Por: Luís Abel Carvalho
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Havia na aldeia uma figura carismática e incontornável, cujo nome era Agripino, mas a quem chamavam o “ Depende”. A tudo que se lhe perguntasse, respondia invariavelmente: depende! Quando alguém lhe perguntava:
- Ó Gripino! Quers ubas?
- Depende. São brancas ou pretas?
- São pretas.
- Oh...se fossem brancas no nas qu´ria, mas c´mo são pretas, quero.
Mais adiante...
- Ó Gripino! Quers ubas?
- Depende. São pretas ou brancas?
- São brancas.
- Oh... se fossem pretas no nas qu´ria, mas c´mo são brancas, quero.
E era assim em relação a tudo: aos figos, às uvas, às maçãs – se eram verdes ou “ bormelhas “ – às cerejas, se eram brancas ou “ bormelhas”, aos pêssegos, se eram de “ ´scatcha “ ou de rilhar, ao pão, se era trigo ou centeio, se era duro ou mole, enfim...um poço sem fundo de manual de sobrevivência! A tudo respondia como mais lhe convinha.
Um dia a tia Mercês encontrou um queijo de ovelha esquecido numa talha de azeite, há mais de três anos e mais duro do que os cornos. Nem o marido, o ti Humberto, conseguiu parti-lo com a faca de matar o porco.
- Ó Gripino! Quers queijo? – Perguntou-lhe a tia Mercês.
- Depende. É de cabra ou d´obelha?
- É d´obelha.
- S´é d´obelha, quero. Só de acaso fosse de cabra no no qu´ria.
Bem tentou ferrar-lhe os dentes, mas nada conseguiu. Lembrou-se e levou-o ao Pata Larga. Este Pata Larga, que um dia apareceu aos trambolhões na aldeia, tinha mais força maxilar do que uma hiena. Conseguia partir arame da vinha com os dentes! Com alguma facilidade, conseguiu parti-lo em nacos que o Depende rilhou e comeu com prazer durante três dias!
Depende vivia sem família, no campo, num casebre emprestado no meio de um amendoal do senhor Figueiredo. Era um rapaz alto e magro – aquilo a que se poderia chamar de “ pele e ossos “. Tinha os braços e as pernas compridas, andando devagar, arrastando os pés descalços com esforço. Caminhava de cabeça acentuadamente inclinada para a frente e com os braços descaídos, suspensos ao longo do corpo. Uma baba líquida escorria-lhe da boca, que ele limpava com as costas da mão ou com a manga da camisa de estopa. Andava invariavelmente descalço – Verão e Inverno – e roto, com uns farrapos remendados e sebentos, a cobrir-lhe o corpo magro e presos por cordéis. Era franzino, de pele escura – talvez alguma reminiscência árabe, do tempo das invasões. Por efeito de uma doença tinha-lhe caído o cabelo, salvando-se apenas uns fios ralos e fracos qua lhe pendiam do queixo retraído.
A Mãe, doente mental, atirara-se a um poço nas Veias e o Pai, com o desgosto, fugiu para o Brasil. Nunca ao filho e a ninguém, dera sinais da sua existência. Depende, ficou assim, órfão de Pai e Mãe aos quinze anos. Nos primeiros meses bebia diariamente e tinha comportamentos agressivos para com todos e o péssimo hábito de roubar fruta em todo o lado por onde passasse. Porém, perdeu-o no dia em que lhe passaram a zunir perto das orelhas umas pedradas na vinha do “ Queira Deus, queira “, quando roubava malápias. Passava os dias pelos canelhos da aldeia a rir e a cantar ou então, pelos campos aos pássaros, munido de uma fisga. Tinha o olhar de um cão faminto e escorraçado. Varava as noites a uivar e a soltar grunhidos misturados com gargalhadas estridentes.
Principalmente nas noites claras de Verão, cantava pungentemente versos que inventava. Eram quadras que rimavam e que repetia sempre nas noites de maior sofrimento.
- Caratchos! Inté é pena num haber ninguém que ´screba o qu´ele diz. E olha qu´ele num é tolo ninhum! – Lamentava-se a Maria da Glória. – Ó Justino! Tu é que podias fazer isso!
- Eu?! Mal sei ´screber o meu nome, canto mais! Aqui o "pressinhas" é que podia, que ´screbe bem e depressa.
