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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 25 de julho de 2022

A idade não me define

 Usualmente a malta mais velha teve licenciaturas de 5 anos (não esquecer). Mais, quando fez mestrados usualmente fê-los de 2 anos com teses de mais de 100 páginas (e sem ou quase sem internet).

Sim, talvez defina o meu chassis e os motores que podem não funcionar tão bem. Ou a quantidade de cabelo e o ter brancos.

De resto, não tenho qualquer pejo ou sinto qualquer sentido pejorativo por ser mais velho. Sou mais velho, ponto. Faz parte da vida. Mas o ser mais velho tem encantos. Como dizia num artigo recente no Link do Leaders, “Contratem mais Velhos”. E dava o exemplo de três pessoas com mais de 50 que foram agora contratadas. Não em Portugal, infelizmente, pois nós, recrutadores e mandantes de recrutadores, somos canhestros de cabeça.

Onde não sinto dificuldade por ter mais de 50 anos?

Em lidar com pessoas. Em relacionar-me. Em socializar. Em rapidamente estabelecer uma relação.

Em afastar-me e cheirar à distância de onde vêm os maiores problemas.

Em avaliar situações complexas e procurar rapidamente colocar-me do lado da solução.

Usualmente a malta mais velha teve licenciaturas de 5 anos (não esquecer). E os que não tiveram, a vida deu-lhes anos de experiência como ainda não deu aos mais novos. Mais, quando a malta mais velha fez mestrados, usualmente fê-los de dois anos com teses de mais de 100 páginas (e sem ou quase sem internet). A malta sabe escrever. Tem, portanto, um background de pensamento interessante e estruturado.

Se percorrermos os skills necessários apontados pelo World Economic Forum não vejo quaisquer problemas em os mais de 50 lhes fazerem fit.

Não vejo quaisquer problemas com skills analíticos e competências de inovação. Aliás, criatividade e inovação nunca foram um problema para os mais velhos. Ou esquecemos que também há novos velhos que cristalizaram mal nasceram? Esse estigma dos mais velhos e das zonas de conforto não passa de um mito urbano nos dias que correm. Os mais velhos estão muito mais novos de cabeça que mais velhos de gerações anteriores.

Não vejo qualquer problema com o “active learning” e as “learning strategies”. Acredito, como ser humano que sempre estudou a vida toda, que não ande muito longe do que os meus pares gostariam também de ter tido oportunidade de fazer.

Não vejo, até pela experiência, problemas de maior na resolução de problemas complexos.

Não vejo qualquer questão em pensamento crítico e análise.

Como não vejo problema em criatividade, originalidade e iniciativa. Há novos velhos muito diferentes dos que víamos em gerações anteriores, como referia.

Sobre capacidade de liderança, estamos falados.

Sobre uso de tecnologia e programação vejo alguma maior dificuldade de adaptação. Potencialmente. Mas não me venham com histórias. No outro dia acompanhei programação nuns ciclos de python e para quem esteve exposto a Fortran IV e Fortran 77 à séria aquilo é canja de galinha.

Resiliência e tolerância ao stress? Pois, perguntem a cada um a história de vida.

Ideação, solução de problemas e capacidade de raciocínio. Estamos também falados.

Talvez o mais complexo foi não termos nascido com um PC agarrado às mãos. Mas fizemos uma história desde as perfuradoras de cartões até conseguirmos escrever whatsapps com duas mãos. Alguma vez os mais de 50 são desqualificados? Em quê? Ah, pois, estão mais vezes doentes. Sério? E todos os mais novos que faltam só porque têm diarreia (não há casas de banho nas empresas?), porque têm dores de cabeça, porque não lhes apetece ir? Isso nada diz, certo?

É claro que defendo o blend. Os mais velhos e os mais novos. Não posso é aceitar que os mais velhos sejam sempre preteridos em recrutamento quando trazem estabilidade, auto-conhecimento, boas performances emocionais, solução de problemas de forma mais simples, experiência.

Misturem-se mais novos e mais velhos. Sem problemas e sem preconceitos.

E num país como este, que paga mal, há mais velhos a pedirem salários muito competitivos, de baixos que são, para tudo aquilo que aportam. Tão competitivos que não os sabemos porque nem sequer equacionamos falar com eles.

Pois a apologia dos mais velhos tem de ter um grupo, uma associação e lobbying senão não mudamos o estado de coisas neste país. Quem arranca com uma coisa destas? Mercado há. Porquê? Porque daqui a nada seremos todos mais velhos.

José Crespo de Carvalho
Professor Catedrático; Presidente da Comissão Executiva
 INDEG – ISCTE Executive Education

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