Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 14 de junho de 2022

Terceiro acto das recordações da minha rua

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Reato a narrativa a partir da casa que foi a do Prof. Maximino, já que foi ele quem mais tempo lá viveu. Foi excelente professor, vizinho de fino trato e de relação convivial educadíssima. Não falarei de minudências, direi apenas que foi um bom vizinho a quem a garotada respeitava.
E agora vamos entrar na secção alta da Caleja.
Se traçarmos uma linha horizontal a partir da casa do Prof. Maximino no lado oposto está a casa da Senhora Cecília, que tinha três filhas e um rapaz. Boa gente que deixei de ver há muitos anos e de quem guardo boas memórias. Eram pessoas de trato fino e bons vizinhos que por força do derrube da sua casa pelo camartelo deixamos de ver.
A casa que estava colada a esta era também uma referência pela qualidade dos seus moradores, a saber: Senhor Zezão e tia Belizanda. Eram peixeiros com banca no Mercado. Gente que quando nasci já viviam na Caleja. Penso que eram ambos de Chaves, mas eram considerados como sendo de Bragança' e dos bons. Aliás, já contei a história do Alfredo que era também de Chaves e também de primeira qualidade. Tinha este casal uma forma de estar particular. Havia em sua casa sempre alguém da sua família que chegava e depois de pouco tempo era como se fossem das nossas gentes. Refiro-me a duas particularmente, irmãs e que a garotada e os adultos adoravam: A Aida e a Florinda.
Todos em Bragança as conheciam com moças airosas, honestas e trabalhadeiras. Vi há tempos a Florinda, ela reconheceu-me e eu quando concluí quem era, abracei-a e ambos chorámos lágrimas de regozijos e boas lembranças. Terei oportunidade de falar desta casa noutra crónica em que focarei mais a atenção na particularidade desta amizade.
Do lado oposto, esquerdo ascendente, vivia no rés-do-chão o Senhor Adriano Chamorro e a Senhora Irene, pais do Aquiles Pereira, que esteve em Angola e regressou e foi Chefe de aprovisionamentos no Hospital Distrital, teve encargo na Assembleia Municipal e vive hoje em Leiria, creio.
Não especificarei muito, digo apenas que esta família que tinha ramos vários na Caleja era gente fina que eu sempre considerei como meus familiares. Posteriormente mudaram-se para o Largo Capitão Adriano Pires à Polícia/Governo Civil e ocupou o baixo o Senhor Manuel Ferrador e Senhora Lucinda, que eram progenitores do Licínio, Rui e Isabel. Direi apenas que o Rui Fernandes foi um grande amigo meu e que faleceu recentemente. Foi marido da Fatinha do Petra, que é como ele grande amiga minha.
Na parte média deste prédio que tinha três residências distintas morava o Senhor Toninho Cantoneiro, sua esposa D. Luísa e as suas três filhas, Helena, Beatriz e Olga.
O que vou dizer agora? É difícil explicar sentimentos que nos calam fundo. A amizade que há entre esta gente, país, filhas e eu próprio ou com os meus familiares diretos é apenas algo que começou quando eu comecei a ter entendimento e que durará até ao final se Deus o permitir. O mesmo terei de dizer daqui para cima e não seria justo se o mesmo não dissesse para baixo da linha horizontal que tracei acima da casa do Prof. Maximino.
A partir deste momento será de confessar que não posso ser piegas porque homem não chora e eu estou a atingir o limite e creio que vou chorar. Não de tristeza ruim, mas de melancolia pelo que está para trás, que não foi tido em conta durante décadas, mas que ressurge agora envolto num manto diáfano de melancolia. A minha herança verdadeira, não palpável, não material, mas algo que me está no sangue e que a razão preservou para me fazer sentir gente: o amor e a lealdade às minhas raízes. Não vale a pena o egoísmo a inveja ou outros pecados mortais ou venais, também a vaidade é má, mas é bom ter raízes e senti-las e encarar os outros como irmãos e como iguais é bom, porque é ser humano, leal e verdadeiro. E continuo a enumeração das casas e famílias: somos tantos do risco para cima que tenho medo de me esquecer de alguém.
