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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Reflexão sobre a dualidade de mensagens que o texto escrito por Sophia e publicado em 1959, A noite de Natal, pode ocasionar nos leitores.

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")



Publicarei a minha opinião nas redes sociais do costume já que não consigo subtrair-me a este desafio de eu me ver como um crítico sem formação incapaz de gostar de hipocrisias, mesmo que cobertas pelo "manto diáfano da fantasia".
HISTÓRIA está carregada de subentendidos da mentalidade burguesa e de tendência hipócrita da caridadezinha.
Perguntarão os que me lerem, quem és tu, ignorante e incapaz de apreciares as maravilhas da fantasia escrita em português de lei (da Sophia)? Porque não te deu Deus a capacidade de veres a beleza pura dos sentimentos de uma criança que é tão boa que escolheu um garoto vagabundo, sem eira e sem cama para dormir e tem de passar pelas brasas num estábulo para animais acompanhado por um jerico e uma bezerra, para amigo? Eu explico.
As personagens são duas crianças, uma menina de família burguesa e um rapaz paupérrimo que dormia num curral. A inocência da Joana, a menina, é fruto do seu isolamento, encerrada no seu jardim, que a isola do mundo e potencia o poder da fantasia.
O rapaz, cumpre com o seu papel, mas é estranho que entre no jardim e se comporte como se aquela fosse a "sua praia ", a menos que, como se diz no final do conto ele, fosse Gesu Bambino. 
A parte intermédia do texto é um desfiar de subserviências e verdades ditas pela criada Gertrudes que lhe diz sem subterfúgios que os pobres não têm Natal. Na parte final do texto há um rol de fantasias desencontradas.
A Joana pode ter as ilusões que lhe apetecem, mas não é porque ela vê "coisas" que as "coisas" são fiáveis, pois ela toma Manuel pelo Messias alterando o seu estatuto de indigente pelo de Rei do mundo e o dela, menina burguesa, pelo de menina desprendida de todas as ganâncias de mimada, que até espontaneamente dá os seus brinquedos ao amigo, ainda que poupando a boneca, porque o rapaz não gostaria dela. Onde deixa Joana os brinquedos que recebeu como prenda de Natal e desinteressadamente quer oferecer ao amigo? Algures num lugar imaginário onde pensou ver no Presépio, Manuel, mas que de facto era o estábulo onde ele pernoitava entre o burro e a vaquinha, sob teto de lavrador ou hortelão, já que havia muitos à volta do Porto e V.N. de Gaia, à ilharga dos solares dos novos-ricos. 
Os três Reis do Oriente, sumiram sem passarem de novo por Jerusalém, nem vendo de novo a Herodes, mas os que Joana viu, vinham cada um “de per si”, a penates, sem camelo para a carga, passando sem darem notícia evitando assim a fuga para o Egipto, já que Herodes não foi informado e se evitou o crime nefando da Matança dos inocentes. Também porque Joana não deu conta da presença da Senhora nem tampouco da de S.José. Onde estariam? Um Natal como os outros, onde manda quem pode e obedece quem deve. Avisada foi a criada Gertrudes que não foi à Missa do Galo, ficando a lavar a loiça, adiantando serviço, pois que se o não fizesse teria que a lavar de manhã e atrasava-se o almoço. 
Sophia escreveu alguns dos textos mais belos em Língua portuguesa, mas este conto de Natal parece-me ferido do mal da caridadezinha, tão do agrado da gente rica de Portugal e que a nobreza em decadência tanto apreciava e a burguesia que lhe comprou os trastes foi célere a copiar.
Aos pobres davam um chouriço porque eles lhes criavam, matavam e transformavam em presuntos, chouriços e salpicões, os porcos que criavam na pocilga.


Que poder tão grande têm as crianças de com a sua inocência, praticarem atos que deveriam ser tidos como exemplo pelos adultos que seguem a máxima de, Esmola Mateus, primeiro aos teus! E os pobrezinhos vão para o céu porque como disse Jesus, mais facilmente passará um camelo pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrará no Reino do Céu. Coitadinhos, não mereciam tal destino pois há meninas ricas que saem à noite de casa para oferecerem os seus brinquedos aos pobres, nem se preocupando sequer com os perigos que espreitam em tais saídas, particularmente pela ação intimidante dos pobrezinhos sem Natal e sem boas maneiras que à noite sob o Sete Estrelo dos céus do Porto, roubam a paz e a segurança a quem quer acabar com a pobreza.




Bragança, 12 de Novembro de 2019
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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