"Até à data, o ano tem sido proveitoso para a apanha de diversas espécies de cogumelos. A chuva tem sido suficiente e pelos campos já se encontram belos exemplares de diversas espécies de cogumelos, com destaque para os róculos (Macrolepiota procera)", disse à Lusa o presidente da Associação Micológica A Pantorra, Manuel Moredo.
A antevisão é feita numa altura em que se prepara o 21.º Encontro Micológico Transmontano, um dos mais antigos do país, que se realiza em Mogadouro, no distrito de Bragança, a partir de sexta-feira e até domingo.
"O encontro micológico deste ano está a exceder as expectativas, tudo porque de ano para ano as pessoas veem neste tipo de iniciativa ao ar livre uma forma de desfrutar das paisagens transmontanas e de conhecer de perto o mundo dos cogumelos, que cada vez se torna mais apaixonante", frisou o micólogo.
A organização do encontro micológico é da responsabilidade do município de Mogadouro e daquela associação, entidades que este ano escolheram como tema central os avanços da ciência para combater as intoxicações provocadas por algumas espécies de cogumelos, como o tóxico Amanita phalloides.
Assim, para a tarde de sábado estão agendadas duas palestras, sendo que uma é subordinada ao tema "Avanços promissores na terapêutica da intoxicação por Amanita phalloides", proferida pela investigadora da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Juliana Garcia.
A segunda palestra, a cargo da Ana Afonso, investigadora do Instituto Politécnico de Bragança, tem como central “O Shiitake (Lentinula edodes) eficaz contra isolados bacterianos multirresistentes?"
Este evento reúne todos os anos dezenas de pessoas, entre médicos, biólogos, investigadores, farmacêuticos, académicos e curiosos da micologia.
"Estas comunicações serão apresentadas por investigadores que se dedicam ao estudo de várias espécies de cogumelos, com incidências nos mais tóxicos", indicou Manuel Moredo.
No caso do Amanita phalloides, espécie para a qual foi descoberto um antídoto para as intoxicações, por parte de investigadores da Universidade do Porto que conseguiram uma sobrevivência de 100% em animais de laboratório, no encontro serão apresentadas novidades.
Como o outono é tempo de cogumelos, os especialistas que os estudam alertam para "os perigos escondidos" associados a esta "comida de risco", devendo ter-se em conta que estes fungos só devem ser recolhidos por quem conhece e estuda as diversas espécies.
Segundo os investigadores da associação micológica sediada em Mogadouro, o potencial dos cogumelos silvestres aumenta de ano para ano em Trás-os-Montes, como consequência da identificação pelos especialistas de um maior número de espécies comestíveis e rentáveis do ponto de vista comercial.
Só a associação A Pantorra já identificou mais de 400 espécies de cogumelos no Nordeste Transmontano nos últimos 21 anos, mas os seus especialistas estão convencidos que há muitas mais por identificar, um trabalho que os micólogos continuam a fazer tanto no Nordeste Transmontano como na província espanhola de Castela e Leão, territórios com características semelhantes.
"Temos de continuar a fazer este trabalho de identificação das espécies e atualizar os guias de campo já existentes", justificou Manuel Moredo.
Frades, setas dos pinhos, setas de cardo, boletos, repolgas ou míscaros são, nesta altura do ano, dos fungos mais procurados pelos apreciadores na região do Interior Norte e Centro.
Foto: AP
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