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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Fronteiras: Constantim/Moveros (Nossa Senhora da Luz)

Fronteira Portuguesa vista do lado Espanhol
É bem sabido que a ligação entre Miranda (do Douro) e Bragança pela EN218 nem sempre resulta a melhor opção para chegar à capital do distrito. Por isso, muitos habitantes da região costumam aproveitar o bom estado da estrada espanhola N-122 que teoricamente deverá ser substituída pela auto-estrada A-11 num futuro que vai depender da duração da crise económica, mas que em parte permite hoje evitar o trânsito pela cidade de Zamora depois de ter aberto a variante norte à cidade que leva a auto-estrada a 5 km. à jusante. 

A saída natural para os habitantes do concelho de Miranda é a fronteira entre Constantim e Moveros, onde fica a capela de Nossa Senhora da Luz, situada mesmo no limite fronteiriço. Isto porque até há pouco tempo a fronteira entre Ifanes e Brandilanes, mais próxima, estava num estado lamentável, sendo que neste ano, antes do Verão, as obras da estrada da fronteira eram objecto de uma beneficiação que pedia a gritos. 

 A fronteira da Luz é uma fronteira muito permeável porque está situada num alto mas de não difícil passagem. Se Moveros e Constantim estão situados a umas altitudes que oscilam entre os 800-810 m., o limite fronteiriço fica a pouco mais de 880 m, sendo mais «íngreme» a subida (ou descida) para Moveros do que para Constantim. Ao lado fica a capela de Nossa Senhora da Luz que atinge os 899 m. o que a converte num miradouro privilegiado do Planalto Mirandês e da região de Aliste, com quem partilha bastantes afinidades. Não devemos esquecer, como já foi dito nalguma ocasião, que esta região pertenceu a Portugal e foi um arcediagado da arquidiocese de Braga que recuperou a região em 1103 pela bula do papa Pascoal II que obrigava à diocese de Astorga a restituir as terras de Ledra, Vergantia e Aliste, que tinham sido objecto de uma usurpação em 969 aproveitando o facto de a diocese bracarense não ter sido restaurada após a invasão muçulmana, tendo ficado em mãos da diocese de Lugo, que não queria largar o privilégio de ser sede metropolitana de Lugo-Braga e que só tardiamente, com o Bispo D. Pedro, finalmente foi restaurada em 1071 por iniciativa do rei da Galiza, Garcia II (se bem alguns historiadores consideram que foi o rei Sancho III de Castela, que pretendia restaurar o reino de seu pai Fernando I o Magno, reconquistador de Lamego e Viseu em 1055 e 1056 e de Coimbra em 1064), rei que acabou cegado pelo seu irmão Sancho e morreu no ano de 1091 completamente cego no castelo de Luna, no norte da actual província de Leão, no caminho para as Astúrias.

Depois destes apontamentos históricos, importa salientar o facto de a Luz ter sido um ponto de encontro entre transmontanos e alistanos sendo que a capela costuma ser objecto de peregrinação o último domingo do mês de Abril, se bem este ano a causa de umas festas da Páscoa tardias foi no segundo domingo de Maio. Após a missa, os visitantes desfrutam de um convívio onde as fronteiras são ultrapassadas pela cordialidade das relações e até a amizade entre os habitantes de um e do outro lado da fronteira. São tempos de alegria em que a Primavera já vai avançando e mostra-se propícia para os clássicos pique-niques ao ar livre.

O alto da Luz constitui um óptimo miradouro entre ambas as duas terras, tendo a sua continuação por serras que, orientadas à Oeste, costumam constituir o limite fronteiriço mas nem sempre, sem que essas elevações possam definir-se como um verdadeiro entrave às comunicações como acontece noutras partes da Raia. Essa relativamente elevada altitude faz que a vegetação, que na região de Aliste está formada por matagais de urze, giestas, tojos e estevas situados entre penedos rochosos de granito e zonas de predomínio de algumas espécies mediterrânicas como a azinheira, o que fez o território ter-se especializado na pecuária de vitela de raça alistana e a ovelha para a produção de queijo, seja substituída aos poucos por uma flora de transição onde não falta o carvalho negral e soutos de castanheiros e fetos, que indiciam um clima mais húmido em que se misturam espécies atlânticas, mediterrânicas e de transição. Como contraste, o Planalto Mirandês caracteriza-se por uns solos mais férteis que permitem a cultura do cereal, os lameiros e a pecuária da vitela de raça mirandesa, onde o destaque vai para a sua famosa posta, o ex-libris da região.

A permeabilidade da fronteira fez com que do lado português, a montante da capela da Luz, fossem situadas uma espécie de guaritas a modo de sentinelas para a vigilância de uma fronteira onde o contrabando era moeda de troca corrente de um e do outro lado. Hoje, abandonadas, são testemunhas mudas de tempos passados e miradouros privilegiados de uma paisagem que se estende até perder-se no horizonte. É, sem dúvida, uma fronteira de passagem obrigatória para quem aprecia a Raia no seu todo.

in:historiasdaraia.blogspot.pt

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