Catarina Siopa está ligada à Universidade de Coimbra e ao projecto Cultivar, no âmbito do qual está a fazer um doutoramento. O objectivo do trabalho de campo, realizado em Março de 2021, era “avaliar a importância dos vários tipos de habitats e usos do solo com recursos alimentares e de nidificação distintos, para as interacções entre planta e polinizador”, explicou à Wilder.
Munidos de uma rede entomológica enquanto seguiam um transecto (percurso pré-estabelecido), Catarina e outros membros da equipa foram colhendo vários insectos que guardavam em frascos para mais tarde serem identificados, constatando que ali havia “uma biodiversidade enorme de abelhas” apesar de estarem numa produção agrícola.
A nova abelha foi encontrada, segundo a investigadora, “numa zona semi-natural localizada no centro do pomar, composta por uma mistura de vegetação herbácea, arbustiva e arbórea, num afloramento rochoso onde existem as plantas nas quais se suspeita que esta abelha seja especialista”. Em causa estão plantas da família das leguminosas (Fabaceae) – a mesma família do grão e dos feijões – como por exemplo a giesta-branca (Cytisus multiflorus), “em flor na altura de captura”.
Planta de giesta-branca (Cytisus multiflorus). Foto: Miguel Vieira/Wiki Commons |
Depois da recolha dos insectos em campo, a equipa tratou de os separar em grupos diferentes de acordo com as características físicas, tentando depois identificar cada uma das espécies através de uma chave dicotómica. Mas depararam com dificuldades.
“O grupo das abelhas é muito diverso em Portugal e a sua identificação é um verdadeiro desafio. Neste caso foi recolhido apenas um espécime, que foi identificado como pertencendo ao género Andrena“, explicou por sua vez Hugo Gaspar, também ligado ao projecto Cultivar. Da mesma equipa fazem também parte Sara Lopes, Sílvia Castro e João Loureiro.
Um baptismo “carinhoso”
Os investigadores estavam com “grandes dificuldades” em perceber qual era esta espécie, uma vez que o género Andrena é “particularmente diversificado e desafiante”, com actualmente 131 espécies registadas em Portugal. Em finais de 2021, Hugo Gaspar enviou então essa abelha – em conjunto com alguns outros insectos – para Thomas Wood, da Universidade de Mons, na Bélgica. O objectivo era este entomólogo, “um dos mais conceituados especialistas europeus” neste género científico de abelhas, identificar e validar de que espécies se tratava.
Foi no mês passado, em Junho, que Thomas Wood publicou a descrição científica da nova abelha, em conjunto com o cientista espanhol Francisco Javier Ortiz Sanchez, da Universidade de Almeria, no Boletim da Sociedade Entomológica Aragonesa. A nova espécie, “‘carinhosamente’ baptizada de Andrena lusitania“, foi descrita a partir do macho encontrado no Fundão e também com base numa fêmea entretanto capturada na região espanhola de Huelva, Andaluzia.
No mesmo artigo científico, Thomas Wood e Francisco Sanchez publicaram ainda a descrição de outras duas abelhas novas para a Ciência, também do género Andrena, ambas encontradas em Espanha.
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