O trabalho de recolha de música tradicional portuguesa registada pelo etnomusicólogo Michel Giacometti está agora disponível online através de um mapa interactivo. A ferramenta permite «viajar» desde as aldeias de Trás-os-Montes ao mar de Portimão. São nove horas de vídeos, divididas em 62 fragmentos referenciados geograficamente ao local onde foram originalmente recolhidos. Para Luís Baltazar, geógrafo e membro da iniciativa Ambitare.com, que promove o mapa, «faz falta uma grande iniciativa de âmbito nacional que projecte o etnomusicólogo para o lugar de destaque que lhe é devido».
Café Portugal - Como surgiu a ideia de avançar com este mapa interactivo sobre a obra de Michel Giacometti?
Luís Baltazar - Este mapa foi realizado no âmbito de uma iniciativa em que participo, designada «Ambitare.com, Serviços Geográficos», que tem por finalidade a educação ambiental e geográfica. Fazemos essencialmente educação ambiental in-situ numa perspectiva holística, normalmente abordamos os diversos aspectos físicos e naturais, mas igualmente as componentes humanas, o património material e imaterial, que inclui as tradições, lendas, etc. Foi precisamente num desses trabalhos de pesquisa para uma das nossas actividades que «tropeçámos» num dos vídeos do programa «Povo que Canta» disponibilizados no Youtube, pesquisando um pouco mais encontrámos muitos e surgiu a ideia de produzir uma mapa interactivo online, uma técnica que dominamos e que já utilizámos outras vezes.
C. P. - Um mapa que disponibilizam gratuitamente a todos os interessados.
L.B. - Sim, a produção deste mapa não teve qualquer objectivo comercial, nem o de gerar lucro, simplesmente foi realizado pelo prazer de o fazer, no entanto a sua elaboração representa mais de 20 horas de trabalho, distribuídas pelas diversas fases, pesquisa, preparação e elaboração, gostaria ainda de acrescentar que não colocámos qualquer vídeo online, o nosso trabalho limita-se a criar ligações georreferenciadas para vídeos que se encontram no Youtube, e que este produto deve ser visto como um complemento à filmografia completa de Michel Giacometti, editada pela Tradisom.
C.P. - O que pode o cibernauta encontrar neste mapa?
L.B. - Um mapa é uma representação visual de um determinado território, só através de um mapa é possível estudar a distribuição geográfica de um determinado fenómeno. É precisamente essa perspectiva que este trabalho confere à obra de Michel Giacometti, através deste mapa podemos de uma forma fácil e acessível, logo na primeira abordagem, visualizar a dispersão das recolhas. Depois e observando numa escala maior realizar uma análise regional e perceber as relações espaciais entre as diversas recolhas e a sua distância absoluta, permite ainda procurar de uma forma fácil e intuitiva que levantamentos foram feitos numa determinada área geográfica. Em súmula, este mapa permite de uma forma inovadora relacionar diretamente o trabalho do etnomusicólogo com o território onde foi recolhido.
C.P. - Que importância atribui ao projecto em termos de projecção da memória e legado de Giacometti?
L.B. - Ao relacionar diretamente o trabalho de Giacometti com o território onde foram efectuadas as recolhas, existindo a possibilidade de se poder disseminar ligações directas para esses locais ou regiões, isso permite uma identificação directa das pessoas que têm raízes nesses locais, contribuindo assim para potenciar o trabalho de etnomusicologia.
C.P. - Na sua opinião, que legado deixou o etnomusicólogo ao país em termos de recolha tradicional?
L.B. - Não deixa de ser irónico que o melhor trabalho sistematizado de recolha de música tradicional tenha sido realizado por um estrangeiro, mas o trabalho de Giacometti vai muito para além das recolhas musicais, nestes vídeos está retratado o modo de vida de um povo inteiro, não só das populações rurais, mas também da grande maioria das populações urbanas que têm raízes nas pequenas aldeias do interior. Os vídeos de Michel Giacometti podem constituir-se como importantes ferramentas, não só para etnomusicologia, mas também para a geografia, para a história e para a sociologia.
C.P. - O país reconhece-lhe a importância que ele merece?
L.B. - Não, apesar de algumas incitativas louváveis, Michel Giacometti e o seu trabalho estão presentes em alguns museus etnográficos e do trabalho portugueses, a expressão e a visibilidade das suas importantes recolhas encontram-se bastante esquecidas. Não obstante existir publicada a filmografia completa numa obra notável que inclui para além dos filmes informação impressa, faz falta uma grande iniciativa de âmbito nacional que projecte Michel Giacometti para o lugar de destaque me merece e que lhe é devido.
Ana Clara
in:cafeportugal.pt
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