Naquele tempo, andando um casal a pedir esmola de povoado em povoado, por serem muito pobres, deram à luz um bebé do sexo feminino, a quem foi posto o nome de Maria de Pedro, servindo de padrinho S. Pedro, que andava pelo mundo.
Quando os pais morreram, ficou a jovem menina ao cuidado de S. Pedro. Seu padrinho se encarregou da sua educação. Este, temendo que ela fosse perseguida, resolveu trajá-Ia de rapaz. E aconselhou-a que não se desse a conhecer a ninguém, usando somente o nome de Pedro. Foi-lhe dado um emprego no palácio, onde ficou ao serviço do rei. Sendo um jovem muito digno, a rainha apaixonou-se por ele. Como não devia nem podia, retirou-se quanto pode. Esta tomou-lhe ódio e foi acusá-lo ao rei de ele ter dito que era capaz de ir buscar uma filha que eles tinham encantada na terra dos mouros. O rei aproveitou-se do oferecimento e disse: - Pois tem de ir, com pena de morte.
Ele foi tomar o parecer com S. Pedro, seu padrinho que lhe disse:
- Vais, pede-lhe os dois melhores cavalos da cavalariça, um para ti outro para ela, e dois presuntos que é para deitares a dois leões que te embargam a passagem na entrada do cerco. Deitas um à entrada, outra na saída, para se entreterem enquanto passas.
Os mouros, quando se virem sem o seu encanto, hão-de vir para te matar, mas levas três agulheiros que eu te dou. Este é de cinza que se forma em nevoeiro para atirar, quando te vires alcançado. Mas eles conseguem romper. Deitas este de agulhas que se forma silveiral, mas eles ainda conseguem. Deitas este de água que formará um rio, e então ficas salvo.
Chegou à entrada. Lá estavam os dois leões. Deitou-lhe um presunto e passou.
Quando chegou ao destino, ela já esperava e montou no cavalo que ia destinado. À saída lá estavam os leões. Deitou-lhe o outro presunto e passaram. Quando se viu alcançado pelos mouros, deitou-lhe o agulheiro de cinza que se formou em nevoeiro, e adiantaram jornada. Mas quando se viram outra vez alcançados, deitou outro de agulhas que formou silveiral. Mas, como conseguiram alcançá-los outra vez, deitou o de água que formou um rio. Então ficaram livres.
Quando caminhavam, a princesa exclamou:
- Ai! douros! Ai! douros!
Mais adiante, outra vez: - Ai! delas! Ai! delas!
Já perto do palácio outra vez: - Ai! dragão! Ai! dragão!
E não falou mais.
A rainha, com o ódio que tinha ao Pedro, foi de novo acusá-lo ao rei, que era capaz de fazer falar a filha. Então o rei disse que tinha de o fazer, com pena de morte.
Voltou à presença do S. Pedro seu padrinho, e contou-lhe o que se passava. S. Pedro afirmou:
- Pede para mandar construir um palácio em frente ao outro, com três patins. Quando estiver tudo pronto, pegas-lhe na mão e levas a princesa ao primeiro patim, e perguntas o que significavam aquelas frases: Ai! douros! Ai! douros! Sobes o segundo patim, e perguntas o que queria dizer: Ai! delas! Ai! delas! De novo no terceiro patim o que queria dizer: Ai! dragão! Ai! dragão! Nessa altura há-de falar. Aproximou-se a altura.
O rei deitou um decreto para toda a gente ouvir falar a filha, e chegou o dia.
Então seguiu as instruções do padrinho. Pegou-lhe pela mão, e levou-a ao primeiro patim, e perguntou:
- Quando vínhamos a caminho dos mouros, gritaste: Ai! douros! Ai! douros! o que queriam dizer aquelas palavras?
Ela respondeu: - Porque já me via livre dos mouros. No segundo patim, mais à frente, outra vez: Ai! delas! Ai! delas! Que querias dizer com isso?
- Porque em cima do cavalo de meu pai vinham duas meninas donzelas.
No terceiro patim e já perto do palácio, outra vez: Ai! dragão! Ai! dragão! Que querias dizer com isso?
- É, que, se tu fosses homem, já meu pai era cabrão.
Então o rei expulsou a rainha e casou com a Maria de Pedra, que viveram felizes muitos anos.
RECOLHA (1985) de Adelino Augusto Fidalgo, Pai-Torto – Mirandela.
FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Na edição de 1985: ilustrações de José Amaro
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA
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(Henrique Martins)
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segunda-feira, 23 de setembro de 2019
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