- Pois sim – disse o Belarmino. - Até qu´era boa ideia. Bou andar cum papel e caneta e tantar ´screber o qu´ele diz.
Dito e feito. O Belarmino passou a prestar atenção e a escrever o que Depende recitava ao mundo, em noites de lua cheia:
- Ó Gripino! Quers ubas?
- Depende. São brancas ou pretas?
- São pretas.
- Oh...se fossem brancas no nas qu´ria, mas c´mo são pretas, quero.
Mais adiante...
- Ó Gripino! Quers ubas?
- Depende. São pretas ou brancas?
- São brancas.
- Oh... se fossem pretas no nas qu´ria, mas c´mo são brancas, quero.
E era assim em relação a tudo: aos figos, às uvas, às maçãs – se eram verdes ou “ bormelhas “ – às cerejas, se eram brancas ou “ bormelhas”, aos pêssegos, se eram de “ ´scatcha “ ou de rilhar, ao pão, se era trigo ou centeio, se era duro ou mole, enfim...um poço sem fundo de manual de sobrevivência! A tudo respondia como mais lhe convinha.
Um dia a tia Mercês encontrou um queijo de ovelha esquecido numa talha de azeite, há mais de três anos e mais duro do que os cornos. Nem o marido, o ti Humberto, conseguiu parti-lo com a faca de matar o porco.
- Ó Gripino! Quers queijo? – Perguntou-lhe a tia Mercês.
- Depende. É de cabra ou d´obelha?
- É d´obelha.
- S´é d´obelha, quero. Só de acaso fosse de cabra no no qu´ria.
Bem tentou ferrar-lhe os dentes, mas nada conseguiu. Lembrou-se e levou-o ao Pata Larga. Este Pata Larga, que um dia apareceu aos trambolhões na aldeia, tinha mais força maxilar do que uma hiena. Conseguia partir arame da vinha com os dentes! Com alguma facilidade, conseguiu parti-lo em nacos que o Depende rilhou e comeu com prazer durante três dias!
Depende vivia sem família, no campo, num casebre emprestado no meio de um amendoal do senhor Figueiredo. Era um rapaz alto e magro – aquilo a que se poderia chamar de “ pele e ossos “. Tinha os braços e as pernas compridas, andando devagar, arrastando os pés descalços com esforço. Caminhava de cabeça acentuadamente inclinada para a frente e com os braços descaídos, suspensos ao longo do corpo. Uma baba líquida escorria-lhe da boca, que ele limpava com as costas da mão ou com a manga da camisa de estopa. Andava invariavelmente descalço – Verão e Inverno – e roto, com uns farrapos remendados e sebentos, a cobrir-lhe o corpo magro e presos por cordéis. Era franzino, de pele escura – talvez alguma reminiscência árabe, do tempo das invasões. Por efeito de uma doença tinha-lhe caído o cabelo, salvando-se apenas uns fios ralos e fracos qua lhe pendiam do queixo retraído.
A Mãe, doente mental, atirara-se a um poço nas Veias e o Pai, com o desgosto, fugiu para o Brasil. Nunca ao filho e a ninguém, dera sinais da sua existência. Depende, ficou assim, órfão de Pai e Mãe aos quinze anos. Nos primeiros meses bebia diariamente e tinha comportamentos agressivos para com todos e o péssimo hábito de roubar fruta em todo o lado por onde passasse. Porém, perdeu-o no dia em que lhe passaram a zunir perto das orelhas umas pedradas na vinha do “ Queira Deus, queira “, quando roubava malápias. Passava os dias pelos canelhos da aldeia a rir e a cantar ou então, pelos campos aos pássaros, munido de uma fisga. Tinha o olhar de um cão faminto e escorraçado. Varava as noites a uivar e a soltar grunhidos misturados com gargalhadas estridentes.
Principalmente nas noites claras de Verão, cantava pungentemente versos que inventava. Eram quadras que rimavam e que repetia sempre nas noites de maior sofrimento.
- Caratchos! Inté é pena num haber ninguém que ´screba o qu´ele diz. E olha qu´ele num é tolo ninhum! – Lamentava-se a Maria da Glória. – Ó Justino! Tu é que podias fazer isso!
- Eu?! Mal sei ´screber o meu nome, canto mais! Aqui o "pressinhas" é que podia, que ´screbe bem e depressa.
- Pois sim – disse o Belarmino. - Até qu´era boa ideia. Bou andar cum papel e caneta e tantar ´screber o qu´ele diz.
