sexta-feira, 25 de novembro de 2022

E se o (teu) amor falasse?

Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)

E se o (teu) amor falasse, o que te diria?

Que dias felizes não ficam suspensos nas sombras do sol.
Que o caminho ao lado de alguém não é um deserto sem cor.
Que quando corres para um abraço não recebes a força impune de um braço.
Que a dor e o grito são desespero e não o alimento de cada dia.
Que a vida não se faz de um mundo de ausências dentro da alma.
Que não podes adormecer debaixo das pancadas que entendes como beijos.
Que ficar nua não é permitir que um outro te desfaça a carne e a essência.
Que as emoções mais íntimas não são feitas de sangue.
Que sobre o teu corpo não devem morar somente pele e sonhos desfeitos.
Que permitires que te comam o espírito e o corpo não saciará a fome desse Ninguém.
Que ser humana não é um nada que te anula.
Que noites brancas não são sinónimo de noites sem luz.
Que a morte talvez possa apanhar-te enquanto dormes.
Que estas pedras onde te deitas não vão transformar-se, como por magia, em flores.
Que os desejos dentro do teu peito não devem ser apenas saudade.
Que não podes viver de janelas trancadas com vergonha de quem melhor te merece.
Que instantes bonitos não são porta de entrada para desceres ao abismo.
Que não podes ficar rendida ao que nunca tiveste.
Que dentro de ti existe uma obra que almeja ir ainda além.
Se o amor falasse, dir-te-ia…
Que o primeiro amor que casa contigo é o que nasce do teu próprio coração.


Paula Freire
- Psicologia de formação, fotografia e arte de coração. Com o pensamento no papel, segue as palavras de Alberto Caeiro, 'a espantosa realidade das coisas é a minha descoberta de todos os dias'.

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