Assim por cima do Sr. Toninho Cantoneiro viviam o Senhor João António e a Senhora Violante com a prole que já no meu tempo tinham filhos casados da idade dos meus irmãos mais velhos. A Senhora Violante e marido eram avós do Professor Carlos Gonçalves e do Veríssimo que morava por detrás do Velho Campo de futebol no Toural. Era leiteira e uma cópia da Padeira de Aljubarrota, uma mulher portuguesa que fez história pela verticalidade do seu trato com hispanos e araganos. Alguém de quem os descendentes se podem orgulhar.
No apartamento ao lado vivia a família Silvano. Quando nasci já o patriarca era falecido. Os filhos mais velhos eram muito mais velhos do que eu, mas recorda-me bem deles, também porque eles vieram algumas vezes a Portugal de férias e era uma festa quando chegavam porque naquele tempo a viajem era longa. As três mulheres, mãe e duas filhas eram como se fossem família nossa. A Zita e a Marília quando regressaram de Angola e foram morar para as Moreirinhas, eu ia visitá-las pois eram duas amigas das mais chegadas à minha família e eu tinha por elas um amor fraternal muito para além das simples simpatias que nutrimos pelas pessoas que conhecemos do dia a dia.
Lado direito de quem sobe era a casa da tia Maria Calcada e do seu marido Sr. João Calcada que trabalhava na Moagem Mariano. Este casal tinha também muitos filhos e filhas todos mais velhos do que eu. Era o Lelé, o Fernando, a Elisa a Dinora e também um mais velho que era marinheiro e que era amicíssimo do meu pai. Chamavam -lhe Lobato que era o apelido da família. Casou com uma senhora algarvia que era um encanto de mulher, linda, bem-disposta e que sabia estar fosse qual fosse a situação. Não recordo o nome mas era algo parecido com Sabina. Viviam em Arsenal do Alfeite e algumas vezes fui com o meu pai almoçar a sua casa. Era um espanto o esmero nas coisas e na educação. Perdi o contacto mas gostaria de ver de novo esta gente.
Devo dizer que na casa que era dos pais do Lobato morou anos depois a Tia Constância doceira, cozinheira, mulher de armas que fez milhentos casamentos para os quais confecionava carnes peixes e doçarias de qualidade que a fizeram famosa. Vivia com a filha e netos que eram mais ou menos da minha idade e dos quais fui grande amigo. Todos morreram já.
Na casa acima morou a Senhora Otília e o marido mais o filho, o meu amigo Prof. Carlos Gonçalves. A casa acima desta, do lado direito ascendente era a casa onde no rés-do-chão vivia o Sacho o homem que mais me impressionou, pois jamais o vi ser ajudado por alguém ou pedir ajuda fosse a quem fosse. Entrava, fechava a porta e era como se a luz houvesse sido banida do espaço circundante...  Em cima vivia a tia Áurea, os filhos Lito, Duarte e Antónia que casou com o António Micho e fizeram um lar com amor luta e mantiveram sempre o bom feitio que os filhos (as) herdaram. O António Micho já faleceu e a Antónia, vive com os filhos em França. 
Lado oposto Casa da família Borges de Vinhais. Creio que a Madalena já nasceu em Bragança, mas sem certeza. Indagaremos. O Sr. Artur e a Senhora Alice vieram de Vinhais trabalhar no Mercado de Bragança que era a sua atividade principal, o Tio Artur fazia às vezes outros trabalhos mas o principal era a venda de legumes no Mercado. Tinham muitos filhos e filhas e vou nomeá-los a todos pois as pessoas devem pensar quanta canseira e trabalho sem horário não foi preciso para criar esta prole. A saber: - Américo, Maria, Adérito, Ermelinda, Nair, Zé, Albertina, Dulce, Madalena e Fernando. Não me parece que falte algum. Contas feitas são 10 filhos com idades que entre o mais Velho e o mais novo de haver mais de 20 anos de diferença. Quanto trabalho, quanta canseira para criar todos eles de cabeça erguida e creio que todos estudaram. Continuamos todos amigos como no tempo áureo.