Dito e feito. O Belarmino passou a prestar atenção e a escrever o que Depende recitava ao mundo, em noites de lua cheia:
“ Minha Mãe já no ´stá cá
Deitou-se a um poço afogar
Atcho que foi por bias de mim,
Que já no me podia aturar.
O meu Pai foi pró Brasil
E nunca nem sequer ´screbeu
Deixou cá um tchapéu belho
Qu´eu uso e agora é meu.
E nunca nem sequer ´screbeu
Deixou cá um tchapéu belho
Qu´eu uso e agora é meu.
Qando bou ó cemitério
Ber a campa da minha Mãe
Tanho tantas saudades dela
Que só m´apetece morrer tamãe.
Passo as noutes a uibar
À lua, qu´ é tão matreira
Gosto qando alguém me tchama
Pra m´aquecer na lareira.
Ando sozinho no mundo
Ninguém quer saber de mim
Só gostaba de ser bruxo
Prá dibinhar o meu fim.
Bibo só e triste num casebre
Qu´é do senhor Figueiredo
São tantos os barulhos de noute
Qu´às bezes inté tanho medo.
Só queria que parasse
Esta zoeira na mnha cabeça
Peço sempre à minha Mãe
Pra qum dia m´apareça.
Ber a campa da minha Mãe
Tanho tantas saudades dela
Que só m´apetece morrer tamãe.
Passo as noutes a uibar
À lua, qu´ é tão matreira
Gosto qando alguém me tchama
Pra m´aquecer na lareira.
Ando sozinho no mundo
Ninguém quer saber de mim
Só gostaba de ser bruxo
Prá dibinhar o meu fim.
Bibo só e triste num casebre
Qu´é do senhor Figueiredo
São tantos os barulhos de noute
Qu´às bezes inté tanho medo.
Só queria que parasse
Esta zoeira na mnha cabeça
Peço sempre à minha Mãe
Pra qum dia m´apareça.
Sem entrarmos numa apreciação de psicanálise, nota-se um sentimento de culpa por tudo o que aconteceu. Se ele fosse bom de aturar, a Mãe não se teria afogado e, consequentemente, o Pai não teria ido para a o Brasil e ele não estaria, agora, na situação de abandono. Até chega a pedir à Mãe que um dia lhe apareça – talvez para lhe pedir desculpas e acabar com aquela “ zoeira” na sua cabeça. Mas também se nota uma certa preocupação com o seu futuro, pois gostava até de ser bruxo para o adivinhar.
As noites geladas de Inverno passava-as onde caía com a bebedeira que era de tal ordem que a geada não pegava à volta do corpo. O surro e a crosta da lama seca, em sucessivas camadas, era já tão espessa que lhe serviam de sola dos sapatos e o protegia do frio! Com o tempo foi ficando mais calmo e apenas soltava gritos e balbuciava palavras ininteligíveis. O álcool e a sífilis roíam-lhe a vida. Inexplicavelmente, embora continuasse a ser antissocial, ficou humano e até, de quando em vez, assistia à missa! Durante as crises apenas cantava e ria... Ria muito, soltando sibilantes gargalhadas, que se espalhavam sonoras pelos morros.
Todo esse milagre se deve - e ninguém na aldeia desconfiava – unicamente à Cesária “ Tola “ . Cesária, conhecida pela “ Tola “, era uma mulher alta e forte de ancas, cabelos ruivos e espessos e seios fartos, desprezada por todos e procurada pela maioria dos homens, exceptuando os que preferiam a “ biúba das eiras “ que os atendia em casa, ao passo que a “Tola” os aliviava no campo, atrás de uma parede, debaixo de uma oliveira ou nalgum palheiro. Uma noite de Verão, de lua cheia, que derramava doce e tranquilamente sobre a terra uma luz branca de leite e de paz, Agripino andava aos urros nos lameiros para os lados da Sesmo, apareceu-lhe de surpresa a “ Tola “. Fazendo uma voz suave e melodiosa, perguntou - lhe:
- Atão, Gripino! O qu´é que t´artormenta?
- Oh...Tudo. Respondeu rendido àquela figura nítida e real, debaixo daquele luaceiro taciturno.
- Tudo, o quê?
- Oh... a bida, a m´nha Mãe morta ´standida no lançol, o tempo que num passa e estas cousas todas dentro da m´nha cabeça, que num param de me martelar o juízo – disse pressionando a cabeça com ambas as mãos.
