Por: Manuel Eduardo Pires
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Pelos vistos há falta de professores. Milhares de alunos têm passado anos inteiros sem algumas disciplinas do currículo. Há dias um jornal titulava: número dos que estudam para ser professor caiu setenta por cento em vinte anos. Como seria de esperar aqueles que militam no pensamento dominante dão explicações mais ou menos fantasiosas: ora a falta de vocação por parte dos mais jovens, ora as exigências de uma profissão desgastante, ora a ausência de incentivos para os que tem que se deslocar, etc. e tal. Ao contrário dos universitários que olham para o mercado de trabalho, o preconceito não lhes permite atingir as verdadeiras causas.
Quem as conhece de sobra são as dezenas de milhar de almas que trabalham nas escolas. Mas essas procuram disfarçá-las por se sentirem culpadas daquilo que não são e porque, como estão ali a ganhar a vida, não querem levantar muita poeira. Ora eu já me pirei, não estou atracado a direitas ou a esquerdas e pensar fora da caixa dá-me algum gozo. Além disso sei bem do que a casa gasta. Esbracejei nela para não ir ao fundo nada menos que quarenta e três anos, o que não é pouco, e a experiência diz-me que quem agora poderia decidir ser professor não o faz por outras razões.
O doutor freud dizia que educar consiste no difícil trabalho de domar os instintos, o truque que permite a vida social. Dá-se o caso de andarmos há muito a fazer o contrário, isto é, a soltar o selvagem que está latente em cada ser humano. As causas são várias e complexas. Lembro-me de que já os morangos com açúcar recriavam aulas que tiravam seriedade a uma coisa que de si tinha pouca, transformando-as em anedotas e aceitando com leveza a má conduta da ganapada. E de dois programas que parodiavam situações idênticas: os batanetes, da sic, e a turma dos chanfrados, da globo. Os sketches de uns e outros até podem ter alguma piada para quem ignore que se trata de um retrato fiel do que se passa na maioria das salas reais. Os restantes, é mais certo que arrepelem os cabelos.
Porém a nossa desgraça é anterior. As ideologias de raiz jacobina, percebendo que o que se mete nas cabeças infantis fica para sempre e vai mais tarde dar forma à própria sociedade, para além de outros métodos subversivos investiram em força na escola do estado, razão pela qual ela hoje se recusa a responsabilizar os miúdos pelos seus atos, não sabe o que fazer com a indisciplina, a violência, a delinquência, o crime e deforma mais do que forma. Na generalidade das salas de aula é o caos. Regem-se pela mais desenfreada parvoíce, vai nelas uma festa rebaldeira onde os profes são os bombos e que todos escondem com vergonha. É justamente o que se pretende: dali passa-se para as ruas e é a doer.
Ninguém sabe isso melhor do que quem passou doze anos a limpar o pó daqueles bancos. Como lhes resta alguma autoestima não querem ser enxovalhados e fazem o manguito à ideia de regressar. Com algum jeito até terão assistido a entradas alucinadas dos próprios progenitores por ali adentro maltratando quem tentava dar o seu melhor para lhes educar os cachopos, coisa que nem saberiam o que fosse. Aconteceu-me na parte final da carreira assistir a cenas do estilo, e um belo dia, dando conta de ter andado a cantar a grândola vila morena cheio de fé a pensar no bem de gente como aquela, tive vontade de dar com a cabeça nas paredes.
E depois ai jesus que os jovens não escolhem o ensino… Pois não… Às tantas, como os seus papás, desprezam e abusam de tudo o que é de borla. Quando lá andaram talvez se tenham apercebido da vida facilitada em termos de exigência e avaliação dos colegas de carteira com necessidades educativas especiais e fingido ser tontos para terem as mesmas regalias. E não é que tinham?!... Quem sabe se agora o pudor e a dignidade que lhes restam não os afastarão daquilo tudo…
Eu não tenho dúvidas. Ter gramado a comédia da escola comuno-socialista autoriza-me a declarar sem aspas que nunca nos dias da vida a aconselharia a alguém de quem gostasse. Indicava-a sim a indivíduos que busquem desportos radicais, masoquistas que não prezem a saúde da mente ou alguém a quem deseje má vida. Fora isso, a falta de docentes não tem que ser negativa. Vai piorar, mas há males que vem por bem e espero sinceramente que um dia se lhes aplique a lei mercantil da oferta e da procura, segundo a qual a abundância de um produto o deprecia e a escassez o valoriza.
