Tal como o conhecemos hoje, não chega a ter 180 anos. Apesar de tão curta idade, é já um dos vinhos mais famosos e apreciados e o primeiro no mundo a ter origem numa região demarcada.
Qualificado como generoso, o Porto é, por definição, um vinho encorpado, doce e com elevado teor alcoólico. Fez as delícias dos salões ingleses no início do século XX e chegou a ser a principal fonte de receitas do nosso comércio externo.
Conta-se que um acidente enológico ocorrido em 1820 terá estado na origem de mudanças substanciais no processo de elaboração dos vinhos do Douro, ao ponto de provocar evoluções sucessivas que viriam a desembocar em algo parecido com o que hoje conhecemos como vinho do Porto.
Porém, não é menos verdade que foram as exigências colocadas pelo transporte para Inglaterra, o particular gosto dos consumidores britânicos e a necessidade de dar resposta às exigências do mercado a suscitar algumas mudanças decisivas.
A colheita de 1820 e o especial clima que a antecedeu apenas terão, de forma involuntária, revelado o vinho que, sem o saberem definir, todos procuravam: um vinho marcado por uma importante presença de açúcar e de álcool, forte e encorpado. O vinho do Porto.
Do “vinho de Lamego” ao “vinho do Porto”
No séc. XVI o vinho ainda é «de Lamego».
Apenas em meados do séc. XVII aparecem referências ao vinho do Douro e muito raramente ao vinho do Porto.
O comércio com Inglaterra já era significativo, mas subsistiam grandes confusões quanto à origem daquele vinho seco, sem açúcar, com mais álcool que os vinhos de consumo modernos, mas menos que os atuais vinhos do Porto.
Os ingleses chamavam-lhe indistintamente «Red Portugal» ou «Lisbon Wine» e quase consagraram uma designação que, a ter sido seguida, seria fonte de polémicas bairristas.
Afinal o nome não foi usurpado e «Port Wine», reconheça-se, soa mais elegante, mais fino, mais de acordo com a nobreza do néctar arrancado às encostas do Douro.
Mais que uma dádiva da natureza, o vinho do Porto é uma criação do homem. Ao longo dos anos o vinho foi construído à medida da transformação das encostas durienses.
O homem construiu milhares de quilómetros de socalcos. Plantou, enxertou, voltou a plantar, experimentou até à exaustão, podou as vides e criou novos processos de armazenar e envelhecer o vinho.
Não por acaso, costuma dizer-se que foi o vinho a fazer o Douro. Foram as necessidades de proteção dos produtores a originar a criação da primeira região demarcada do mundo.
Tudo porque nos últimos anos do séc. XVII e primeira metade do séc. XVIII se assistiu ao desenvolvimento das exportações e ao crescimento dos vinhedos em todo o país, com enormes oscilações de preços.
Em meados do séc. XVIII o vinho estava muito mal cotado e as exportações entraram em declínio.
A crise na região do Douro
Estala a crise no Douro. Em 1754, as casas exportadoras inglesas resolvem não comprar vinho à lavoura. O ambiente tolda-se. Grandes casas senhoriais vêm-se próximas da ruína.
Os produtores estão desesperados e decidem, em 1756, avançar para a criação da Companhia Geral de Agricultura dos Vinhos do Alto Douro que, como medida de protecção, decide criar a primeira região demarcada da história das regiões produtoras de vinho.
Definida a região, não significa isto que no Douro só se produza vinho do Porto. Também de lá saem bons vinhos de mesa, originários das mesmas quintas e, quantas vezes, das mesmas castas que dão origem ao Porto. (…)
As aguardentes vínicas têm um papel decisivo na elaboração do vinho do Porto. Ao interromper a fermentação, conservam o teor de açúcar e elevam de forma substancial o teor de álcool.
Nos primeiros tempos, uma pipa de 550 litros não levava mais de 20 litros de aguardente. Hoje, uma pipa de Porto contém entre 100 e 130 litros de aguardente e o vinho pode atingir os 21 graus de teor alcoólico.
Embora esteja vulgarizada a designação «Vinho do Porto» para o vinho fino concebido no Douro, existem diversas qualidades de vinhos, produzidos a partir de castas distintas, que se diferenciam pelo seu processo de envelhecimento.
Os tipos de Vinho do Porto
Só uma pequena parte dos vinhos é envelhecida, durante anos ou décadas, em garrafa. Estima-se que 90 por cento do total da produção amadurece ao longo de vários anos em cascos de madeira. Estes vinhos podem ser:
Ruby – É por norma comercializado com três anos. Apresenta uma cor rubi.
Tawny – É o mais divulgado dos vinhos do Porto. Antes de chegar à garrafa passa por cinco anos de envelhecimento em cascos de carvalho. O tempo leva-o a perder a cor roxa original para lhe conferir uma tonalidade dourada. Divide-se em tawny com indicação de idade e tawny com indicação da data da colheita.
Estilo Vintage – Resulta de um lote de várias colheitas. Pode ser bebido logo após o engarrafamento.
Crusted – Depois de envelhecido em casco durante dois ou três anos, deve passar três ou quatro anos na garrafa.
Late Bottled Vintage (LBV) – Só se consegue com colheitas de boa qualidade. Passa entre quatro a seis anos em cascos antes de ser engarrafado, o que lhe retira parte da primitiva cor intensa. A sua estrutura permite-lhe envelhecer durante muitos anos na própria garrafa.
Vintage – É o resultado de excecionais condições climáticas, que ocorrem apenas três ou quatro vezes por década. Só uma quantidade muito reduzida de mostos – nunca mais de cinco por cento – é escolhida para os «vintages».
As empresas selecionam os melhores lotes das melhores quintas, geralmente situadas nas zonas mais quentes e secas da região, no Cima Corgo e no Douro Superior. O extremo rigor e exigência na seleção e preparação fazem com que o «vintage» seja o expoente máximo da vitivinicultura e da enologia durienses.
in GUIA Expresso O Melhor de Portugal – nº6 (Texto editado)
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