Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
A aldeia dói-me… como se há mil anos aqui vivesse, nas ruinas dos casebres, no forno apagado, no moinho sombrio, no ribeiro que secou… nas lavadeiras que silenciaram o dizer…
… todos partiram, sem acomodar as vacas, sem apascentar o rebanho, sem fazer a segada, sem malhar o trigo… sem embebedar as mágoas, na taberna, domingo à tarde…
… até as mulheres se esqueceram de ralhar com as vizinhas por causa das pitas que lhe debicavam o renovo!... e foram-se embora… entardecia…
… todos se foram deixando dependurado o eco longínquo… dos gritos que se calaram…
… e fiquei eu … sombra de ninguém… silenciosamente à espera do vento de feição… e das asas da madrugada… para partir…
… nesse dia começará a primavera!... e haverá ramos floridos em todas as macieiras… e goivos em todos os caminhos!
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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