- Que cousas? – Insistiu.
- Oh! Cousas do mafarrico que m´atormentam dia e noute... – Disse encolhendo os ombros.
- Mas tães que me decer que cousas são essas pra t´ajudar.
- Ajudar?! – Perguntou franzindo o sobrolho, como que desconfiado que aquela palavra fosse totalmente inútil.
- Sim, ajudar – respondeu-lhe calmamente, com doçura. – Alembras-te do Ti Claudino?
- Ou, ou...esse ind´era mais pior do ca mim! Mas...- disse franzindo o sobrolho e pondo o indicador direito nos lábios. – Ess´agora já ´stá bô!!!
- Pois ´stá. E sabes graças a quem? A mim. Fui eu qui o curei – disse orgulhosa dando duas palmadas no peito – Fui eu – repetiu. – Só que ningém no sabe!
- Num acredito... Foi bomecê qui o curou?!
- Sim senhoras. Olarilas...e a ti tamãe te posso curar – disse sorrindo.
- Hum...
- Posso, pois. É só tu qu´reres. Tu queres ser tratado e tirar todos os demónios que t´afligem?
Cesária tinha o dom de um exímio psicólogo ou psiquiatra. Compreendia e trabalhava a mente humana com cumplicidade de mestra.
Os olhos de Agripino cresceram e olhavam agora desamparados o chão que parecia fugir-lhe debaixo dos pés. Como se lhe tivessem faltado as forças nas pernas, dobrou-as e sentou-se numa pequena fraga. Os freixos e os pinheiros altos e esguios estendiam-se pela encosta abaixo e pareciam humanos de mãos erguidas para o Céu, pedindo clemência a Deus. O calor do estio enchia a noite de uma ternura vaga e morna. Dos lameiros vinha um lento murmúrio de ralos e de grilos que chegavam ao Depende como uma melodia triste. Do silêncio da noite vinha o pio pungente dos mochos e das corujas, que se juntavam ao agradável som dos grilos e dos besouros. As rãs e os sapos coaxavam em lagos de águas paradas, cobertos de limo. Dois gaios desentenderam-se e rasgaram o silêncio com guinchos irritantes, perseguindo-se de freixo em freixo. (Alguma zanga por ciúmes). Tudo parecia mágico: a luz, os sons e até as sensações pareciam pertencer ao fantasmagórico. Perante a indesmentível e natural força da Natureza, o ser humano é tão frágil, que é absurdo a arrogância e a bazófia do ser humano perante ela!
Cesária aproximou-se lentamente e afagou-lhe a cabeça.
- É só qu´reres. Só de caso quiseres eu curo-te.
- Mas atcha que posso ficar bô? – Perguntou sem levantar os olhos do chão, rabiscando a terra com um pauzito seco.
- To garanto à fé de quem sou – disse convictamente. – Atão tu no bês o Ti Claudino c´mo era e c´mo é?
- No sei. Tanho que pensar. Eu bem que gostaba de ser c´malguns de bocês, mas tanho medo...Sabe? u´eu tamãe gosto um catchinho de ser assim e inté tanho pena dalguns de bocês.
- Mas esses de que tães pena tamãe num são munto normais. Eu fazia-t´assim, c´mós milhores d´aldeia, por inzemplo, cmó Senhor Olibeira, cmó Senhor Figueiredo, c´mó Ti Bragança, cmó Dr. Malheiros e cmo oitros mais normais. Queres?
- Num sei...Gostaba de ser c´malguns, mas tamãe gosto de ser assim, libre e d´andar por onde quiser.- disse com um pequeno brilho nos olhos.
- Pois sim, mas podes continuar a ser cmo agora. Mas diz-me lá: de certeza que gostas de ser enxotado de todos os lados e andares ós mandiletes de todos?
- Não, isso não. No gosto nada de ser ´scorraçado. Isso magoa-me munto, mas...cmé que me bai ajudar?
- Antes de tudo: quers ou não quers? Eu ajudo-te mas tamãe preciso que tu ajudes tamãe. Quers?
- ´Stá bem. Prontos, quero – disse conformado, encolhendo os ombros, resignado.
- Atão anda cá – disse chegando-se a ele e mostrando-lhe um seio branco como o luar, redondo e cheio. – Mamá´qui. Bem cá e tchutcha aqui na teta.
