A grande maioria dos cuidadores informais nem sabe que o é. Tratam dos que lhes são próximos e anulam-se, num acto de sacrifício e amor, para o outro continuar a viver. Transformam as casas em hospitais e as vidas num turno sem fim, onde descansar não é opção. Perante tanto esforço, lamentam que o Estado não ajude como deveria.
Isabel Garcia, de Alfândega da Fé, cuida do filho, que é tetraplégico, mas não beneficia do Estatuto de Cuidador. A burocracia foi um entrave ao pedido e, além disso, esta e o marido são pensionistas. “Pediam muitos papéis e eu não aceitei. Vim da Suíça, mas pedi a minha pré-reforma para cuidar do meu filho. Sou pensionista, o meu marido também e o meu filho tem a pensão dele e, por isso, disseram-me logo que não ia receber apoio. Cheguei a pagar muitas vezes a ambulância para ir ao Porto, há medicamentos que o meu filho paga por conta dele”, contou.
A vida desta mulher sofreu uma reviravolta radical quando o filho, Bruno Garcia, de 46 anos, teve um acidente de moto. Actualmente come através de uma sonda, move-se em cadeira de rodas e precisa de cuidados constantes. Apesar de “não ser uma vida fácil”, a mãe afirma que vai cuidar do filho “até à morte”.
Isabel Garcia estava emigrada na Suíça. Com o acidente, decidiu reformar-se e regressou a Portugal com o marido. Lamenta a falta de ajudas monetárias mas também assume que era necessário outro tipo de apoio a nível de assistência médica. “A médica vem de dois em dois meses visitar o meu filho, tenho uma enfermeira que vem de vez em quando, só que às vezes telefono porque estava em aflição e não estavam ou estavam ocupadas”, disse.
Elvira Martins, também é de Alfândega da Fé, mas, ao contrário de Isabel Garcia, tem o Estatuto. Apesar de cuidar do marido há mais de quatro anos, só beneficia dele há alguns meses e garante que foi um processo longo. Apesar de receber ajudas, tanto a nível financeiro como na medicação, garante que a mais cara tem de a “pagar do próprio bolso”. “É muito sofrimento. Ele nunca quis que eu trabalhasse e agora tenho de trabalhar e cuidar dele. É o único sustento. A casa é da câmara, pago a renda. A medicação é muito cara, tenho um cartão que me deram, mas só paga a medicação mais barata, a mais cara não me pagam”, contou.
Já a pensar na altura em que se aposentará, disse, convictamente, que vai “com uma mão à frente e outra atrás”.
O Estatuto de Cuidador Informal foi aprovado e reconhecido pelo Governo português em 2019. Este ano sofreu alterações como os cuidadores informais não terem de partilhar o domicílio fiscal com a pessoa cuidada.
Segundo os dados do Instituto da Segurança Social, relativos a Julho, que a Agência Lusa avançou, em Portugal há cerca de 15 mil cuidadores informais, sendo que cerca de 9200 eram cuidadores principais e mais de 5700 eram cuidadores não principais. No entanto, apenas 5340 cuidadores principais receberam a prestação no valor de 351,30 euros.
O Jornal Nordeste tentou ainda obter dados sobre os cuidadores informais da região, tendo contactado o Centro Distrital da Segurança Social de Bragança. Aguardámos a resposta mais de duas semanas, mas não chegou.
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