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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 23 de março de 2018

Uma Certa Lisboa

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Como bom transmontano, de vez em quando, demando a Lisboa em passeio e a visitar familiares.
Em Lisboa vive-se muito bem, em habitações novas, ou recuperadas em velhos edifícios ainda com memórias pombalinas.
Em Lisboa vive-se muito mal em becos sórdidos, ou no aconchego de pátios escuros adornados com jornais que meigamente recebem os sem abrigo.
Das janelas amplas, cheias de Lisboa, lá está a cidade desenhada a esquadro, régua e compasso na previsibilidade do homem que em 1755 mandou enterrar os mortos e cuidar dos vivos, depois do medonho terramoto que reduziu a escombros a velha Lisboa, até ao Campo de Ourique.
A baixa lisboeta é um mundo cosmopolita, a grande montra onde deslizam as múltiplas etnias. Os negros reúnem-se no Largo de São Domingos, acampam, telefonam, falam outro português, na grande alteridade das culturas sem fronteiras.
As esplanadas animam-se, come-se marisco com sabor a descobrimentos, a mar e ao anonimato de gentes de todo o mundo que passam como se não passassem e vão não se sabe para onde.
Os mendigos descobriram novas estratégias, na antiquíssima arte de pedir e aplicam técnicas de marketing que apostam na emoção e na novidade para atingir difíceis objetivos, numa concorrência desmesurada nas ruas de Lisboa. Assim, um rapaz com longos cabelos e um ar de abandono de quem possuiu o tempo todo do mundo, amestrou um pequeno cão que levantava na pata uma lata, onde os transeuntes embevecidos iam depositando moedas, para gáudio e conforto do rapaz que descobriu que um cão obediente vale mais do que uma criança faminta que dorme no colo duma mãe velha e doente.  
Mas Lisboa é assim, grande em tudo, no luxo, na riqueza, no Poder, na beleza, mas também no bizarro, no insólito e na miséria.
Lisboa tem muita gente. Muita gente culta, muita gente atenta ao País e ao Mundo e muita gente que se perdeu na vida e nos afetos e sobrevive nos subúrbios da grande cidade.
Lisboa acentua as contradições do povoamento, pois, enquanto a Capital tem gente a mais, o Interior morre, paulatinamente, na grande diáspora e envelhecimento das suas gentes. 
Mas hoje, o povoamento não se faz por decreto. Hoje, o povoamento faz-se pelo aproveitamento e descriminação positiva das Regiões mais desfavorecidas. Hoje, o povoamento faz-se pelo apoio e incentivo à imigração seletiva e de qualidade que seja uma mais valia para a Região e para o País.
O eterno retorno da filosofia Grega leva-nos aos antiquíssimos Castros que morreram por falta de habitantes, dizimados por conflitos étnicos e pestes que espalharam a morte e o terror. Das ruínas dos Castros nasceram as aldeias. Trás-os-Montes povoou-se e despovoou-se vezes sem fim, resistindo sempre à fome, à guerra e à peste, com auxílio dos Santos e da bravura dos homens e mulheres deste “reino maravilhoso”.
“Cumpriu-se o Mar e o Império se desfez...falta cumprir-se Portugal…” diz-nos Pessoa.
Portugal está a cumprir-se na abertura à Europa e ao Mundo. Trás-os-Montes há de cumprir-se na valentia, persistência e determinação dos transmontanos.


Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

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