lá na França!. - E assim "fumos" a conversar que até "ou atcho" que a primeira coisa que eu "oubi", (melhor dizendo, eu entendi, em Francês nessa minha primeira viagem à França sem A Salto) foi assim; Eu entendi “gra-zie-lá, sirvó prego”!(quando na verdade eu deveria era ter escutado e entendido o sentido da coisa; "assiez lá s'il vous plait"!...
E aí começou a confusão total: Entendi - Gra zie lá porque me lembrei da minha prima, que já estava lá na França e, como diz o povo; (o pensamento voa mais rápido que a internet) Quem sabe?... talvez que ela trabalhava ali no restaurante onde tínhamos acabado de chegar!?
Entendi - sirvó prego!....(alegoria à expressão Francesa – S‟il vous plait ou seja se faz favor! ) e porque tínhamos acabado de sair da carreira, eu estava com uma fome daquelas!- Pensei, um prego no pão vinha mesmo a calhar, e eu... de tanto imaginar uns bons pregos no prato, pregos no pão!, tinha até os olhos prégados na rapariga do Balcão que eu imaginei logo na posição de - sirvó prego ! caraaago!
Bem!... naquela época ainda não tinham inventado o "bitoque" e a primeira coisa que me vinha à mente era sempre: SIRVÓ PREGO!, com ovo, mas com um ovo frito escarrapanchado em cima!, mal passado!, se fais fabor!
- Pensei nisso e quando saí da "carreira", como todos os outros foram às "carreirinhas" para a "casa de banho" eu fui logo directo ao balcão! - Enfim, fiquei ali para me sentar ao balcão do "snack-bar" restaurante que ficava na borda da "auto-ruta". Então veio o tal do "assiez lá s'il vous plait"!!!... e como não vi nenhuma gra-zie-lá, nem tinham sirvó prego, lá comecei ataão a pedir o "pequeno almoço" e a pensar:
- Eu já me sentia um policial de mentirinha caraago! "prendi" a carreira em Macedo, "prendi" um tamborete para me sentar no Balcão, pedi e “prendi” um copo de “panaché” enquanto a gra zie la trazia o prego dentro de um "parisien" de meio metro de comprido, com "fromajio" tipo queijo da serra. etc e tal e coisa… eu “prendi” prendi tudo!
Eu, como não era ainda "aveque" e só ia lá visitar a minha Irmã, depois de 15 anos fora de casa sem a ver, resolvi só olhar para o "garçon", que, na verdade era uma rapariga com cabelo curto, tipo "chanel 5" e vestida de calças à boca de sino, ela me deixou quase sem fala, olhem só!...
Eu estava naquela idade da música, do "fail in love" por tudo e por nada!,... no tempo do "faciamo l'amore" antes que seja tarde! e, porque a vida não basta.
E eu ali na idade de emigrar para a França porque, lá só se cantava o Charles Aznavour com voz de bagaço;
... la Bohéme!,... la bohéme!!!! lá bohéme!!!
nous ne mangions pas un jour qu'en deux! la Bohéme!.
(traduzindo à letra: nós na Boémia Francesa só comíamos dia sim dia não)
Aquilo era uma boémia muito esfomeada!, caragoooo.
Os gajos lá em Paris no "bidonville" eram boémios profissionais páaa!
- Olha que traduzindo à letra a música, ou a música à letra, era assim: Ah, ah, ah boémia!... oh boémia,... aqui me tens de regresso e a suplicar eu te peço, nós só comíamos a cada dois dias!.
Entrementes oh p´sit, s’il vous plait…
Óh "Gra zi ela", traz a dolorosa aí p'ra eu pagar!
Oui, Monsieur,.. ça son trois franc soixante dix !... s'il vous plait!
Eu puxei os cordões à bolsa e oh páaaa!, cuncaneco!,… eu escutei mal de novo caraaago!
-- ataãon um pequeno almoço aqui custa mais de setenta Francos páaaa!?.
Eu completamente aparvalhado pronto para pagar, mas não teve jeito!
- Ela continuava era a olhar para mim, com os olhos esbugalhados, estava ali à espera de receber.
E a "carreira" lá fora já com o motor a trabalhar e, prontos!... Foi quando eu comecei a botar as notas todas em cima do balcão!
A "Gra zi ela", arregalava os olhos p'ra mim e gritava; ... mais!... mais tu est foul! (mé non) Non, tê toi, hein...!? - e eu botava mais a última notinha da carteira.
Pensei...Minha Nossa Senhora de Lourdes me acode aqui senão vão "m'arretar", vão me "prender" antes de chegar às "Tours" do Val du Loire caraaaago!
