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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite, Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues, João Cameira e Rui Rendeiro Sousa.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

A ética da reciprocidade na política

Por: César Urbino Rodrigues
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")


 Sartre conta, no seu livro «O existencialismo é um humanismo», a história dum aluno que, no auge da II Guerra Mundial, lhe colocou, no final duma aula, a seguinte questão: o seu pai havia traído o país, tornando-se colaboracionista dos alemães, pelo que foi expulso de casa. O seu irmão mais velho, combatendo no exército francês, foi feito prisioneiro, pelos alemães. Entretanto, ele acabara de ser chamado para se alistar no exército. Só que era o único sustento da sua mãe, e, se se alistasse, ela corria o risco de morrer à fome. Perante esta situação, perguntava a Sartre:
- Devo alistar-me e abandonar a minha mãe ou devo recusar o alistamento, traindo a Pátria?
Qual foi a resposta de Sartre a este seu jovem aluno? Muito simples, embora contrária ao que muitos pensaríamos: faz o que tu achares melhor, lembrando-te que, ao escolheres a melhor opção para ti, estás a escolher a melhor opção para toda a Humanidade.
No fundo, este conselho de Sartre não é diferente do imperativo categórico de Kant, que aqui deixo numa tradução livre: age de tal maneira que a tua conduta possa transformar-se numa máxima universal.
Sem entrar em especulações filosóficas abstratas, estou inclinado a dizer que, no fundo, o que tanto Sartre como Kant diziam não é diferente do que diz a sabedoria popular: “não faças aos outros o que não queres que te façam a ti”, que eu prefiro na sua versão positiva: “age com os outros como gostarias que os outros agissem contigo, nas mesmas circunstâncias”.
Lembro-me, muitas vezes, desta máxima popular, porque são muitas as situações do quotidiano em que as pessoas se deixam enredar em contradições entre aquilo que se exigem a si mesmas e aquilo que exigem dos outros. Aqui, porém, vou aplicar esta máxima apenas a alguns casos mais recentes da política. 
É frequente, por exemplo, os políticos criticarem, na oposição, os mesmos processos que adotaram quando estiveram no governo e, em sentido inverso, fazerem no governo o que criticaram quando estavam na oposição.  
No entanto, mais grave do que tudo isto é o que se está a passar com André Ventura, que, com a sua ideologia do ódio, tem ultrapassado todas as marcas da ordinarice, do oportunismo e da falta de ética na política. Basta recordarmos as propostas que apresentou, em termos penais, defendendo a mutilação dos violadores e a amputação das mãos aos condenados por furto. 
É certo que, num Estado de Direito, nenhum crime pode ficar impune. No entanto, qual é a ética de quem propõe a amputação das mãos de quantos furtem 50 ou 100 euros, e nada propõe para os que furtam milhões e, até, milhares de milhões de euros, como aconteceu com Ricardo Salgado, do BES, com Dias Loureiro e seus comparsas, do BPN, e com João Rendeiro, do BPP, e por aí fora?
Além disso, são conhecidas as múltiplas mentiras de André Ventura, nomeadamente a promessa feita em campanha eleitoral de vir a exercer, em exclusividade, as suas funções de deputado, se fosse eleito, e, depois, acabar por acumular três atividades profissionais, todas remuneradas, já que foi, simultaneamente, deputado, comentador pago na CMTV e funcionário duma grande empresa, à qual conseguiu evitar o pagamento de 1 milhão de euros ao fisco. Pergunto aos leitores: à luz da ética da reciprocidade, não haveria legitimidade para propor que lhe fosse cortada a língua para nunca mais dizer mentiras, nem disparates?... 
E o que é que André Ventura devia fazer a Nuno Pardal que, enquanto militante do Chega, defendia a castração química dos pedófilos e veio a saber-se que era um pedófilo descarado que contratava, via net, adolescentes para satisfazer os seus apetites de pedófilo? E, já agora, não seria também uma imposição ética que o próprio Ventura cortasse as mãos a Miguel Arruda, que, enquanto deputado do Chega, roubava malas no aeroporto para, de seguida, vender “online” o produto dos seus roubos?
E são estes líderes de partidos políticos que dizem querer limpar Portugal dos criminosos e dos corruptos?


César Urbino Rodrigues
, natural da aldeia de Peredo dos Castelhanos, concelho de Moncorvo, estudou 9 anos no Seminário de Macau, fez a licenciatura em Filosofia na Universidade do Porto, o Mestrado em Filosofia da Educação na Universidade do Minho, com uma tese sobre «As Coordenadas fundamentais da Educação no Estado Novo», e o doutoramento na Universidade de Valhadolid, em Teoria e História da Educação, com uma tese sobre a «Representação do Outro No Estado Novo. Foi professor no ensino secundário, na Escola do Magistério Primário de Bragança, no ISLA de Bragança, no Instituto Piaget de Mirandela e DAPP na Escola Superior de Educação de Bragança.

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