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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Portugaba: a lição de Louboutin sobre como valorizar os artesãos portugueses

O criador francês lançou a Portugaba, uma mala inspirada no trabalho dos artesãos portugueses. Na apresentação em Portugal, na passada quinta-feira, em Lisboa, até a artista de burlesco Dita von Teese esteve presente.

No interior, pequenos teares instalados com artesãos a trabalhar e do lado de fora toda a montra transformada numa representação da típica fachada lisboeta, com painéis de azulejos — em plena Avenida da Liberdade, em Lisboa –, na Fashion Clinic, uma loja de roupa de marcas de luxo, maioritariamente estrangeiras, sentia-se o orgulho na mestria artesanal portuguesa, no final da tarde de quinta-feira. O motivo: a apresentação em Portugal da Portugaba, a mala lançada recentemente por Christian Louboutin que é em si uma amálgama de técnicas e inspirações portuguesas.

Há mais de dez anos que Christian Louboutin divide o tempo entre Paris e Portugal, onde tem uma casa em Melides, na costa alentejana. No passado, criou uns sapatos com um pendente inspirado nos designs mais clássicos de filigrana, mas esta é a primeira vez que dá maior destaque às técnicas portuguesas. Para conceber a mala, o criador trabalhou em conjunto com uma série de artesãos portugueses, especializados em técnicas têxteis, como os puxados, ripados e picados. Para o evento de lançamento da mala — que está disponível em duas versões, com tons mais claros e mais escuros — convidou-os para estarem presentes na loja e demonstrar a forma como cada bocado da peça é trabalhado.

Ao lado das estantes que exibem o produto final, sentada ao tear, Marta Cruz demonstra a técnica de puxados que completam o painel da frente e do lado direito da mala (onde está o logótipo da marca). Trata-se de um efeito decorativo em que a trama é puxada por ganchos formando pequenas argolas, que conferem volume ao tecido. É mais típica do norte de Portugal e usada tradicionalmente para enfeitar têxteis de lar, como colchas e cortinas, explica. A técnica assemelha-se a uma outra também usada na mala — no painel do lado esquerdo —, a dos ripados. “Tecnicamente é basicamente a mesma”, explica ao PÚBLICO a artesã com atelier em Amarante. Sendo que nos ripados tipicamente são feitos desenhos mais simétricos, não tão livres quanto os dos puxados, acrescenta.

Em frente, noutro tear, Guida Fonseca mostra a técnica que adorna o lado oposto da mala, um “derivado de uma das estruturas fundamentais da tecelagem — a sarja”. “Não se pode dizer que seja especificamente português. É universal”, refere. Por cá, é utilizado em várias zonas do país, incluindo no norte. Para a especialista os exemplos “mais ricos” encontram-se nos Açores. 

Recentemente viajou até às ilhas para dar formação nesta técnica. Apesar de se estar a perder, a artesã observa que muitas pessoas novas estão a querer aprender. Já Marta Cruz refuta, dizendo que actualmente é pouca a produção de puxados, lamentando haver poucos jovens interessados. Aos 38 anos, afirma que é uma das mais novas a exercer esta prática.


No lado contrário da loja, sentadas em bancos, três mulheres trabalham com tecidos e tesouras. Maria Suzana de Castro e as filhas, Sandra e Leopoldina, são artesãs especializadas no picado, uma técnica tradicionalmente aplicadas às capas de honra de Miranda do Douro — que serviam de “agasalho do rico agricultor”, explica Sandra. Com o picado, as artesãs, desenham com a linha. É um trabalho de mãos, feito sem a ajuda de um esboço para guiar. Depois recortam as partes que estão a mais, deixando uma margem a partir da linha. Na Portugaba, é sobreposta aos painéis principais, passando também pela parte de baixo.

A família tem uma loja em Sendim, onde vende peças com uma abordagem moderna da técnica. Têm uma diversidade de objectos — casacos, carteiras e almofadas, por exemplo — e, em vez dos tons de terra que eram predominantemente usados, as peças destacam-se pela cor.

De Portugal para Portugal

Sublinhado a importância dos artesãos, Louboutin explica que a mala surgiu da vontade de celebrar estas pessoas. Afirma também que no futuro “provavelmente” quererá desenvolver outro tipo peças a partir de técnicas portuguesas.



Como é que Portugal pode valorizar da mesma forma a riqueza cultural destas técnicas artesanais? “Acho que é preciso ter pessoas a supervisionar. Um lugar como este, a Fashion Clinic, poderia ajudar a qualidade e conhecimento da mestria artesanal neste país”, começa por responder o criador ao PÚBLICO. “As pessoas terem atenção ao que está a acontecer no seu próprio país. Deve vir de Portugal para Portugal”, continua. Para Louboutin as condições estão todas no país. “Provavelmente pode ser só preciso uma pessoa ou uma empresa a decidir assumir o lado empreendedor”, atira.

O francês cita ainda uma outra loja, a Vida Dura, em Melides, como um exemplo a seguir. “Começaram a trabalhar mais para lifestyle, coisas à volta de Portugal, e é interessante”. “As pessoas, numa pequena ou grande escala, já estão entusiasmadas por trabalhar com coisas do seu país. Porque há muito talento”, remata.

A Portugaba está à venda no site da Louboutin, por 1690 euros — um preço que não destoa daqueles que a marca francesa pratica. “Bom dia Portugaba”, lê-se na página inicial do site. O link leva-nos para uma página onde são apresentados os artesãos responsáveis pelas várias técnicas aplicadas na mala. Só no final há um botão que direcciona para a página onde a peça pode ser comprada. “Criada usando técnicas tradicionais e know-how local de artesãos, a Portugaba é a ode de Christian a Portugal”, lê-se. “Cada componente da mala foi feita meticulosamente à mão, o que significa que cada peça é única”. Além desta mala, o criador lançou também umas sandálias e umas sapatilhas com um design inspirado nos azulejos portugueses.
A artista de burlesco Dita Von Teese esteve presente no evento

A artista de burlesco Dita von Teese, amiga de Christian Louboutin, marcou presença no evento de apresentação, a convite do criador e aproveitou também para visitar a cidade. Esteve em Lisboa quando actuou na discoteca Lux, em 2003, recorda ao PÚBLICO. “Adoro a mala. Estava agora mesmo a ver como a fazem”, comenta, apontando para as artesãs que trabalham nos elementos inspirados na capa de honra de Miranda do Douro, e que a convidam a experimentar uma das peças de roupa que produzem na sua loja em Sendim, um casaco. Dita von Teese vestiu-o, sorriu, posou e agradeceu.


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