Agripino aproximou-se cauteloso e começou a chuchar no bico entumescido da mama que se lhe oferecia límpida e gratuita como uma rosa para ser cheirada. Sugou a mama e depois a outra, com uma sofreguidão progressiva. Uma nuvem de bem-estar invadiu-lhe o sangue que começou a aquecer. A “ Tola” subiu as saias e baixou as calças ao “ Depende “. Deitou-se no chão duro e áspero de pedras, no meio de giestas e mostrou-lhe o caminho da felicidade. Agripino passou para o outro mundo e arfava de prazer. Dir-se-ia que ultrapassara todos os níveis mentais dos humanos e alcançara o “ nirvana “ , esse estado eterno de graça e de superação, esse lugar especial, onde só os sentidos contam. Agripino desconhecia por completo aquela sensação de felicidade e flutuava no espaço sideral como as bolhas de sabão que fazia quando criança.
Cesária usava com mestria todos os poderes e truques ao seu alcance aliás, como fazem todos os profissionais da matreireice. Perante a descarada criação de “ cargos públicos “ à medida e pagos por nós, que só servem para que os mesmos se mantenham no poder, com altos e obscenos rendimentos, temos que compreender e aceitar as diversas Cesárias que tentam sobreviver por esse mundo fora. No mínimo, temos que ter compaixão. Pode ser através do sorriso hipócrita e cínico, mas sem maldade, do empregado do pequeno restaurante ou da loja de bairro. Compram, ou vendem a sua própria sobrevivência, que é a essência do ser humano.
A lua derramava doce e tranquilamente o seu brilho metálico, numa paz celestial.
- Gostastes? – Perguntou-lhe com voz melífica.
- Atcho que sim. Indé milhor do que comer cereijas brancas.
- Cereijas brancas? – Perguntou num riso espontâneo.
Ali sentados, numas pedras soltas, no meio da noite e da Natureza, Agripino descobria os segredos e os prazeres mais profundos do mundo e da carne.
Do que precisamos, na maioria das vezes, é de alguém que nos dê a mão e nos leve para casa; que nos aqueça as mãos quando está frio; que nos dê esperanças quando nos julgamos perdidos. Que transforme as nossas descrenças em fé, as nossas angústias e desilusões em sol e Primavera; alguém que nos dê forças para acreditarmos no nosso caminho e encararmos o futuro com um sorriso nos lábios, todos os dissabores da vida. Alguém que acredite em nós e que nos faça acreditar ser possível atingir a eternidade e a leveza do Bem.
Nos três dias seguintes encontraram-se à mesma hora e no mesmo sítio, repetindo o acto libertador da carne e da mente. Agripino ficou curado do mal dos urros e passava os dias sem fazer nada, a pedir comida. Nunca mais uivou, para espanto de todos e ninguém soube do “ milagre “).
(Conto extraído e adaptado do romance " Por entre a solidão das fragas" ).
Fontes de Carvalho
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Fontes de Carvalho, pseudónimo de Luís Abel Carvalho, nasceu no Larinho, uma aldeia transmontana do Concelho de Torre de Moncorvo, Distrito de Bragança. É o filho do meio de três irmãos.
Estudou em Moncorvo, Bragança e no Porto, onde se formou em Engenharia Geotécnia. É casado e Pai de três filhos.
Viveu no Brasil, onde passou por momentos dolorosos e de terror, a nível económico e psicológico. Chegou a viver das vendas de artesanto nas ruas e a dormir debaixo de Viadutos.
No ano de 1980 e 1981 foi Professor de Matemática em Angola, na Província de Kwanza Sul, em Wuaku-Kungo. Aí aprendeu a desmistificar certos mitos e viveu uma realidade muito diferente da propagandeada.
Em Portugal deu aulas de Matemática em diversas cidades, nomeadamente em São Pedro da Cova, Ponte de Lima, Cascais (na Escola de Alcabideche, onde deu aulas aos presos da cadeia do Linhó), Alcácer do Sal, Escola Francisco Arruda e Luís de Gusmão, em Lisboa. Frequentou durante quatro anos, como trabalhador-estudante, o curso de Engenharia Rural, no Instituto Superior de Agronomia.
Em 1995 fundou a empresa Bioprimática – Reciclagem de Consumíveis de Informática, onde trabalha até hoje como sócio-gerente.
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