Bom dia, fala a Selma!

Deste modo, é a maneira lógica e “mecanizada” com que sou atendido quando mando vir um churrasco com entrega ao domicílio. O nome, de quem me atende, vai mudando conforme o dia da semana e a hora.

Muitas vezes o nome que me é apresentado é outro. Mas Selma, talvez pela originalidade ou raridade, ficou-me na “retina”: 

- Quero fazer uma encomenda:

 - Paga em dinheiro ou com cartão?
Depois seguem-se os trâmites que levam a que o churrasco chegue a casa e, normalmente, nos deleite. Nunca, jamais em tempo algum, se anteciparam ao meu pedido. A pergunta era sempre:
- O que vai ser?

Hoje, 10 de Junho de 2022, mandei vir um churrasco.

Bom dia, fala a Selma.
Não sei por que motivo, talvez inspirado pelo Nosso Dia, o Dia dos Portugueses, quebrei o formalismo:

- Bom dia amiga Selma:

- Bom dia Sr. Henrique:
- Vai ser o menu 3?
- Sim… (não me deixou continuar)… e “desbobinou” o (meu) menu 3:
- … Sem salchichas, uma de batatas fritas e uma salada sem tomate e para beber Ice Tea…
- Certo, Selma. Obrigado, prazer em ouvi-la e bom fim-de semana:
- Obrigado e igualmente, Sr. Henrique, bom fim-de-semana.

Como sou da velha-guarda, habituei-me a ter sempre um gesto de gratidão, ter uma atenção, a quem me presta um serviço, dar uma gorjeta. Claro que pouco mais que simbólica, mas que dê para um cafezito.
Com os recentes aumentos de tudo e para quase todos e numa reação, não direi intempestiva, mas de irritação, tinha deixado de dar gorjetas há uns dias. 

Enquanto tirava a louça da máquina de lavar e esperava pelo churrasco, pensei…, ora essa, que culpa tem esta rapaziada da guerra, da inflação e da estupidez dos homens.  NENHUMA!
Fui buscar o suficiente para um cafezito e juntei ao dinheiro que já tinha na mesita de entrada para pagar a entrega.
Tocou a campainha:
- Sim:

 - Entrega.
Por acaso já conhecia o jovem. Um dos vários que já tinha vindo aqui.
Peguei na encomenda, paguei, disse-lhe que a diferença era para um cafezito…  e ele diz-me:
- Obrigado Sr. Henrique, bom apetite e bom fim-de-semana.
… Tratou-me pelo nome… e pela primeira vez!

Parece-me evidente que a Selma (que não conheço) retribuiu a maneira, talvez mais simpática com que quebrei “o gelo” da encomenda do churrasco.
Porque razão escrevi isto e ao correr da pena?
Parece-me que não é necessário seguirmos os “velhos paradigmas”. Não é preciso lermos e absorvermos os ensinamentos dos grandes mestres e pensadores.
Por vezes, quase sempre, é melhor seguirmos a nossa própria intuição. Já não sou um número de telefone, sou o Sr. Henrique.

Bom fim-de-semana SELMA!

HM