Fátima Afonso tem 52 anos e em Janeiro foi diagnosticada com diabetes. Ter qualidade de vida está dependente de um medicamento que regula do açúcar no sangue, o Ozempic. O problema é que este é o fármaco que mais falta nas farmácias. Há mais de um mês que não o consegue comprar e os sintomas começaram a surgir. Conseguiu um medicamento substituto, mas a eficácia não é a mesma. "Sentia muita vontade de comer doces, muita sede, cansaço extremo, ao final do dia, tonturas e comecei a ver mal. Cada vez que tomo o Ozempic a minha qualidade de vida é completamente diferente. Agora estou a tomar um medicamento substituto e é quase como que se não tomasse nada".
A necessidade por uma vida com qualidade fez Fátima Afonso recorrer a conhecidos de outras partes do país que de nada lhe valeram, porque a falta do medicamento é um problema nacional e até europeu. "Tenho uma amiga farmacêutica no Porto e liguei-lhe. Deu-me logo a informação de que não havia. Tentou entrar em contacto com alguns colegas mas não conseguiu. Depois tentei em Lisboa. Também tentei em Matosinhos, através de uma prima, mas também não consegui".
Da lista de doentes a aguardar pela compra do medicamento está Fernando Fomes. Tem diabetes há 8 anos. Toma Ozempic uma vez por semana, mas vai deixar de o conseguir fazer. Já só tem o medicamento para esta semana. Daqui para a frente é tudo uma incerteza e a preocupação é bastante. "Só tenho para mais uma semana. Este medicamento é muito bom, faz-me muito bem. Sinto uma diferença tremenda quando o tomo só que não o há e agora não sei como vai ser. Se não tomar o Ozempic tenho sede constante e cansaço. Os níveis de diabetes sobem e depois não tenho como os controlar".
Na farmácia Nova Central, em Bragança, os telefonemas são de várias partes do país, de pessoas que tentam de tudo para conseguir o medicamento que precisam, de acordo com a directora técnica, Micaela Pires. "São chamadas do Porto, de Coimbra, de Lisboa... tivemos uma senhora que disse que era a 33ª farmácia a tentar o medicamento. Há um bocado aquele sentimento de que como estamos no Interior e que somos meios mais pequenos de que pode haver em stock".
Além de insulinas, as farmácias registam ainda a falta de medicamentos para a tensão, colesterol, depressão e até antibióticos. Nestes casos, para já, ainda há substitutos.
A guerra na Ucrânia está a ter impacto na produção e comercialização de medicamentos, não só pela falta de substâncias, como também de alumínio e papel para a criação das embalagens.
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