A 20.ª edição da Mostra Gastronómica de Vila Pouca de Aguiar acontece no último sábado e domingo do mês em diversos restaurantes do município. Os cerca de dez estabelecimentos aderentes apresentam sugestões que incluem cabrito, castanhas e cogumelos, em pratos como cabrito assado, miscarada (um refogado com cogumelos e carnes), arroz de cogumelos, sopa de castanha e quiche de cogumelos. Bolo de castanha ou pudim de castanha são algumas das opções doces.
Simultaneamente, acontece a Mostra de Produtos de Outono no Mercado Municipal de Vila Pouca de Aguiar, onde produtores locais vão estar a vender mel, pão, compotas, castanhas e cogumelos. Estão previstas também atividades de animação com música e dança.
Com a Jornada Micológica da Associação Cultural Desportiva e Recreativa de Vale Pradinhos
No dia 5 de novembro, a Associação Cultural Desportiva e Recreativa de Vale Pradinhos realiza a VIII Jornada Micológica. O dia arranca às 9 horas com um mata-bicho à transmontana, onde não faltará queijo e marmelada caseira, frutos secos, sopas de alho e aguardente. A seguir, os participantes partem para o monte para apanhar cogumelos, na companhia de dois biólogos. No regresso é-se recebido com um almoço à base de carne assada e pão caseiro, alheiras, chouriças e vinho Valle Pradinhos.
À tarde, o biólogo Carlos Ventura dá uma palestra sobre cogumelos, seguindo-se animação musical e a confeção de mais de 100 quilos de açorda com cogumelos silvestres, resultando na que será a “maior açorda de cogumelos do mundo”. O dia termina com a Queimada dos Druidas, uma celebração dos quatro elementos, e um magusto, onde se vai servir caldo de pedra.
É nos concelhos transmontanos onde as temperaturas descem a graus abaixo de zero no inverno que a qualidade do fumeiro é mais reconhecida. GL
As boas carnes curtidas pelas geadas em Vinhais, no distrito de Bragança, Boticas e Montalegre, no distrito de Vila Real, granjearam aos três concelhos enchidos tão qualificados e característicos que ostentam a certificação IGP-Indicação Geográfica Protegida, uma garantia da União Europeia.
A excelência e singularidade do fumeiro atrai milhares de turistas a Trás-os-Montes para degustar e comprar os afamados produtos confecionados com carne de porco.
A fileira representa atualmente milhões de euros para os concelhos produtores onde a inovação entrou, mas na confeção dos enchidos ainda manda a tradição. Os animais, que continuam a ser criados em regime extensivo e com alimentação à base de hortícolas, são produto verdadeiramente biológico.
Do porco tudo se aproveita. Se das carnes nobres se faz o salpicão ou a chouriça de carne, as menos ricas são usadas cozidas, em conjunto com pão e azeite, para confecionar alheiras, farinheiras, chouriço azedo de Vinhais, ou chouriço de abóbora do Barroso.
As alheiras apresentam variações. Em Vinhais só levam porco, as do Barroso conjugam com galinha. Em todas são aproveitadas as carnes da barriga, couratos, carne da cabeça e outras miudezas, que são cozidas para fazer um caldo que junta ao pão e às carnes. Aos clássicos juntam-se as especificidades como o butelo de Vinhais, a chouriça da borralha do Barroso ou a sangueira de Boticas. Das pás do porco se faz o presunto, curtido em sal grosso, depois defumado.
Cada terra tem o seu uso, mas a base essencial é similar. Começa sempre com a qualidade da carne, a adoba tradicional, baseada no vinho, água, alho, colorau, louro, e a secagem com o fumo da lareira com lenha de espécies autóctones: a carqueja na zona de Montalegre e Boticas, o castanheiro em Vinhais.
Se em Boticas o salpicão é feito com as carnes mais tenras e entremeadas, com adoba de água e vinho, em Vinhais escolhe-se a carne do lombo, limpa de qualquer gordura, curada em vinho e temperos. O resto é saber fazer passado entre gerações e habilidade manual.
As outras carnes magras, junto ao osso, nomeadamente as que cobriam as costelas, carne do cachaço, entremeada e aparas, são destinadas à confeção das linguiças. Os bofes aproveitam-se para fazer a denominada chouriça de boche em Vinhais, e a sangueira do Barroso, que também leva peças interiores do porco. A chouriça de sangue, doce, enriquecida com canela, é sobremesa nos dois distritos.
