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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Mirandelense mantém viva tradição secular da tecelagem

 O som cadente do tear faz parte do dia-a-dia de Fátima Gomes. Desde tenra idade que sentiu o apelo da criação, auxiliada pela mãe que já era tecedeira e lhe incutiu a paixão pela tecelagem. “Isto já vem desde que nasci. A minha mãe estava grávida de mim e saiu do tear para eu nascer. Depois fui aprendendo a fazer uma coisa de cada vez e ainda cá ando”, diz Fátima.


É na sua casa, na aldeia de Lamas de Orelhão, no concelho de Mirandela, que a única tecedei-ra de lã natural que ainda vai resistindo na região da Terra Quente Transmontana, todos os dias se senta em frente a um dos três teares tradicionais que ainda tem para trabalhar. Com 18 anos emigrou para França de onde regressou pouco depois dos 30 anos e até hoje, agora com 68 anos. “Nunca mais parei. Fiz muitas feiras de Norte a Sul de Portugal”, conta.

O trabalho do tear não a desmotiva, e repete meticulosamente os movimentos que darão vida às suas obras. Realiza o fio de uma só cor ou com matrizes, misturando lã de várias tonalidades, conseguindo tons extraordinários com as suas cores naturais. Primeiro eram mais cobertores, mas agora também são carpetes e tapetes, muitos tapetes. Um deles estava a ser acabado. “Estou a fazer com as cores todas que há nos rebanhos, nas ovelhas. O branco, o mesclado que é meio cinzento, o castanho e temos esta cor que é a cor das cordeiras quando se tosquiam que é das badanas”, explica.

Mas antes da lã de ovelha chegar ao tear, há ainda muito trabalho a fazer. “Tem de ser lavada, cardada, fiada e antes de ser utilizada ainda a passo pela máquina de lavar para acabar de tirar os cheiros e depois o fio que a gente faz do tecido”. Depois disso, é trabalhado no tear até à obra final. “Mete-se o fio, o tear abre, o pé está a abrir os liços e mudo o pé e os liços também se mudam, o que faz o cruzamento dos fios”, revela.

Para lá da sabedoria e do carinho colocado em cada peça, Fátima confessa que também é necessário alguma destreza física para manusear o tear. “O braço e a perna que abre o tear estão sempre a ser usados”, conta.

Esta tecedeira não consegue passar um único dia sem uma visita ao seu atelier. “Nem que seja só uma pequena coisa tenho de vir, porque isto é a minha paixão. É a minha família, as minhas filhas e o meu marido, e os meus teares”, admite.

Se hoje em dia ter um tear é um verdadeiro achado, antigamente era frequente ser até prenda casamento. “Muita gente acabou por queimar os teares. Antigamente, contava a minha mãe e a minha avó, que só aqui nas Lamas chegou a haver 25 tecedeiras. Depois as filhas casavam, e o dote de casamento era um tear, mas depois veio a emigração e acabou-se, agora só resto eu”, diz.

E não há duas peças iguais, todas elas são originais e trazem reconhecimento além-fronteiras, com encomendas para vários países como a França, a Bélgica a Suíça ou o Japão.

Fernando Pires

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