Por: Humberto Pinho da Silva
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..."
Na época da descolonização “exemplar”, retornou a Portugal, na companhia da família, trabalhador, que imigrara para Angola. Por lá angariou sustento, amealhando um pouco para a velhice.
Com ele, além dos filhos e mulher, trazia apenas malote, com roupas e objetos pessoais, que conseguiu reunir, na pressa de fugir do racismo, que campeava, nesse tempo, em terras africanas.
Desembarcou em Lisboa, como muitos, que em desespero, abandonaram: emprego e bens. Após percorrer hotéis, apressadamente alugados, para acolher “retornados”, assentou viajar para a cidade do Porto.
Ansioso, buscou emprego; implorou auxílio; e, quando pensava partir para o Brasil, deparou alguém, que, condoído com a triste situação, autorizou que se abrigasse em moradia, com largo terreno, que possuía nos arredores.
O homem agradeceu penhorado; declarando: ficar, para sempre, devedor do benfeitor, e tratou de cultivar o terreno e procurar trabalho.
O tempo passou… Passaram dois ou três anos…, e o dono da casa, que por caridade o acolhera, querendo desfazer-se da propriedade, procurou-o, para avisar a venda da área.
Foi recebido de mau modo; e ameaçado com revolver aperrado:
-”Fuja daqui!… Não respondo, se lhe meter bala no bucho!…”
Receoso, fugiu. Pediu conselho a advogado. Este, esclareceu: que seria difícil despeja-lo. O mais acertado era esperar tempos melhores, que sempre chegam…
Assim fez. O tempo tornou a passar…Entretanto, o benemérito, faleceu…
Decorridas quatro décadas, passei por lá. Havia novos arruamentos e prédios novos no terreno.
Desconheço a quem pertencem ou pertenciam; apenas sei: que por bem fazer, mal haver.
Se não tivesse coração piedoso, não teria arranjado trabalhos para a velhice…
Esta história verdadeira, lembra outra: e do menino que se condoeu de serpente enregelada, aquecendo-a ao peito. Recuperando os sentidos, mordeu o benfeitor.
É bem verdade, o dito popular:
“POR BEM FAZER, MAL HAVER…”
Humberto Pinho da Silva, nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA.Foi redactor do jornal: “Notícias de Gaia"” e actualmente é o responsável pelo blogue luso-brasileiro: " PAZ".
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(Henrique Martins)
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