Quem as conhece de sobra são as dezenas de milhar de almas que trabalham nas escolas. Mas essas procuram disfarçá-las por se sentirem culpadas daquilo que não são e porque, como estão ali a ganhar a vida, não querem levantar muita poeira. Ora eu já me pirei, não estou atracado a direitas ou a esquerdas e pensar fora da caixa dá-me algum gozo. Além disso sei bem do que a casa gasta. Esbracejei nela para não ir ao fundo nada menos que quarenta e três anos, o que não é pouco, e a experiência diz-me que quem agora poderia decidir ser professor não o faz por outras razões.
O doutor freud dizia que educar consiste no difícil trabalho de domar os instintos, o truque que permite a vida social. Dá-se o caso de andarmos há muito a fazer o contrário, isto é, a soltar o selvagem que está latente em cada ser humano. As causas são várias e complexas. Lembro-me de que já os morangos com açúcar recriavam aulas que tiravam seriedade a uma coisa que de si tinha pouca, transformando-as em anedotas e aceitando com leveza a má conduta da ganapada. E de dois programas que parodiavam situações idênticas: os batanetes, da sic, e a turma dos chanfrados, da globo. Os sketches de uns e outros até podem ter alguma piada para quem ignore que se trata de um retrato fiel do que se passa na maioria das salas reais. Os restantes, é mais certo que arrepelem os cabelos.
Porém a nossa desgraça é anterior. As ideologias de raiz jacobina, percebendo que o que se mete nas cabeças infantis fica para sempre e vai mais tarde dar forma à própria sociedade, para além de outros métodos subversivos investiram em força na escola do estado, razão pela qual ela hoje se recusa a responsabilizar os miúdos pelos seus atos, não sabe o que fazer com a indisciplina, a violência, a delinquência, o crime e deforma mais do que forma. Na generalidade das salas de aula é o caos. Regem-se pela mais desenfreada parvoíce, vai nelas uma festa rebaldeira onde os profes são os bombos e que todos escondem com vergonha. É justamente o que se pretende: dali passa-se para as ruas e é a doer.
Ninguém sabe isso melhor do que quem passou doze anos a limpar o pó daqueles bancos. Como lhes resta alguma autoestima não querem ser enxovalhados e fazem o manguito à ideia de regressar. Com algum jeito até terão assistido a entradas alucinadas dos próprios progenitores por ali adentro maltratando quem tentava dar o seu melhor para lhes educar os cachopos, coisa que nem saberiam o que fosse. Aconteceu-me na parte final da carreira assistir a cenas do estilo, e um belo dia, dando conta de ter andado a cantar a grândola vila morena cheio de fé a pensar no bem de gente como aquela, tive vontade de dar com a cabeça nas paredes.
E depois ai jesus que os jovens não escolhem o ensino… Pois não… Às tantas, como os seus papás, desprezam e abusam de tudo o que é de borla. Quando lá andaram talvez se tenham apercebido da vida facilitada em termos de exigência e avaliação dos colegas de carteira com necessidades educativas especiais e fingido ser tontos para terem as mesmas regalias. E não é que tinham?!... Quem sabe se agora o pudor e a dignidade que lhes restam não os afastarão daquilo tudo…
Eu não tenho dúvidas. Ter gramado a comédia da escola comuno-socialista autoriza-me a declarar sem aspas que nunca nos dias da vida a aconselharia a alguém de quem gostasse. Indicava-a sim a indivíduos que busquem desportos radicais, masoquistas que não prezem a saúde da mente ou alguém a quem deseje má vida. Fora isso, a falta de docentes não tem que ser negativa. Vai piorar, mas há males que vem por bem e espero sinceramente que um dia se lhes aplique a lei mercantil da oferta e da procura, segundo a qual a abundância de um produto o deprecia e a escassez o valoriza.
(Nordeste - mar. 2020)
Manuel Eduardo Pires. Estes montes e esta cultura sempre foram o meu alimento espiritual, por onde quer que andasse. Os primeiros para já estão menos mal, enquanto a onda avassaladora do chamado progresso não decidir arrasá-los para construir sabe-se lá o quê, mas que nunca será tão bom. A cultura, essa está moribunda, e eu com ela. Daí talvez a nostalgia e o azedume naquilo que às vezes digo. De modo que peço paciência a quem tiver a paciência de me ir lendo.
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