Pobre arqueologia. Pobres castros, antas, mamoas e afins. Está tudo a saque.
Não me refiro à imperdoável desatenção que os nossos lugares de interesse arqueológico têm merecido da parte dos organismos a que compete a sua defesa e valorização.
Na verdade, também aí haveria pano para mangas. A gente vai procurar um qualquer local arqueológico — e que encontra? Escombros, ruína, descaso. O castro da Murada, por exemplo, em Lamares. Hoje é um amontoado informe de pedregulhos que só o olhar experiente e atento de um arqueólogo pode identificar como tendo sido um castro. A Mão do Homem, importante vestígio rupestre em Escariz, só por milagre não tem ainda encavalitada em cima uma maison catita. Panóias está como todos sabemos: de fazer envergonhar qualquer país que se preze do seu passado. E por aí adiante.
Mas pronto, não são essas águas que fazem moer hoje o meu moinho. Como se não bastasse tudo isso, todo esse abandono e todo esse desprezo, ainda sobreveio uma nova calamidade: certa casta de piratas, que revolvem tudo o que lhes cheire a sítio arqueológico à cata de tesouros. Já não são os rudes aldeões crendeiros, que julgavam que qualquer megálito tinha por obrigação ocultar uma moura encantada e um tesouro — e toca a destruí-lo, a poder de pico, marra ou mesmo bomba. Hoje essa casta de pirataria modernizou-se e saqueia, não a ferro de gaviar, mas com detectores de metais.
Eu não sei se o piedoso Leitor que me acompanha nestes desabafos semanais sabe o que é um detector de metais. É um aparelhómetro baratucho, coisa para uns cem contos talvez, capaz de revelar a presença de metais no subsolo. Armados com ele, os piratas passam a pente fino castros, mamoas, etc. No final de uma safra destas, podem ter descoberto, digamos, uma dezena de moedas que, vendidas na candonga, lhes pagam o investimento. Daí para a frente, é tudo lucro.
Segundo informações que tenho por fidedignas, dois desses piratas teriam vasculhado recentemente o castro de Sabrosa e desenterrado duas centenas de moedas de prata. Escusado será dizer que a maioria dessas moedas acabam por ir parar às mãos de receptadores, que fazem por sua vez negócio com elas. E assim tanto os piratas propriamente ditos (os ladrões que vão à horta), como os piratas de segundo grau (os que ficam à porta), vão delapidando o passado do país e sonegando parcelas importantes do seu património histórico-cultural, em nome do mercantilismo e do dinheiro fácil.
É urgente pôr cobro à acção parasitária desses fulanos. É preciso fazer-lhes compreender que uma coisa é vasculhar as praias à procura de moedas e ouros e pratas perdidos, sem particular valor cultural, outra coisa é devassar os castros à cata de espólios arqueológicos que fazem falta para a leitura da história. E quem lho deve dizer não sou eu — embora esteja a procurar fazê-lo neste preciso momento — mas sim as autoridades cujo dever é velar pela salvaguarda do património comum, ou mesmo, em última análise, as policiais.
Obviamente, se os castros todos tivessem já sido escavados por quem de direito e ciência, como devia ser, deixaria de haver interesse da parte dos piratas em pirateá-los. Porque, nessa altura, o espólio teria já sido recolhido e estaria a salvo, ao serviço da comunidade, estudado e exposto em museus. Mais um argumento pois a favor da tremenda urgência em proceder a escavações que neutralizem de uma vez por todas o tráfico e a cobiça. Enquanto isso não acontecer, o nosso património, Leitor, a nossa herança histórica, sua e minha, estará a saque, à mercê destas aves de rapina, que impunemente comerão dela e engordarão.
Não há dúvida: estamos num país em que o que é preciso é ter lume no olho. Escrúpulos? Honestidade? Para quê? Só estorvam...
Não me refiro à imperdoável desatenção que os nossos lugares de interesse arqueológico têm merecido da parte dos organismos a que compete a sua defesa e valorização.
Na verdade, também aí haveria pano para mangas. A gente vai procurar um qualquer local arqueológico — e que encontra? Escombros, ruína, descaso. O castro da Murada, por exemplo, em Lamares. Hoje é um amontoado informe de pedregulhos que só o olhar experiente e atento de um arqueólogo pode identificar como tendo sido um castro. A Mão do Homem, importante vestígio rupestre em Escariz, só por milagre não tem ainda encavalitada em cima uma maison catita. Panóias está como todos sabemos: de fazer envergonhar qualquer país que se preze do seu passado. E por aí adiante.
