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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Lenda d’O Caso da Lagoa – Palaçoulo – Miranda do Douro

Naquele tempo existia, em Palaçoulo, uma lagoa de água retida e insalubre, ao fundo da Praça da Cruz, onde esteve implantado um edifício público, conhecido como Casa do Povo. Mas apenas ocupa uma parte, pois a lagoa era mais ampla, em todos os sentidos.

Lá bebiam as vacas, até sem que fosse preciso assobiar-lhes. Via-se e ouvia-se chuparem aquela água estagnada, com gosto preferencial em relação a qualquer outra…

Aquela mesma lagoa, no Inverno cobria-se de gelo.

Então, havia rapazes, jovens e homens adultos que se divertiam a escorregar naquela espessa geleira. Por isso, ainda há quem se recorde de um palaçoulense que se deparou com sérias dificuldades em sair de lá, porque o gelo se partiu.

Salvou-se, com a ajuda de outros conterrâneos que, da margem, lhe lançaram os paus e a ponta de uma corda grossa. Localmente, esta corda é denominada “lúria”, utilizada para apertar as carradas grandes, geralmente de lenha ou molhos de cereais. Assim que o resgataram, já teso com o frio e semi-afogado.

Bom! Depois desta descrição, passamos a contar o que aqueles tais jovens fizeram, de sua espontânea e livre opção.

Uma brincadeira de rapazes 

Com baraços e cordéis apertados, fizeram como que um feixe dos destroços acabados de recolher daquela dupla imagem desmantelada.

E zumba! Aí vai aquilo tudo para a lagoa, para que o diabo ou demónio, que ali tinha uma boa parte do seu focinho, feio de meter medo, se afogasse de uma vez para sempre.

Mas o que é que havia de acontecer? O inesperado daquele improvisado feixe teimava em não se afogar e até parecia que “refunfunhegava” cada vez mais, provocantemente, com tantas bolhas sonoras de agua que emitia, à medida que se introduzia nos muitos buracos feitos pelo caruncho e por umas “rachicas” que tinha o “caramono”.

Então, os rapazes, para que se afogasse e parasse de refilar, toca de lha atirarem com calhauzada, pois naquele tempo, pedras era o que mais havia por ali.

Ao mesmo tempo, invectivavam-no com veemência: “inda refunfunhegas, caramonico de mil demonhos”?!

E continuaram a lançar-lhes pedras e o mais que encontravam, para que aquele embrulho maléfico e provocante desaparecesse para o mais fundo da lagoa, também persistentemente empurrado pela talvez ingénua, constante e aparente diabrite expressa no mesmo “inda refunfunhegas, caramonico de mil demonhos”?!

Sem puderem voltar atrás

Assim foi, até que com o peso das pedras lançadas para cima, aquele estranho conjunto já estava quase totalmente submerso quando uma onda de alvoroço começou a correr pelo povo, relativamente à pirraça, “perrice” ou simplesmente inadvertido divertimento da rapaziada, mas já não foi possível evitar nem remediar, o que já era façanha consumada.

O próprio Cura, advertido foi até a lagoa, mas já nada conseguiu ver nem vestígios do malfadado feixe de bocados, nem bolhas a “refunfunhegar”, nem sequer a rapaziada que tinha totalmente desaparecido, amedrontada, cada um para seu lado.

O caso foi aproximadamente assim, simples, mas iria ficar na lembrança de gerações.

Extraído de: Fernandes, José Francisco (2001), Mirandês e Caramonico. Caramonico – Associação para o Desenvolvimento Integrado de Palaçoulo, 188-190 (texto editado)

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