Os autarcas de Bragança e Puebla de Sanábria anunciaram ontem que vão aproveitar um evento ibérico agendado para julho para insistir na reivindicação conjunta com mais de 20 anos de uma nova estrada entre as duas localidades.
Um passeio de bicicleta, o Granfondo, agendado para 16 de julho, em que são esperados centenas de ciclistas, vai percorrer o território raiano e passar na "sinuosa" estrada que transforma os cerca de 30 quilómetros que separam as duas localidades em uma hora de viagem.
"Logicamente aproveitaremos bem a presença de tanta gente para, uma vez mais, reivindicarmos ou chamarmos a atenção para essa realidade que entendemos ser muito necessário para a região e para o país", afirmou Hernâni Dias, presidente da Câmara de Bragança, na apresentação do programa do Granfondo.
Na sessão esteve também presente o autarca espanhol de Puebla de Sanabria, José Fernández Blanco, para quem "esta estrada deve ficar para o "granfondo" e eventos desportivos por que "é uma estrada que não é deste século".
Há mais de 20 anos que os autarcas das duas localidades fronteiriças reclamam uma nova ligação que tem esbarrado em obstáculos ambientais por atravessar áreas protegidas como o Parque Natural de Montesinho.
O mais recente "contra" é a travessia ou variante junto a Rio de Onor, mesmo na zona de fronteira, que implicará a construção de um viaduto, e custos estimados que rondarão "os 20 milhões de euros do lado português e outro tanto do lado espanhol", de acordo com o presidente da Câmara de Bragança.
Para Hernâni Dias, "falta vontade política dos governos português e espanhol, uma decisão clara e objetiva na concretização desta infraestrutura".
"Nós já não vamos lá nem com vontades, nem com intenções. Só vamos lá com decisões concretas e objetivas", enfatizou.
Da mesma opinião partilha o "alcaide" de Puebla de Sanábria, vincando que "nem os governos portugueses nem os governos de Espanha têm tido a mesma sensibilidade que os autarcas sobre a necessidade desta estrada".
José Fernández Blanco está convencido, contudo, que visão central para esta questão está a mudar e apontou que "o ministro do Fomento de Espanha disse que lhe parece muito interessante esta via de comunicação".
"É muito bonito falar de espaços naturais, mas se não há gente nas povoações, se não há habitantes nas localidades, as localidades morrem e, se não tivermos comunicações, é muito difícil", argumentou.
Esta ligação ganha mais relevância, segundo defendeu, com a abertura da estação do comboio de alta velocidade espanhol, o AVE, que o autarca espanhol apontou para 2019 e que deixará a Puebla de Sanábria quase tão próxima de Madrid como de Bragança, apesar de distar 350 quilómetros da capital espanhola e apenas 30 da vizinha portuguesa.
O autarca de Puebla de Sanábria explicou ainda que o que está previsto para esta pequena localidade espanhola é mesmo uma estação do comboio de alta velocidade, apesar de nos planos iniciais constar apenas um ponto de estacionamento para manutenção ou emergências.
Segundo José Fernández Blanco há mais de uma década que está decidida e aos que alimentam em Espanha a polémica em fazer estações do AVE em povoações pequenas responde que é "uma questão de ordenamento do território" .
"Que queremos? Só Lisboa e o Porto ou queremos que também subsistam o Portugal vazio, do despovoamento, envelhecido? O mesmo em Espanha", concretizou.
O autarca lembrou que a localidade espanhola já tem estação de caminho-de-ferro há 60 anos e que a escolha para a paragem do AVE é também técnica, pois Puebla de Sanábria "está no meio dos 280 quilómetros entre Zamora e Ourense"
"Tecnicamente, de tantos em tantos quilómetros tem que existir duplicação da via com pontos de estacionamento de comboios para enfrentar eventuais problemas, como um comboio ter de esperar a passagem de outro ou uma emergência médica", indicou.
HFI // MSP
Lusa/fim
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