Fumeiro de Vinhais
É ao arquivo da memória que Elisabete Diegues vai buscar os segredos da confeção do fumeiro de Vinhais. Das mãos das mulheres continuam a sair enchidos tão genuínos como há séculos. O saber fazer passa entre gerações. Elisabete aprendeu com a mãe e a avó que, por sua vez, aprenderam com as respetivas antepassadas. “Desde criança que fui vendo como se fazia em casa e ajudava a família”, explica a jovem que sabe a lição na ponta da língua. “Começamos por criar os porcos de raça Bísara, temos cerca de 200, que são alimentados com produtos da horta e com cereais. É essa a carne que serve para fazer o fumeiro, que ainda é curtido de maneira tradicional, em adoba de vinho, alho, colorau e louro. Depois é seco à lareira”, revela Elisabete, destacando que fazer alheiras ou salpicões continuam a ser motivo de grande azáfama tal como sempre foram no seio das famílias transmontanas.
Há 22 anos que a família de Elisabete se lançou neste negócio dos enchidos, que evoluiu para uma pequena unidade fabril, para ser possível a produção durante todo o ano, pois os produtores individuais estão limitados à confeção nos meses de inverno. A jovem, licenciada em Engenharia Alimentar, não tem dúvidas que o fumeiro de Vinhais é o melhor. “Apesar de ser feito como antigamente é tudo muito controlado, para garantir a segurança alimentar. Além disso, as receitas são sempre as mesmas, pois como a maioria dos enchidos tem certificação não se pode mudar nada e é preciso seguir o caderno de encargos da IGP”, conta a produtora.
O fumeiro original sempre teve saída, mas as vendas ganharam grande incremento nos últimos anos com a abertura de lojas físicas e com as virtuais, em plataformas online. “Agora é possível encomendar enchidos em qualquer país. Mas os clientes ainda gostam de vir a Vinhais, à origem, ver o fumeiro no seu ambiente natural. Não procuram inovação, o que querem é o produto tradicional. Aliás, a alheira que tem mais saída ainda é a antiga, com Indicação Geográfica Protegida, que só leva carne de porco. As novas variedades, que são confecionadas com outros produtos, como por exemplo cogumelos, não têm a mesma procura.”
Quatro restaurantes em Trás-os-Montes onde comer fumeiro tradicional
Na época fria, os enchidos destacam-se à mesa. GL
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Restaurante Tasca do Zé Tuga, em Bragança. Na imagem: trufa, figo, salpicão, repolgas e chouriça de carne. (Fotografia de Nuno Pinto Fernandes/GI) |
Adega O Fumeiro | Montalegre
É das casas do género mais antigas de Montalegre, onde se respira a tradição barrosã na comida e no espaço construído em pedra e madeira. Nuno Pedreira, que abriu este restaurante há 30 anos, tem orgulho na sua cozinha regional, onde o cozido à moda do Barroso sobressai entre tantas iguarias. “Só leva as melhores carnes e enchidos de porco. Mas temos também a vitela à barrosã, que tem muita procura. Tudo pratos de substância, bem à moda transmontana.”
O fumeiro do Barroso é uma das grandes apostas desta casa, que assenta a sua gastronomia no receituário do concelho de Montalegre. “Temos uma cozinha regional e confecionamos o nosso fumeiro com produtos caseiros. O cozido é um grande chamariz, muita gente vem cá cima, ao interior, para comer este prato, bem forte e quente, muito bom para os meses frios. Até junho, o cozido tem saída”, descreve o proprietário.
Restaurante Beça | Boticas
Ir a Boticas e não comer um cibo de salpicão ou uma rodela de chouriça de carne é como ir a Roma e não ver o Papa. Afinal, esta é a terra da festa do porco, cuja feira anual atrai milhares de visitantes. É do porco e seus derivados, com destaque para o salpicão, os rojões os presuntos que se faz a cozinha regional do Barroso, traduzida em pratos que aquecem qualquer estômago e que sabem melhor junto ao calor que vem das lareiras das cozinhas, que ajudam a comida a ganhar aromas e sabores inconfundíveis.
Inaugurado em 2001, o Restaurante Rio Beça, instalado no hotel como o mesmo nome, destaca-se pela gastronomia típica e diversificada, tendo como expoente máximo a suculenta carne de vitela barrosã (DOP) e o famoso cozido barrosão, mais a feijoada à transmontana, com fumeiro local, ou o cabrito barrosão, o javali com castanhas e ainda o presunto, a alheira e a linguiça.