(Eu só queria pagar a despesa e rezava eu c’us mous butões”!)
Não foi a jovem "Bernardette" que me acudiu mas sim, ela a Nossa Senhora de Lourdes foi quem me enviou o "aveque" que estava do meu lado.
Ele já tinha acendido o velho "galloise" du maiz (cigarro feito com palha de milho) e me disse pelo canto da boca; - óoooh, oh voismecê !
- São só 3 francos e setenta centavos (dos antigos caraaaaças)!
Naquele tempo o meu Franco era novo, o da "Gra zi ela", era velho evalia umas 100 X menos!
Um franco velho foi convertido 100 vezes para valer um FRANCO NOVO E eu que pensava que já sabia falar francês!,hein!? …
Mesmo assim, que lindo que era eu ouvir a minha Irmã a falar "incorrectamente" a língua do Asterix!...
E o Demis Russos (o Emigrante Grego) a aprender a cantar com ela;
- lá musique!,... la musique!...
--- Logo ela, que mal terminou a quarta classe! Cantava bem sem sotaque Transmontano, lá musique, e pronunciava "lalalalá miusique".
Ela que, por certo, é devota da Santa Bernardete, (*) e foi por isso que a minha Mãe lhe botou o nome de Maria de Lourdes!.
(- Saravá!... minha Irmã Querida aí onde estiveres!)
(*) A Jovem Bernardette Maria de Lourdes lá dos Pirinéus, era uma cópia "xerox" de nossa Santa Irmã Lúcia.
Foi ela que viu a Nossa Senhora à beira do riacho no povoado de Lourdes que fica logo atrás dos Pirinéus.
Coitada!...Morreu jovem aos 35 anos de idade, e se hoje fosse viva teria mais de 165 anos!
- Durante 46 anos abriram o caixão dela para autópsia muitas vezes, e ele o corpo continua lá!, intacto e sereno como só Nossa Senhora sabe cuidar do "pó d'arroz dela"!
Não seria impossível ela estar viva até hoje, até porque o sangue dela ainda lhe corre nas veias, o rosto rosado pode ser visto por qualquer visitante do santuário (Lourdes-France) na redoma de vidro onde ela se encontra actualmente.
Nota do Autor: Texto Extraído do Meu Livro “Crônicas da Emigração”
Silvino dos Santos Potêncio, nascido a 04/11/1948, é natural da Aldeia de Caravelas no Concelho de Mirandela – Trás-Os-Montes - Portugal.
Este Autor tem centenas de crônicas, algumas já divulgadas sob o Título genérico de “Crônicas da Emigração”. Algumas destas crônicas são memórias dos meus 57 anos na Emigração foram incluídas nos Blogs que todavia estão inacessíveis devido ao bloqueio do Portugalmail.pt, porém algumas foram já transcritas para a Página Literária.
Presidente Fundador do Clube Português de Natal e Membro activo de várias páginas em jornais virtuais ligados ao Mundo da Lusofonia.
01 – POEMAS DE ANGOLA – “Eu, O Pensamento, A Rima!...”
02 – E-Book (Livro Electrônico): “UM CONVITE P’RA TOMAR CHÁ”
03 - CURRIÇAS DE CARAVELAS- TROVAS COMENTADAS é uma Antologia que contém Trovas e Textos Auto Biográficos da Aldeia Transmontana.
São livros da minha autoria já prontos para Edição e publicação brevemente.
Actualmente mantenho uma página literária própria, como Emigrante Transmontano em Natal/Brasil, no Portal Recanto das Letras.
O sitio do Escritor Silvino Potêncio www.silvinopotencio.net está aberto a visitas de todos os leitores de Lingua Portuguesa. Conta já com mais de 56.000 visitantes à data actual.
Muito grato pela Atenção e receba um Forte e Fraterno Abraço.
Endereço atual para contato:
Silvino Potencio
Rua Maçaranduba Nº 7838 – Bairro Pitimbu – Conjunto Cidade Satélite
59067-610 – NATAL – BRASIL
Email: sspotencio@yahoo.com.br
SKYPE: sspotencio
www.silvinopotencio.net
Obrigado ao Amigo e Co Provinciano Henriue Martins pela divulgação dos meus escritos! Em especial estes que dizem respeito à Emigração Transmontana.
ResponderEliminarUm abraço a todos(as) e até breve!
Silvino Potêncio
Caro amigo Silvino.
ResponderEliminarDisponha, o blog está às suas ordens.
Grande abraço.
Henrique Martins