O Agrupamento de Produtores de Castanha Transbaceiro, em Bragança, denunciou que a campanha deste ano ficou marcada por uma nova ameaça de grupos organizados que estão a transformar o tradicional rebusco num saque.
Tanto nesta como noutras culturas, nas zonas rurais existe o costume de os proprietários dos soutos permitirem no final da campanha que outras pessoas possam procurar e levar o que fica da apanha, no chamado rebusco.
O problema, segundo dirigentes da associação e produtores, é que este ano houve locais onde o rebusco foi feito na frente dos donos, ou seja, em soutos onde ainda não tinha sido feita a apanha, e está a ser usado para furtos daquela que é considerada o "petróleo transmontano", devido ao valor económico.
"Aquilo que era o aproveitamento de um fruto que já ninguém queria no tempo dos nossos pais e avôs, é agora o roubo institucionalizado", afirmou Alcino Afonso, produtor da zona de Espinhosela, onde se concentra a maior parte da produção de castanha, em Bragança.
Bragança e Vinhais são os maiores produtores de castanha e a região de Trás-os-Montes é responsável por 80% da produção nacional deste fruto seco que movimenta milhões de euros por ano.
Segundo Alcino Afonso, "todos os anos há castanha roubada, mas como este ano não".
O produtor explicou que chegou a esta cultura uma realidade que já afeta outras em diferentes zonas do interior do país, nos últimos anos, nomeadamente com furtos de azeitona, pinhas ou fruta diversa.
O agrupamento de produtores já realizou uma reunião para discutir o problema, na terça-feira à noite, onde a situação foi atribuída a "grupos de búlgaros" e "compradores sem escrúpulos" e temem que o caso piore "para o ano que vem".
"São aos 70 e os carros aos 20, 30 espalhados pelos soutos fora", apontou Alcino, acrescentando que os produtores têm falado e colaborado com a GNR.
Reconheceu que "não formalizaram queixas" e falou das dificuldades em lidar com a situação até porque, apesar de a GNR fazer patrulhamentos nos caminhos principais, os grupos conhecem os caminhos laterais.
"Uma tradição nossa não é para ser utilizada por quem quer que seja e transformada no roubo das castanhas dos produtores", reiterou.
Outro produtor, Manuel João, afirmou que nesta campanha foram furtadas "para cima de 20 toneladas de castanhas destas freguesias".
"Isto está a tornar-se um caso muito complicado. Há pessoas da minha freguesia que gostam de ir ao rebusco e têm medo de sair de casa porque andam aos 20 e 30 pelos soutos fora", contou.
A presença dos grupos de fora, segundo dizem "está a criar aqui um bocado de receio às populações".
"As populações estão envelhecidas, eles passam pelas aldeias, andam ao pé das casas, em todo o lado e ninguém lhes pode dizer nada, se alguém os enfrentar, eles não têm problema nenhum", afirmou Manuel João.
O agrupamento de produtores chamou um jurista - Manuel Vitorino - para analisar as possibilidades legais e que esclareceu que o mecanismo a que podem recorrer é o do direito à propriedade privada.
Embora o rebusco seja uma prática social antiga não é lei e quem entra nos soutos sem autorização está a violar o direito de propriedade, como explicou o jurista.
O problema para os produtores é como garantir este direito. "Vamos meter guardas privados a pagar?", questionou Alcino Afonso.
O presidente do Agrupamento e Produtores de Castanha Transbaceiro, Carlos Fernandes, anunciou que vão solicitar audiências aos presidentes dos municípios onde se concentra a produção nesta zona, nomeadamente Bragança, Vinhais e Macedo de Cavaleiros, para, até ao início de campanha de 2019, ajudarem a encontrar soluções para este problema.
O dirigente apontou também o dedo aos comerciantes, intermediários e vendedores, e inclusive a produtores que compram a castanha a estes grupos a preços baixos para venderem mais cara.
Agência Lusa
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