"Plano del Castillo de la Villa de Moncorbo". Desenho a tinta da China por Beltrán Beaumont e Pedro Beaumont, 1762. |
História
O castelo medieval
A povoação recebeu foral pelo seu senhor, Mendo Curvo (cujo nome. por evolução fonética terá originado o topónimo), em 1062.
À época da formação da nacionalidade, D. Afonso Henriques – futuro Afonso I de Portugal (1143-1185) - confirmou-lhe o foral entre 1128 e 1140.
No reinado de Afonso III de Portugal (1248-1279) as Inquirições de 1258 referem a aldeia de Torre de Moncorvo como termo da vila de Santa Cruz de Vilariça, com a sua igreja de Santiago, situada na encosta onde existe hoje o cemitério.
Dinis I de Portugal (1279-1325) concedeu foral a Torre de Moncorvo, recriando-a como “vila nova” (1285). O diploma constituiu-se numa transcrição do foral anteriormente concedido por Sancho II de Portugal (1223-1248), em 1225, a Vilariça (antiga cabeça de Terra da região), atribuindo-lhe simultaneamente o termo daquela vila. Torre de Moncorvo instituiu-se assim como principal sede administrativa e militar da zona. Em 1286 foi feita a concessão de toda a parte norte desse termo a uma nova vila, entretanto criada na Vilariça - Vila Flor. Datará deste período a construção do castelo, citado pelo próprio soberano já em 1295, numa carta resolvendo uma contenda entre os concelhos de Vila Flor e Torre de Moncorvo por "razom da fortaleza que mandei fazer em essa vila da torre de meencorvo, e porque eu mandey que metesedes as terças das eigrejas de vila frol primeyramente, e depois que er metesedes as terças da torre de meencorvo na fortaleza de vila frol".
Sob o reinado de Afonso IV de Portugal (1325-1357), regista-se uma escritura entre a Câmara e dois mestres de pedraria – João e Pero Peres - para fazer uma porta de pedra na barbacã a sul do castelo (1337).
No reinado de Fernando I de Portugal (1367-1383), uma carta régia determinou que os moradores de Urros e do Peredo fossem obrigados a trabalhar na obra de fortificação de Torre de Moncorvo desde o "cubo novo até ao cubo da porta do castelo com a barbacã que está a par do cubo novo" e limpar a "carcova", durante dois dias por semana, com vinte homens por dia (1366). Posteriormente, outra carta do mesmo soberano confirma a anterior doação de Urros a Torre de Moncorvo, porque aquele lugar "era terra chãa e de pouca campanha e que nom auya nem huma fortaleza", levando a concluir que a sua antiga fortaleza já tinha desaparecido (1376). No mesmo ano (1376), outra carta do mesmo soberano determinava que os moradores das aldeias de Urros e de Maçores, do termo da vila de Moncorvo, deixassem de prestar a adua (anúduva) para as fortificações de Freixo de Espada à Cinta como costumavam e passassem a prestá-la nas obras da vila de Moncorvo. Complementarmente o soberano ordenou que se fizessem na muralha mais oito cubelos para além dos que já existiam. Posteriormente ainda, em 1377, D. Fernando ordenou que os moradores de Foz Côa e Vila Flor pagassem um imposto para que se prosseguissem com as obras do castelo.
No desfecho da Crise de Sucessão de 1383-1385, o novo soberano, João I de Portugal (1385-1433) ordenou que Alfândega da Fé, Castro Vicente, Mogadouro, Bemposta e Penas Róias prestassem a "addua" para se reparar a cerca. Retoma também a medida de D. Fernando.
Do século XVI aos nossos dias
Manuel I de Portugal (1495-1521) concedeu o Foral Novo à povoação (1512).
No reinado de seu herdeiro e sucessor, João III de Portugal (1521-1557), uma informação de 1530, dá conta de que a cerca da vila estava derribada, o que levaria à execução de trabalhos de reparo. Outra informação dá conta de que foram empreendidas obras no castelo por António Fernandes (1556).
