Por cada pessoa acolhida, há 14 anos que as famílias recebem 225 euros destinados à prestação de serviços. O valor passa para o dobro se a pessoa for dependente. Recebem ainda 222,27 euros para a manutenção de cada uma das três pessoas que podem ter em casa.
Segundo os Censos 2021, há 182 idosos por cada 100 jovens, e num distrito ainda mais amargurado nestes termos, as famílias de acolhimento consideram que deviam receber mais. É o caso de Luísa Pires, que vive em Sortes, no concelho de Bragança. Feitas as contas, no que toca ao valor pago para manutenção, são sete euros por dia... e o valor não chega. “Está muito longe de ganharmos o ordenado mínimo. O dinheiro que eu ganho gasto-o com eles e não me chega. Quando fiquei de família de acolhimento valia a pena mas agora não. Com aquilo que ganho… comemos. Temos um X pelo trabalho e o outro é para manutenção deles, para comida, água, luz, que, supostamente, suportaria isso, mas fica muito aquém. Estou a fazer isto contra a vontade de toda a gente. Em qualquer sítio ganhava o ordenado mínimo, tinha férias e final da tarde livre. Aqui não tenho liberdade”.
Margarida Pinto vive em Bragança. Tal como Luísa Pires, acolhe três idosos e diz que é incomportável ganhar o mesmo que em 2009, sendo que os alimentos, a água, luz e gás têm vindo a encarecer. “Da maneira que não actualizam os salários, uma pessoa anda mesmo desanimada. Vemos tudo a subir, a reforma dos idosos, pouco ou muito, todos os anos é aumentada, a prestação que lhes dão à Segurança Social também é aumentada, todos os anos, em Janeiro, fazem uma actualização, mas connosco não. Antigamente compensava. Agora não. Eu fiquei sozinha com dois filhos e desenrasquei-me. Dava para os gastos e sobrava. Agora não chega ao fim do mês”, referiu a mulher, que diz que era justo estarem a receber, “pelo menos, 800 euros”, até porque nestas famílias “estão melhor que num lar”.
Sónia Xavier, de Macedo de Cavaleiros, considera que o que lhes é pago devia ser actualizado mas também reclama que estas famílias tenham outras condições, uma vez que trabalham a recibos verdes, 24 horas por dia, sete dias por semana e para terem férias têm que esperar que os utentes sejam temporariamente encaminhados para lares ou unidades de cuidados continuados, o que nem sempre é nada fácil. “Nós ficamos doentes e não temos direito a nada. Eu consegui férias porque pedi descanso de cuidador. Tenho pessoas completamente acamadas e elas foram inseridas em unidades de cuidados continuados mas naquele mês que tive férias não recebi nada e ainda tive que pagar a minha contribuição à Segurança Social. Eu mantenho-me porque as pessoas que acolho já estão comigo há muitos anos e abandoná-las está praticamente fora de questão”.
Isabel Bernardo, coordenadora das Famílias de Acolhimento de Idosos e Adultos com Deficiência do Centro Distrital de Bragança da Segurança Social, mostrou-se disponível para responder a algumas questões, por e-mail, mas aguardamos a resposta há mais de uma semana. Fica assim por se saber quantas famílias de acolhimento há no distrito, se o número tem vindo a reduzir e se entende que o valor pago é justo.
Ainda assim, o director do Centro Distrital de Bragança da Segurança Social, falou desta matéria, em Janeiro, no âmbito da “Academia Familiar”, um projecto entre a Fundação Caixa CA - Caixa de Crédito Agrícola Mútuo do Alto Douro e a Unidade Local de Saúde do Nordeste, para dar formação a estas famílias. Orlando Vaqueiro confirmou que o número estará a diminuir. “São importantes, pena é que tenham vindo a diminuir. As pessoas que eram famílias de acolhimento, que vão adquirindo uma determinada idade, deixam de o ser, talvez o montante que é pago às famílias de acolhimento deixa de ser tão aliciante e para ser família de acolhimento também tem que se ter sensibilidade. Estes são os três factores que terão contribuído para esta diminuição”.
Segundo avançou o Expresso, 665 pessoas estavam internadas, no final de Janeiro, nos hospitais portugueses sem estarem doentes. O motivo é apenas um: não terem condições de sair. Os chamados “doentes sociais” já tiveram alta mas aguardam um lugar num lar ou numa unidade de cuidados continuados para reabilitação.
Idosos, isolados e dependentes é o perfil dos que ficaram nas unidades de saúde por não terem familiares ou estrutura social que os receba.
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