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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Adolescência, amizade e livros - 4ª PARTE

Por: António Orlando dos Santos 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

...continuação
Passado à disponibilidade, regressado a Bragança, retomo o meu curso normal de vida e como felizmente sempre tive facilidade de arranjar trabalho não se me colocou naquele tempo a necessidade de emigrar, que era a solução maioritariamente tomada pelos indivíduos da minha geração.

A França era nesse tempo o destino de muitíssimos portugueses, sendo que uma fração diminuta se comparada seguia rumo à Alemanha e Luxemburgo. Perdi assim, com este êxodo, grande parte dos amigos que me haviam acompanhado antes da vida militar.
Mas era tempo de crescimento económico igualmente. Lenta mas segura a situação era mais risonha. Marcelo Caetano era já Primeiro Ministro e apesar da  “Entourage" que o rodeava as reformas iam-se fazendo e com o aparecimento da SEDES havia gente a ganhar muito dinheiro que depois aplicava noutros negócios sendo a construção civil aquela onde mais capitais eram aplicados.
Infelizmente, nem sempre o planeamento era feito com as cautelas necessárias e começaram a aparecer blocos de apartamentos particularmente nas grandes cidades com deficiências que vinham da sua implantação incorreta e sem acessos e nalguns casos sem energia eléctrica, que a EDP se recusava a fornecer por falta até de licenças de construção, havendo casos até de falta de ligação à rede de esgotos. Antes de 25/04/74 o número de casos era inferior mas após a Revolução a situação piorou e até que o Governo exigiu às Câmaras a obrigatoriedade de planos da Urbanização e se regressou ao bom senso de não construir em leito de cheia.
As coisas eram complicadas e em Bragança o exemplo mais flagrante e ainda visível é o Bairro da Mãe de Água. Há que ter em conta as pessoas que necessitavam de casa onde pudessem residir. Muitos haviam ganho algum dinheiro na emigração e tinham pressa pois o desejo maior era ter casa própria e a maioria nem sabia que eram precisas licenças para construir! 
Comprava-se terreno onde parecesse mais condizente com as ideias de cada um e começava a construção sem mais delongas. Normalmente todo o processo era concluído no período de "Vacances" que era grosso modo de um mês, tempo insuficiente, mas que à falta de mais se deixava o não concluído para finalizar no ano seguinte.
É fácil imaginar o caos urbanístico que a ineficiência dos Serviços da Câmara permitiram e a falta de planeamento a médio e longo prazo nos conduziram.
Com a nomeação pela Junta de Salvação Nacional, do Capitão de Engenharia de Aeródromos José Luís Gomes Pinheiro, renasceu nos brigantinos a esperança de se resolverem questões importantes que sem alguém da terra e que lhe tivesse amor, pensava-se, seriam insolúveis.
É de facto este homem que com espírito de missão deita mãos à obra de fazer renascer Bragança das cinzas, qual Fênix que sem nos darmos conta estivesse sepulta algures e inacessível ao nosso devir.
Tinha-se agravado a situação com a vinda dos chamados Retornados que com todo o direito exigiam condições de vida compatíveis com as que tinham nos antigos territórios de onde acabavam de ser obrigados a saírem, sem explicação razoável e onde tinham a sua fazenda e haviam gasto anos longos de trabalho e persistência. O Capitão Pinheiro era sensível a todas as realidades pois havia servido como militar vários anos no Ultramar e antes de ingressar na Academia vivera em Bragança desde pequeno, pois sendo natural de Rabal, a escassos 8km da cidade veio de rapazinho para a cidade e aí estudou, jogou futebol, (era da equipa dos 31-0) hóquei patins, foi escuteiro e era dos rapazes mais bem quistos da sua geração. Recordo-o com saudade e respeito pois vi-o muitas manhãs bem cedo 5/6 da manhã dirigir-se à Estação Elevatória no Sabor para resolver problemas de fornecimento de água que naquele tempo eram recorrentes.
Foi visionário quanto ao aproveitamento das águas de Montesinho, à abertura de outras vias na cidade, à modernização desta para a qual contribuiu com os seus conhecimentos de engenharia e a sua capacidade de trabalho que era notável.
Não resisto a contar uma passagem em que um dia nos recebeu no seu gabinete quando fiz parte da direção do GDB e com o Senhor José Tiago e o Senhor Nuno Álvaro Vaz (Nuno da Rosa d'Ouro ) fomos pedir apoio da Câmara ao projeto de subir o Clube à 2ª divisão. Atendeu-nos com um sorriso e passados uns minutos recebeu uma chamada telefónica do Governo Civil a informá-lo de que o Almirante Pinheiro de Azevedo chegaria a Bragança dentro de uma hora mais ou menos e que ele deveria estar no Governo Civil para a cerimónia de recepção. Resposta do Eng.Pinheiro: -Agora estou a falar com os meus amigos do Desportivo e só quando acabar vou poder ir, mas não tenho gravata e para ir a casa buscá-la atraso a chegada aí.
Após um momento de espera pela resposta do interlocutor e vendo que este não dizia nada, disse ele: -Acho que vou sem gravata, afinal vou encontrar-me com alguém que como eu é um DESENGRAVATADO! Se eu o admirava já, depois disso reservei para ele um lugar na minha consideração que só aos mais íntegros concedo! Ainda hoje a sua memória é para mim de valor inestimável.
A vida teve o curso que se conhece e eu segui o caminho que Deus me demarcou e que levo quase concluído. Com tempo de bonança e também de procela tenho levado, como dizia meu pai, a minha Cruz ao Calvário, embora sempre com a presença e entrega incondicional de minha mulher e filhas que na senda das tradições, usos e costumes da nossa terra e nossa gente sempre estiveram comigo nos melhores e menos bons momentos da vida.
Outra Companhia que nunca me abandonou e que muito prezo e aos quais agradeço a serenidade, os bons conselhos e moderação que sempre me transmitiram, são os livros pois foi com eles que passei os melhores momentos da minha vida.
Obrigado a todos os autores, editores, tipógrafos e livreiros que trabalharam para me fazerem a vida mais completa na leitura de um Bom Livro.

FIM






11/11/2018
A. O. dos Santos
(Bombadas)




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