Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

A HISTÓRIA DA BRANCA FLOR

Eram sete irmãs, embora fossem todas filhas do diabo, uma delas era Santa chamada Branca Flor. O diabo tinha um criado chamado Manuel que o ajudava em casa, fruto da convivência diária com as filhas, ele tinha um fraquinho pela Branca Flor, começando a namorar com ela. O diabo astuto começou a desconfiar do namorisco passando, então, a utilizar uma estratégia malévola para desanimar o rapaz, procurando que ele se fosse embora. Um dia o diabo desafiou o Manuel, perto da sua casa passava um rio com um caudal tão forte que metia medo ao mais valentão, o diabo mandou o Manuel a buscar o seu chapéu ao rio. Contudo, o rapaz ao perceber-se que não iria conseguir superar o desafio, começou a planear a fuga da casa do patrão. No entanto, Branca de Neve saiu-lhe ao caminho e perguntou-lhe:
- Onde vais Manuel?
Ele respondeu contando-lhe o que o seu pai lhe tinha pedido e como não se sentia capaz, ia-se embora desgostoso por a deixar a ela. Mas Branca Flor não o deixou ir embora, dando-lhe remédio para o desafio com o diabo:
- Vais ter com o meu pai e dizes-lhe que estás disposto a responder ao desafio, nada de mal te vai acontecer, porque eu trato de tudo para que vás ao rio e regresses.
O rapaz voltou para trás e foi ter com o patrão, este ao vê-lo disposto a ir ao rio esfregou as mãos pensando que se ia livrar dele. O diabo atirou o chapéu ao rio e o rapaz foi ao seu enlace, o diabo ao vê-lo entrar naquele caudal de água tão furioso, considerou o rapaz perdido. Mas saiu-lhe o plano furado, quando o viu sair das águas com o seu chapéu, aproximando-se logo dele inquirindo-o: - Estiveste com Branca Flor?
- Se eu vi Branca Flor ou se Branca Flor me viu a mim Deus me valha agora aqui.
O Diabo ao ouvir o nome de Deus deu um grande estouro e vociferou:
- Aqui não se fala em Deus, quem manda aqui é o Diabo.
O Diabo não parou de maquinar maldades para fazer com que o rapaz se fosse embora. Chamou o criado e mandou-o buscar um carro de lenha da mais direitinha que encontrasse, quando o Manuel ia a sair com a carroça apareceu Branca Flor que lhe perguntou onde ia, ao que ele respondeu:
- O teu pai mandou-me ir cortar lenha da mais direitinha, mas não sei onde a hei-de encontrar.
Logo Branca Flor o descansou mandando-o a determinado monte cortar lenha no pinheiral do diabo, ao apresentar a lenha ao seu patrão ele voltou a perguntar-lhe admirado: - Estiveste com Branca Flor?
- Se eu vi Branca Flor ou se Branca Flor me viu a mim Deus me valha agora aqui.
O diabo de novo vociferou ao ouvir o nome de Deus, mesmo assim não se dava por vencido na sua malvadez, desafiando de novo o rapaz a ir buscar mais um carro de lenha, mas desta vez da mais torta que encontrasse. O Manuel estava a pensar na ordem do patrão quando encontrou Branca Flor, que ao ouvir a nova ordem do pai mandou o Manuel arrancar lenha da vinha que era da mais torta que havia. O rapaz assim fez, ficando o diabo de novo furioso ao ver o serviço feito, perguntando-lhe também se tinha estado com a filha ao que o rapaz lhe deu a mesma resposta de sempre, deixando o diabo ainda mais furioso. O diabo furioso lançou-lhe mais um quebra-cabeças: - Vais arrasar aquele cabeço, plantas lá vinha e à noite trazes-me uma garrafa de vinho dessas uvas.
O rapaz não tinha como responder a esta exigência absurda, mas mesmo assim obedeceu porque confiava em Branca Flor que o ajudaria a resolver o problema.
Depois dos dois se encontrarem e do Manuel contar o pedido do pai dela, foram os dois para o cabeço, onde Manuel deitou a sua cabeça no colo de Branca Flor. O Manuel ao acordar encontrou o serviço feito, obra de Branca Flor, regressando os dois a casa com a missão cumprida. O diabo admirou-se com tamanha façanha de Manuel e volveu-lhe a mesma pergunta: - Estiveste com Branca Flor?
O rapaz respondeu do mesmo modo e mais uma vez o Diabo não gostou. O diabo não parando de maquinar esquemas para expulsar o rapaz, mandou-o desta vez construir um muro de tábuas de mais de dois metros de altura, pedindo que deixasse a meio uma frincha por onde pudessem caber os dedos das mãos. Depois chamou as filhas e mandou que metessem os dedos naquela frincha, para que o Manuel do outro lado identificasse os dedos de Branca Flor. Só que antes de irem para lá, ele e Branca Flor encontraram-se combinando um sinal de identificação:
- Vês neste dedo este sinal, já sabes depois que estes são os meus dedos.
Ao começar o teste o rapaz logo se deu conta onde estava Branca Flor, mas não se deu por achado vendo com cuidado todos os dedos, identificando no final Branca Flor. Considerando-se merecedores da astúcia do diabo, resolveram fugir para este não submeter o Manuel a mais trabalhos árduos. Branca mandou Manuel aparelhar o cavalo mais magrinho que encontrasse, mas ao chegar junto dos cavalos considerou que o mais magrinho não teria resistência para os levar e aparelhou outro. Entretanto Branca Flor deixou preparado no seu quarto uma tigela de saliva, esta ia respondendo pela vez da filha ás chamadas do pai. Entretanto Branca Flor e Manuel fugiram cavalgando a toda a velocidade durante toda a noite. Logo de manhã o diabo procurou pela filha e ao não encontrá-la, ao descer à loja dos cavalos e ao verificar o cavalo que fugira, montou de imediato noutro cavalo para ir na peugada dos dois fugitivos. Ao avistá-los ao longe Branca Flor concluiu:
- Já ai vem o meu pai à nossa procura, tu em vez de aparelhares este cavalo que só foge como o vento devias ter aparelhado o cavalo que foge como o pensamento, e assim não nos teria alcançado. Mas vamos resolver esta situação, toma lá este punhado de areia, atira-o para trás de ti. Ele obedeceu e logo se formou uma mata muito densa que o rapaz não foi capaz de romper, tendo que voltar para trás. Ao chegar a casa disse à mulher que não tinha conseguido alcança-los porque se formou uma mata muito densa, a mulher incitou-o para voltarem os dois à procura da filha. Ao avistar o pai e a mãe, Branca Flor combinou com o Manuel uma maneira de se disfarçarem:
- Paramos já aqui, o cavalo vai-se transformar numa ponte, eu faço-me numa capela e tu ficas aqui a tocar no sino. Eles vão chegar perto de ti e perguntar se não viste passar dois num cavalo, tu continuas a tocar no sino e a dizer que está na hora da missa.
Ao chegar ao local o diabo cansou-se de ouvir a resposta e virou-se para a mulher:
- Anda vamos embora que ele é maluco e não diz nada de jeito.
Logo que o diabo e a mulher viraram costas, a Branca Flor voltou a ser o que era, o cavalo também e tomaram o caminho a galope, até chegarem à cidade de Berlim, vivendo aí felizes para sempre.

RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localização geográfica: PAÇO DAS MÓS – ORIGEM + 60 anos.

FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Na edição de 1985: ilustrações de José Amaro
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA

Sem comentários:

Enviar um comentário