terça-feira, 28 de março de 2023

O que me faz chorar

Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)


Faz-me chorar o silêncio da noite a pousar, leve, como pena no meu corpo. O canto apagado dos pássaros. A força com que me dou, solta em voos rasos!
Faz-me chorar…
Faz-me chorar a vil mentira dos ódios, dos escárnios que me engasgam, esses punhais que a alma me rasgam! O silêncio da minha voz que grita num uníssono crescente. As dores que ninguém ouve, as mortes que ninguém me sente.
Faz-me chorar a água que corre em gotas vertidas que o meu rosto lavou e nunca deixou tocar em lágrimas de sol pela distância dos dias. Como memórias tontas, dispostas no tempo, embrutecidas.
Faz-me chorar, sim… Porque tudo parte. 
Porque tudo me parte nessa dor ardente e de mim se transforma em metade de outra metade sempre ausente.
E se visse poder merecer-me estas loucuras tão minhas, entre quatro paredes, quantas lágrimas por mim desceriam e de mim saudades teriam.
Cubro com os meus braços o que de infinito em mim existe e pergunto-me, com a pele amarga do passado: por que razão, um dia, não partiste, sem voltar, desse tanto que te faz chorar?

Paula Freire
- Natural de Lourenço Marques, Moçambique, reside atualmente em Vila Nova de Gaia, Portugal.
Com formação académica em Psicologia e especialização em Psicoterapia, dedicou vários anos do seu percurso profissional à formação de adultos, nas áreas do Desenvolvimento Pessoal e do Autoconhecimento, bem como à prática de clínica privada.
Filha de gentes e terras alentejanas por parte materna e com o coração em Trás-os-Montes pelo elo matrimonial, desde muito cedo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita, onde se descobre nas vivências sugeridas pelos olhares daqueles com quem se cruza nos caminhos da vida, e onde se arrisca a descobrir mistérios escondidos e silenciosas confissões. Um manancial de emoções e sentimentos tão humanos, que lhe foram permitindo colaborar em meios de comunicação da imprensa local com publicações de textos, crónicas e poesias.
O desenho foi sempre outra das suas paixões, sendo autora das imagens de capa de duas obras lançadas pela Editora Imagem e Publicações em 2021: Cultura sem Fronteiras (coletânea de literatura e artes) e Nunca é Tarde (poesia).
Prefaciadora do romance Amor Pecador, de Tchiza (Mar Morto Editora, Angola, 2021) e da obra poética Pedaços de Mim, de Reis Silva (Editora Imagem e Publicações, 2021).
Autora do livro de poesia Lírio: Flor-de-Lis (Editora Imagem e Publicações, 2022).
Em setembro de 2022, a convite da Casa da Beira Alta, realizou, na cidade do Porto, uma exposição de fotografia sob o título: "Um Outono no Feminino: de Amor e de Ser Mulher".
Atualmente, é colaboradora regular do blogue "Memórias... e outras coisas..."-Bragança, da Revista HeliMagazine e da Revista Vicejar (Brasil).
Há alguns anos, descobriu-se no seu amor pela arte da fotografia onde, de forma autodidata, aprecia retratar, em particular, a beleza feminina e a dimensão artística dos elementos da natureza, sendo administradora da página de poesia e fotografia, Flor de Lyz.

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