No início do século XVIII o castelo foi descrito como tendo "muralha ao uso antigo, com três portas e, a seus lados, baluartes ou cubelos redondos, um castelo de cantaria, em forma quadrada, com duas torres, quatro cortinas e dois baluartes redondos". (COSTA, António Carvalho da. “Corografia Portugueza e Descripçam Topografica do Famoso Reyno de Portugal (…)”, 1706-1712.) No final do século, o corregedor mandou construir um bocal de cantaria no poço, com 5 palmos de alto, com uma porta por cima, para o proteger (1700).
Por volta de 1718, de acordo com Miguel Soromenho, ter-se-ia construído, provavelmente, o aljube de Torre de Moncorvo. Em 1721 outra informação dá conta de algumas portas e trechos da cerca haviam sido demolidas. Mais tarde, em 1740, a água do poço era reportada como imprópria para consumo pela população, mas útil em caso de incêndio. Em 1748 o matadouro foi transferido para junto do arco da Boavista, ou seja, a porta leste das muralhas. Em 1788 foram construídas "tendas" ao longo do paredão do castelo, para os feirantes exporem os seus produtos, com assentos de cantaria, com 3 palmos de altura, desde a ponta do pelourinho até ao chafariz pequeno. Os trabalhos ficaram a cargo do canteiro Luís da Costa, ao custo de 9$000 réis.
No início do século XIX as muralhas do castelo foram parcialmente demolidas, e a residência dos alcaides deixou de ser habitada, o que acelerou o processo de ruína do conjunto. Em 1815 a sua pedra foi reaproveitada para a construção do quartel do Batalhão de Caçadores nº 5 em Corredoura. Posteriormente, a queda de um raio sobre a residência dos alcaides, causou danos, e a antiga Igreja de Santiago foi demolida para ampliação do cemitério.
O presidente da Câmara, Luís Cláudio de Oliveira Pimentel, em 1834 sustentou que para que Moncorvo pudesse crescer, era necessário que se procedesse à demolição do castelo. Por se localizar entre a vila velha e a vila nova, com acesso possível apenas por uma artéria estreita e íngreme, e reconhecendo a impossibilidade da reedificação da alcáçova, em 1842 a Câmara, projetou a construção de um passeio público (o Largo do Castelo) e a edificação dos novos Paços do Concelho no local onde se situava o castelo.
Tendo Alexandre Herculano condenado a destruição do castelo (1878), em 1907 o largo do Castelo foi batizado como Passeio Público de Alexandre Herculano. Neste mesmo logradouro foi implantado um busto de Abílio Campos Monteiro (1876-1933), da autoria do escultor Castro Caldas (1938).
Os remanescentes do conjunto, alguns troços de muralha na altura da Praça da República e adjacências, encontram-se classificados como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto nº 40.361, publicado no Diário do Governo, I Série, nº 228, de 20 de outubro de 1955.
Em 1970, quando da regularização da rua, procedeu-se o aterro do antigo poço. Ainda no século XX, prospeção arqueológica no jardim fronteiro ao castelo, colocou a descoberto as fundações da muralha, que foram cobertas com estrutura metálica.
Em nossos dias, do antigo castelo subsistem apenas restos das suas fundações e alguns troços de muralha, alguns integrados nas habitações e outros à vista, bem como três portas. Destas, destaca-se a chamada porta da Vila ou de Nossa Senhora do Rosário.
Características
Castelo urbano, em posição dominante a oeste da vila medieval, na cota de 403 metros acima do nível do mar, apresentava planta quadrangular irregular, em aparelho de granito. A sua praça de armas estava livre de quaisquer edificações. Um desenho datado de 1815 permite reconhecer que o castelo apresentava duas torres, uma voltada para o interior e outra para o exterior, sendo que uma porta em arco abatido, a leste, permitia o acesso ao recinto.