A casa era a que refiro em crónicas anteriores que tinha o jardim em frente da minha janela. Deste lado não havia mais casas. Começava uma rampa que subia até ao 30.
Mais tarde fizeram umas escadas de cimento e puseram uma bica/torneira de água à ilharga e foi com a água desta torneira que eu e o meu irmão Marcelo regámos milhentas vezes o quintal. Inverto agora a sequência e refiro a casa e os moradores da última da Caleja do Forte.
Era a casa do tio Alberto Mirandela e tia Cândida, a Mirandela. Tinham dois filhos, Manuel e Carlos. Já eram casados quando eu nasci. O tio Alberto era pintor e artífice de artesanato de qualidade mediana +. Gente reservada e um pouco esquiva, mas boa gente no final. Não creio que fossem de Mirandela, pois o modo de vestir da Senhora era mais minhoto ou de Entre-Douro e Minho e o feitio seria tudo menos transmontano.
A seguir, por ordem descendente viveu a tia Mónica e o seu Albertino. Já falei deste casal que eram os mais pobres de bens materiais mas os mais ricos de sentimentos e nobreza. Que Deus os guarde. A seguir era a nossa casa.
Direi apenas que o Tio Luís Bombadas era um homem bom e que a tia Maria Augusta sua esposa foi a mãe dos seus onze filhos, nove sobrevivos e dois falecidos crianças. Conhecido por Luís Bombadas viveu uma vida de homem trabalhador e foi um bragançano dos que amaram a sua cidade. Minha mãe, bem, era minha mãe.
Na casa de baixo morou primeiro o Senhor Manuel Chamorro (Pereira) e sua mulher, Senhora Ilda, já não tinham filhos em casa quando eu nasci. Era uma mulher de outra galáxia a tia Ilda, mãe de prole de número largo, teve netos tantos como as estrelas. Nunca a vi maldisposta e recordo com saudade aquelas noites cálidas de Verão em que as mulheres mais velhas se sentavam à porta ao fresco e a garotada saltava e gritava como macaquinhos de contentes e a Tia Ilda serena a fazer renda sentada no cano que lhe servia de assento, soltava um traque sonoro e a minha mãe que vinha descendo as escadas lhe dizia: Bom tempo. E a tia Ilda respondia: Um para vir chuva, dois para vir vento, três para vir bom tempo. E eu pensava, Será? Que tempo e que rua aquela!
Quando foram para África para junto dos filhos a Caleja ficou mais pobre porque a tia Ilda era quem era e pronto. Tomou lugar o seu filho Joaquim e a Senhora Maria Luísa mais os filhos, gente hoje bem conhecida em Bragança, que na pessoa do mais velho com sentido de missão tem demonstrado quem são os eleitos para gerir a coisa pública. O Manuel Pereira é filho da Senhora Maria Luísa Reigadas Pereira que tem obra feita que honra a cidade onde nasceu e foi educado e honra a sua mãe, o seu pai, família e a todos os nascidos na Caleja que foram seus parceiros de infância e juventude. Bem hajas, Manuel.
Entre a tia Maria Luísa e a Tia Ilda e o Tio Miguel estava a casa da minha madrinha velha, mãe da minha cunhada Lurdinhas Tia Cremilde. Viveu lá até morrer tendo continuado a minha cunhada e o meu irmão Armando a viverem lá.
Todos conheceram o Armando Bombadas e não me ficará bem a mim fazer elogios à família. Digo apenas que nessa casa viveu bastantes anos o meu querido irmão mais velho Armando Edgar dos Santos, o Bombadas.
Finalmente aparece a casa do Tio Miguel Chamorro Pereira e sua mulher tia Ilda Pireta. Era a casa da Figueira e dos irmãos e amigos, Álvaro, Nuno, Manuel e Frederico, que eram gente boa mais que quantas. Um dia falarei deles. 
Termino aqui, recomeçarei um dia, outro pois já sinto cansaço.



Bragança, 08/06/2022
A. O. dos Santos
(Bombadas)

Sem comentários:

Enviar um comentário