Fabrice Bastiana é o presidente da Associação Cultural para o Estudo e Investigação da Terra Transmontana (ACEITTA), que se tem dedicado a promover as tradições e actividades culturais em Mogadouro.
Fabrice Bastiana é o presidente da Associação Cultural para o Estudo e Investigação da Terra Transmontana (ACEITTA), que se tem dedicado a promover as tradições e actividades culturais em Mogadouro. O projecto surgiu para diversificar a vertente cultural na vila.
Jornal Nordeste (JN) - Porque sentiram necessidade de criar a associação ACEITTA em Mogadouro?
Fabrice Bastiana (FB) - De alguma maneira, a parte cultural da vila estava um bocado parada e havia mais de uma pessoa interessada em fazer um projecto que abraçasse a cultura. A ideia veio de um vazio que havia nessa área e o associativismo é uma maneira de conseguir chegar lá. Em 2010, começámos com o teatro, com espectáculos de palco e pequenos apontamentos, como leituras encenadas, contos e poesia. Passados dois ou três anos, surgiu a oportunidade para começar a trabalhar o património cultural, e aí foi tentar pegar na nossa cultura regional e pô-la ao serviço das pessoas, no sentido do lazer, mas também no sentido da aprendizagem e do conhecimento daquilo que nós somos, enquanto mogadourenses.
JN - O foco da vossa associação é a cultura tradicional. Porque é que se interessaram por essa área?
FB - Acaba por ser uma matéria-prima que temos e podemos explorar. A cultura tradicional é um recurso endógeno e procuramos, também, um projecto sustentado, com aquilo que nós temos. A nossa ideia é pegar nos pilares da nossa cultura tradicional e, não só recriar aquilo que aconteceu no passado, mas tentar trazer-lhe uma dinâmica para as necessidades que sentimos actualmente, nessa área.
JN - Parece-vos que Trás-os-Montes tem sabido valorizar a sua herança cultural?
FB - Tem conseguido, temos bastantes exemplos nos concelhos vizinhos. Todos eles conseguiram promover-se com algum produto transmontano ou característica da sua região. A nossa ideia foi projectar o conjunto dessas características que fazem parte da região no seu todo, não só um produto específico, mas aquilo que no imaginário poderá ser uma terra transmontana. E essa ideia vai sempre ao encontro da cultura tradicional, que é aquele produto de que se pode dizer: realmente, existe qualquer coisa que veio dos nossos antepassados. Há outro pormenor, é que está a haver uma ruptura na passagem desta herança cultural, das gerações que a produziram para as actuais, e já nem toda a informação está a chegar. E, claro, um povo precisa da cultura para sobreviver nos tempos, projectar o presente e o futuro. Estando a haver uma ruptura, corremos o risco de entrar numa crise cultural e ficar com um sítio vazio e sem alma. O nosso intuito é tentar inverter essa tendência. Claro que isto é um projecto que não pode trazer uma mais-valia um dia ou um mês depois, é um projecto no longo prazo. A resultar, ele tem de demorar anos a ser implementado. Não são coisas, a maior parte delas, palpáveis, são conceitos abstractos para o território.
in:jornalnordeste.com
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