Tasca do Zé Tuga | Bragança
O fumeiro e os cogumelos são produtos que o chef Luís Portugal gosta de combinar na Tasca do Zé Tuga, com vista para o Castelo de Bragança. A estes dois ingredientes junta outros das terras transmontanas, de acordo com a época do ano. No outono usa a amêndoa e o figo fresco, no inverno acrescenta a casula (feijão seco na vagem) e a castanha. “A trufa de salpicão, amêndoa e figo com a terra de cogumelos é uma entrada muito apreciada. Os cogumelos com alheira e caril são um clássico. Além dos momentos diferentes que servimos sobre um osso de tutano, a que juntamos a castanha, figo fresco, linguiça, cogumelos e queijo fresco”, descreve o chef. O figo com salpicão, diz, nada fica a dever ao foie gras. “Crio propostas mais frescas para épocas em que há menos fumeiro, como agora, também para ajudar os produtores industriais”, acrescenta.
O Geadas | Bragança
O Geadas aposta há cerca de 30 anos na cozinha regional transmontana, sem deixar de acompanhar os tempos. Iracema e Adérito Gonçalves começaram nas lides dos petiscos ainda na casa dos 20 anos, em Vinhais, e nunca mais pararam. Há umas décadas que abriram o restaurante em Bragança. Descrevem assim o seu labor diário: “Preparamos cada prato com o devido empenho e dedicação para lhe proporcionar o melhor que esta região tem para oferecer”.
Os enchidos servidos como entrada, crus ou assados na brasa, e ainda integrados em pratos, como o butelo com casulas (iguaria típica do inverno que alia o enchido de carne com osso ao feijão seco na vagem), são a demonstração diária do lema dos proprietários: “Aqui é onde a tradição ganha vida”.
O fumeiro usado no restaurante é produzido pelos próprios como manda a sabedoria de Vinhais, concelho de onde são naturais.
Duas lojas em Trás-os-Montes para comprar enchidos
Nestas lojas de produtos regionais há presuntos e enchidos. GL
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Enchidos da Bísaro – Salsicharia Tradicional. (Fotografia DR) |
Bísaro – Salsicharia Tradicional | Gimonde
80 anos de história
Fundada em 1998, mas com origens que remontam a 1935, a Bísaro – Salsicharia Tradicional é uma empresa produtora especializada em fumeiro, nomeadamente presunto e enchidos confecionados com carne de porco bísaro, como salpicão, chouriça de carne, azedo, alheira e butelo.
Instalada em Gimonde, no concelho de Bragança, a empresa dispõe de uma loja de venda ao público. Alexandrina Fernandes, sócia-gerente da Bísaro, diz que se trata de um negócio familiar que começou com os avós, que sempre apostaram no ramo do fumeiro, primeiro num talho em Bragança, depois na empresa na aldeia de Gimonde. “Temos uma gama variada de produtos de charcutaria tradicional, que são confecionados com porcos de raça bísara criados por nós em duas explorações, uma em Gimonde e outra em Castro Vicente [Mogadouro]. Fazemos o fumeiro tradicional certificado com IGP de Vinhais”, descreve.
Salpicão, chouriça de carne, alheiras, butelos, e outros produtos como cachaço e salsichado, podem ser encontrados na loja e no restaurante D. Roberto. Dispõem de loja online.
Loja Rural Produtos da Montanha | Boticas
Respeito pelo ambiente
Para valorizar a produção dos agricultores a Cooperativa Agricola de Boticas (CAPOLIB) criou a Loja Rural Produtos da Montanha, nesta vila do distrito de Vila Real, onde promove produtos locais como os enchidos, o mel e a carne de bovino do Barroso. “A loja é uma extensão da cooperativa, tem sempre em mente escoar a produção local, mas com uma visão empresarial, onde a comercialização tem um papel chave para rentabilizar e vender os produtos dos agricultores do concelho”, explicou João Paulo Costa, responsável da CAPOLIB.
Como a produção do concelho ainda é limitada e sazonal, a Loja Rural Produtos da Montanha vende também produtos de outras regiões do país, desde que sejam zonas de montanha e baseadas em sistema de produção extensivo, que respeitem a pegada ecológica, negativa ou neutra, e em modo de produção biológica, com respeito pela preservação do ambiente e da água.
Além dos enchidos típicos e do presunto do Barroso, esta loja faz uma grande aposta na divulgação da carne de bovino de raça barrosã.
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