A vila era envolvida por uma cerca de planta ovalada, em estilo gótico, em aparelho de xisto, onde se rasgavam três portas:
• a Porta de São Bartolomeu, a norte, flanqueada por duas torres de planta circular;
• a Porta de Nossa Senhora dos Remédios (Porta da Vila), a leste, flanqueada por duas torres de planta circular; sobre esta foi erguida, no século XVII uma pequena capela sob a invocação da Senhora dos Remédios com fachada rasgada por porta de verga reta que se abria para o interior da vila; e
• a Porta do Castelo, a sul, defendida pelo castelo em si.
A lenda do Castelo de Moncorvo
De acordo com a lenda local, há muitos séculos viveu naquela região um homem chamado Mendo ou Mem. Embora alguns afirmem que se tratava de um poderoso senhor, a lenda faz dele um pobre lavrador que habitava uma choupana com sua mulher, não muito longe do monte Reboredo.
Certo dia, em seu trabalho, Mendo achou um tesouro enterrado sob um penedo do monte. Vendo-se, de súbito, tão rico - o tesouro era fabuloso -, o lavrador sentiu fugir-lhe o juízo... Logo, porém, recuperou o sangue frio e, reconhecendo ser melhor manter em segredo aquele achado, para que lho não cobiçassem tratou de pensar no que lhe fazer, onde o guardar.
Tamanha era a sua alegria que não cabia em si e, no íntimo, desejava partilhar o seu segredo com alguém que consigo se regozijasse. E, como a pessoa que mais perto de si estava, por muitas razões óbvias, era a mulher, sentiu uma imensa vontade de lhe contar a felicidade que acabara de ter. Contudo, Mendo era desconfiado, e como conhecia a mulher de ginjeira achou que ela não seria capaz de guardar segredo por muito tempo.
Assim, decidiu arranjar uma mentira para a pôr à prova. Depois de muito pensar, encontrou o que dizer e foi ter com ela.
- Anda cá, mulher, senta-te aqui comigo nesta pedra! Quero contar-te uma coisa, mas tens de prometer guardar segredo...
- Então o que é? Conta, homem, conta!
- Juras que não contas nada disto a ninguém?
- Juro pois! ...por estes dois que a terra há-de comer!... - disse ela apontando para os olhos.
- Então lá vai: calcula que vi hoje um corvo parir um par de corvinhos!...
- Ora homem, isso é lá possível!?
- ...eu seja ceguinho!
A mulher ficou-se um pouco incrédula, sentada na pedra, enquanto ele se afastava para ir à sua vida, contente com a história que arranjara. Agora era só esperar algum tempo, ter um pouco de paciência, e ver o resultado. Durante algum tempo, a mulher quedou-se pasmada com a história que o marido lhe contara: “Era lá possível um corvo parir, parir como gente!?... Não, não é verdade! Aquilo foi o homem a mangar comigo!...”
Sem poder conter-se mais, e como segredo é aquilo que se conta a uma pessoa de cada vez, foi dali à vizinha mais próxima relatar o que dissera o marido. Desta vez o corvo já não tinha parido dois corvinhos, mas quatro e, é claro, tudo isto era um segredo.
Acabada a conversa, despediram-se as vizinhas e foi dali cada uma contar a outra pessoa. De tal modo se espalhou o segredo que em breve toda a gente da região conhecia a história do corvo parindo, em variadíssimas versões.
Em vista disto, Mendo, o lavrador, decidiu ocultar de todos o seu segredo, o seu tesouro, e para isso construiu uma grande torre onde passou a morar para melhor defender o seu ouro.
Do nome do lavrador e da história do corvo, ficaram a chamar à construção Torre do Mendo (ou Mem) do Corvo. Com o tempo, esquecida a história, o povo foi simplificando o nome até chamar ao local “Torre de Moncorvo”.
in:fortalezas.org
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