Eram sete irmãs, embora fossem todas filhas do diabo, uma delas era Santa chamada Branca Flor. O diabo tinha um criado chamado Manuel que o ajudava em casa, fruto da convivência diária com as filhas, ele tinha um fraquinho pela Branca Flor, começando a namorar com ela. O diabo astuto começou a desconfiar do namorisco passando, então, a utilizar uma estratégia malévola para desanimar o rapaz, procurando que ele se fosse embora. Um dia o diabo desafiou o Manuel, perto da sua casa passava um rio com um caudal tão forte que metia medo ao mais valentão, o diabo mandou o Manuel a buscar o seu chapéu ao rio. Contudo, o rapaz ao perceber-se que não iria conseguir superar o desafio, começou a planear a fuga da casa do patrão. No entanto, Branca de Neve saiu-lhe ao caminho e perguntou-lhe:
- Onde vais Manuel?
Ele respondeu contando-lhe o que o seu pai lhe tinha pedido e como não se sentia capaz, ia-se embora desgostoso por a deixar a ela. Mas Branca Flor não o deixou ir embora, dando-lhe remédio para o desafio com o diabo:
- Vais ter com o meu pai e dizes-lhe que estás disposto a responder ao desafio, nada de mal te vai acontecer, porque eu trato de tudo para que vás ao rio e regresses.
O rapaz voltou para trás e foi ter com o patrão, este ao vê-lo disposto a ir ao rio esfregou as mãos pensando que se ia livrar dele. O diabo atirou o chapéu ao rio e o rapaz foi ao seu enlace, o diabo ao vê-lo entrar naquele caudal de água tão furioso, considerou o rapaz perdido. Mas saiu-lhe o plano furado, quando o viu sair das águas com o seu chapéu, aproximando-se logo dele inquirindo-o: - Estiveste com Branca Flor?
- Se eu vi Branca Flor ou se Branca Flor me viu a mim Deus me valha agora aqui.
O Diabo ao ouvir o nome de Deus deu um grande estouro e vociferou:
- Aqui não se fala em Deus, quem manda aqui é o Diabo.
O Diabo não parou de maquinar maldades para fazer com que o rapaz se fosse embora. Chamou o criado e mandou-o buscar um carro de lenha da mais direitinha que encontrasse, quando o Manuel ia a sair com a carroça apareceu Branca Flor que lhe perguntou onde ia, ao que ele respondeu:
- O teu pai mandou-me ir cortar lenha da mais direitinha, mas não sei onde a hei-de encontrar.
Logo Branca Flor o descansou mandando-o a determinado monte cortar lenha no pinheiral do diabo, ao apresentar a lenha ao seu patrão ele voltou a perguntar-lhe admirado: - Estiveste com Branca Flor?
- Se eu vi Branca Flor ou se Branca Flor me viu a mim Deus me valha agora aqui.
O diabo de novo vociferou ao ouvir o nome de Deus, mesmo assim não se dava por vencido na sua malvadez, desafiando de novo o rapaz a ir buscar mais um carro de lenha, mas desta vez da mais torta que encontrasse. O Manuel estava a pensar na ordem do patrão quando encontrou Branca Flor, que ao ouvir a nova ordem do pai mandou o Manuel arrancar lenha da vinha que era da mais torta que havia. O rapaz assim fez, ficando o diabo de novo furioso ao ver o serviço feito, perguntando-lhe também se tinha estado com a filha ao que o rapaz lhe deu a mesma resposta de sempre, deixando o diabo ainda mais furioso. O diabo furioso lançou-lhe mais um quebra-cabeças: - Vais arrasar aquele cabeço, plantas lá vinha e à noite trazes-me uma garrafa de vinho dessas uvas.
O rapaz não tinha como responder a esta exigência absurda, mas mesmo assim obedeceu porque confiava em Branca Flor que o ajudaria a resolver o problema.
Depois dos dois se encontrarem e do Manuel contar o pedido do pai dela, foram os dois para o cabeço, onde Manuel deitou a sua cabeça no colo de Branca Flor. O Manuel ao acordar encontrou o serviço feito, obra de Branca Flor, regressando os dois a casa com a missão cumprida. O diabo admirou-se com tamanha façanha de Manuel e volveu-lhe a mesma pergunta: - Estiveste com Branca Flor?
O rapaz respondeu do mesmo modo e mais uma vez o Diabo não gostou. O diabo não parando de maquinar esquemas para expulsar o rapaz, mandou-o desta vez construir um muro de tábuas de mais de dois metros de altura, pedindo que deixasse a meio uma frincha por onde pudessem caber os dedos das mãos. Depois chamou as filhas e mandou que metessem os dedos naquela frincha, para que o Manuel do outro lado identificasse os dedos de Branca Flor. Só que antes de irem para lá, ele e Branca Flor encontraram-se combinando um sinal de identificação:
- Vês neste dedo este sinal, já sabes depois que estes são os meus dedos.
Ao começar o teste o rapaz logo se deu conta onde estava Branca Flor, mas não se deu por achado vendo com cuidado todos os dedos, identificando no final Branca Flor. Considerando-se merecedores da astúcia do diabo, resolveram fugir para este não submeter o Manuel a mais trabalhos árduos. Branca mandou Manuel aparelhar o cavalo mais magrinho que encontrasse, mas ao chegar junto dos cavalos considerou que o mais magrinho não teria resistência para os levar e aparelhou outro. Entretanto Branca Flor deixou preparado no seu quarto uma tigela de saliva, esta ia respondendo pela vez da filha ás chamadas do pai. Entretanto Branca Flor e Manuel fugiram cavalgando a toda a velocidade durante toda a noite. Logo de manhã o diabo procurou pela filha e ao não encontrá-la, ao descer à loja dos cavalos e ao verificar o cavalo que fugira, montou de imediato noutro cavalo para ir na peugada dos dois fugitivos. Ao avistá-los ao longe Branca Flor concluiu:
- Já ai vem o meu pai à nossa procura, tu em vez de aparelhares este cavalo que só foge como o vento devias ter aparelhado o cavalo que foge como o pensamento, e assim não nos teria alcançado. Mas vamos resolver esta situação, toma lá este punhado de areia, atira-o para trás de ti. Ele obedeceu e logo se formou uma mata muito densa que o rapaz não foi capaz de romper, tendo que voltar para trás. Ao chegar a casa disse à mulher que não tinha conseguido alcança-los porque se formou uma mata muito densa, a mulher incitou-o para voltarem os dois à procura da filha. Ao avistar o pai e a mãe, Branca Flor combinou com o Manuel uma maneira de se disfarçarem:
- Paramos já aqui, o cavalo vai-se transformar numa ponte, eu faço-me numa capela e tu ficas aqui a tocar no sino. Eles vão chegar perto de ti e perguntar se não viste passar dois num cavalo, tu continuas a tocar no sino e a dizer que está na hora da missa.
Ao chegar ao local o diabo cansou-se de ouvir a resposta e virou-se para a mulher:
- Anda vamos embora que ele é maluco e não diz nada de jeito.
Logo que o diabo e a mulher viraram costas, a Branca Flor voltou a ser o que era, o cavalo também e tomaram o caminho a galope, até chegarem à cidade de Berlim, vivendo aí felizes para sempre.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localização geográfica: PAÇO DAS MÓS – ORIGEM + 60 anos.
FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Na edição de 1985: ilustrações de José Amaro
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA
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A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)
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