A obra que vai ser apresentada às 15h00, na Casa da Cultura de Sendim, consiste num trabalho de investigação documental sobre a perseguição perpetrada pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) ao cantor e compositor José Afonso.
De acordo com o comunicado, o célebre “Zeca Afonso” foi alvo de censura, proibições, detenções, interrogatórios e prisões.
“A vampiragem da PIDE/DGS praticou voo raso permanente sobre José Afonso, tentando por todos os meios repressivos calar o cantor que protestava em nome da liberdade e condicionar a resistência e militância de cidadão “desafecto”. (…) Expulsou-o do ensino, proibiu-lhe as cantigas, procurou tolher-lhe os passos todos, apreendeu-lhe discos e livros, vasculhou-lhe a casa e importunou os seus amigos. A perseguição foi permanente!”, escreve.
Recorde-se que a Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) foi criada a 22 de outubro de 1945, no auge do Estado Novo e tinha como função perseguir, prender e interrogar qualquer individuo que fosse visto como inimigo à ditadura salazarista.
A PIDE também dirigia a censura e todos os artigos de imprensa e obras de arte – música, literatura, teatro, cinema, artes plásticas -, eram cortados, editados ou proibidos com um lápis azul antes de serem publicados.
Para a elaboração do livro “José Afonso – A patriótica espia sabia onde morder…”, Mário Correia consultou documentação em diversas publicações e outras fontes, como o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, onde o “Dr. José Afonso” ou “Zeca Afonso” estava referenciado, em ofícios e relatórios elaborados pela PIDE/DGS , num total de quase seis centenas de documentos.
Em 1968, com a subida ao poder de Marcello Caetano, a polícia política (PIDE) tinha uma “má” reputação perante o povo português, levando o novo governante a dissolver a PIDE. Mais tarde, a 24 de Novembro de 1969, foi oficialmente criada a DGS (Direção-Geral de Segurança) que manteve as mesmas funções da antiga PIDE.
Este sistema autoritário só terminou com a revolução do 25 de Abril de 1974, quando um grupo de jovens capitães levou a cabo um golpe de Estado, que derrubou a ditadura, abrindo caminho para a instauração da democracia.
Mário Correia
Investigador do Instituto de Estudos de Literatura Tradicional da Universidade Nova de Lisboa e membro da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
Faz parte do Conselho Consultivo da Associação José Afonso e do Observatório da Canção de Protesto.
Entre 1990 e 1998 integrou o núcleo de programação do Festival Intercéltico do Porto e a partir de 2000 a direção e organização do Festival Intercéltico de Sendim.
É autor de livros como "Tamborileiros & Fraiteiros da Terra de Miranda"; "Pairavam abutres nas Arribas"; "Adriano Correia de Oliveira - Um Trovador da Liberdade", entre outras obras.
Prémios e distinções:
XII Prémio Europeu de Folklore Agapito Marazuela (2007, Segóvia, Espanha), Chosco de Oro (2010, Navelgas, Astúrias), Medalha de Mérito Cultural (2012, Governo de Portugal), Prémio Mérito Etnografia e Tradição (2019, Fundação INATEL) e Prémio Serondaya de Ciencias de la Cultura Humana (2019, Mieres, Astúrias).
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