O cenário foi descrido hoje à Lusa por Artur Aragão, produtor de azeite e vice-presidente da Associação de Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro (AOTAD), que não antevê uma redução do preço deste produto tão depressa, devido à soma de vários fatores.
O azeite é dos produtos que mais peso económico tem na região transmontana, a segunda maior produtora portuguesa depois do Alentejo, e a organização representativa do setor teme “tempos difíceis” com a quebra na produção causada pela seca, o aumento dos custos de produção e a redução de consumidores devido à crise dos preços.
O azeite consta no cabaz de 44 bens alimentares essenciais que beneficiarão da medida IVA a 0% anunciada pelo Governo, que “não vai ter impacto nenhum”, na opinião do vice-presidente da AOTAD.
“Estamos a falar, num preço/litro de cinco a seis euros, em 30 cêntimos por litro o que não é significativo”, concretizou, antecipando que o preço do azeite continuará alto.
Segundo esclareceu, a redução do imposto não anulará os impactos do mau ano agrícola, com quebras na produção de azeite na ordem dos “70%” devido à seca, “o que faz com que o preço se tenha elevado”, segundo disse.
“O azeite é pouco, prevê-se que em setembro já não haja azeite para vender, não havendo azeite para vender o consumidor também não tem como comprar, então os preços acabam por aumentar mais ainda”, apontou.
O preço está a gerar outra preocupação no setor, já que, “a partir do mês de dezembro e, nomeadamente, janeiro notou-se uma quebra no consumo bastante grande”.
“Nas grandes redes aponta-se para uma quebra na faixa dos 40%”, concretizou.
Este ano, os produtores receberam mais pelo azeite, seis euros contra os três do ano anterior, mas, como realçou, o aumento não compensou devido à quebra de “70% na produção”.
“Vai ser um ano terrível. Há muita gente, este ano, que não recebe um único cêntimo, porque teve apenas azeite para consumo próprio”, afirmou.
Os maiores produtores, como a Casa Aragão de Alfândega da Fé, de que é proprietário, também sentem as consequências nos “contratos renegociados” para redução dos volumes, com clientes, nomeadamente na exportação.
“Tem havido entendimento entre as duas partes, nós não temos tanto para vender, mas eles também não querem comprar tanto como tínhamos acordado”, indicou.
Este produtor transformou este ano menos de metade (2,8 milhões) dos 6,3 milhões de quilos de azeitona transformados na campanha anterior.
O maior medo de Artur Aragão é “quanto tempo vão demorar a voltar, as pessoas que migraram do consumo do azeite para o consumo de outras gorduras”.
“Com o tempo vai-se tudo equilibrando e os preços vão voltar a cair, no entanto, eu temo que, com este aumento de preço do azeite, em que o consumidor não tenha capacidade financeira para adquirir azeite, depois fazer o retorno ao azeite vá demorar mais tempo”, referiu.
O vice-presidente da AOTAD não perspetiva, ainda que aumente a produção, que a próxima campanha possa trazer já boas notícias ao setor, para o qual defende água como prioridade, em termos de ajuda.
“O ano passado ficou nítido que o clima está a mudar e que é preciso fazer alguma coisa, nós não podemos continuar a ver a água ir para o mar , nós temos que reservar a água e saber utilizá-la e para isso é preciso investir em regadio e na formação do agricultor para utilização dessa própria água”, defendeu.
O que “devia ser feito também”, continuou “era baixar os combustíveis”, porque baixavam também os transportes e, consequentemente, o preço de “todos os produtos, não só aqueles que têm o IVA de 6%”.
A proposta de lei do Governo que isenta de IVA uma lista de produtos alimentares foi hoje enviada para a Assembleia da República, com o diploma a detalhar que a medida inclui legumes, carne e peixe nos estados fresco, refrigerado e congelado. Nas gorduras estão incluídos o azeite, óleos vegetais e manteiga.
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