Mas pronto, não são essas águas que fazem moer hoje o meu moinho. Como se não bastasse tudo isso, todo esse abandono e todo esse desprezo, ainda sobreveio uma nova calamidade: certa casta de piratas, que revolvem tudo o que lhes cheire a sítio arqueológico à cata de tesouros. Já não são os rudes aldeões crendeiros, que julgavam que qualquer megálito tinha por obrigação ocultar uma moura encantada e um tesouro — e toca a destruí-lo, a poder de pico, marra ou mesmo bomba. Hoje essa casta de pirataria modernizou-se e saqueia, não a ferro de gaviar, mas com detectores de metais.
Eu não sei se o piedoso Leitor que me acompanha nestes desabafos semanais sabe o que é um detector de metais. É um aparelhómetro baratucho, coisa para uns cem contos talvez, capaz de revelar a presença de metais no subsolo. Armados com ele, os piratas passam a pente fino castros, mamoas, etc. No final de uma safra destas, podem ter descoberto, digamos, uma dezena de moedas que, vendidas na candonga, lhes pagam o investimento. Daí para a frente, é tudo lucro.
Segundo informações que tenho por fidedignas, dois desses piratas teriam vasculhado recentemente o castro de Sabrosa e desenterrado duas centenas de moedas de prata. Escusado será dizer que a maioria dessas moedas acabam por ir parar às mãos de receptadores, que fazem por sua vez negócio com elas. E assim tanto os piratas propriamente ditos (os ladrões que vão à horta), como os piratas de segundo grau (os que ficam à porta), vão delapidando o passado do país e sonegando parcelas importantes do seu património histórico-cultural, em nome do mercantilismo e do dinheiro fácil.
É urgente pôr cobro à acção parasitária desses fulanos. É preciso fazer-lhes compreender que uma coisa é vasculhar as praias à procura de moedas e ouros e pratas perdidos, sem particular valor cultural, outra coisa é devassar os castros à cata de espólios arqueológicos que fazem falta para a leitura da história. E quem lho deve dizer não sou eu — embora esteja a procurar fazê-lo neste preciso momento — mas sim as autoridades cujo dever é velar pela salvaguarda do património comum, ou mesmo, em última análise, as policiais.
Obviamente, se os castros todos tivessem já sido escavados por quem de direito e ciência, como devia ser, deixaria de haver interesse da parte dos piratas em pirateá-los. Porque, nessa altura, o espólio teria já sido recolhido e estaria a salvo, ao serviço da comunidade, estudado e exposto em museus. Mais um argumento pois a favor da tremenda urgência em proceder a escavações que neutralizem de uma vez por todas o tráfico e a cobiça. Enquanto isso não acontecer, o nosso património, Leitor, a nossa herança histórica, sua e minha, estará a saque, à mercê destas aves de rapina, que impunemente comerão dela e engordarão.
Não há dúvida: estamos num país em que o que é preciso é ter lume no olho. Escrúpulos? Honestidade? Para quê? Só estorvam...
Apostila:
Não serei radical a ponto de dizer que, de 1992 para cá, não tenha havido algum progresso
Em 1992, ainda Panóias, no termo de Valnogueiras, Vila Real, estava a bem dizer ao abandono, como se diz na crónica. Tinha-se avançado pouco em relação aos avisos de José Leite de Vasconcelos, dados em finais do séc. XIX: «Os preciosos monumentos arqueológicos de Panóias estão arriscados a perderem-se completamente, enquanto a Exm.ª Câmara Municipal de Vila Real não cuidar de os adquirir e resguardar, o que para ela constitui dever cívico, por tais monumentos pertenceram a uma época histórica de que poucos vestígios históricos restam no concelho de Vila Real, e serem além disso interessantes para o conhecimento geral das antiguidades da nação. Tanto mais se estranhará que a Exm.ª Câmara o não faça, quando é certo que com a aquisição e resguardo dispenderia quantia insignificante.»
A aquisição dos terrenos tinha já sido feita, nos anos 80, com uma verba concedida pelo primeiro-ministro Sá Carneiro. Mas a vedação teria de esperar ainda uma boa dúzia de anos. Hoje, finalmente, está feita. Foi além disso criado um centro interpretativo e levantados passadiços e escadas metálicas que permitem a melhor observação do monumento. Enfim, Panóias, hoje, está que se pode ver. Ou pelo menos estava da última vez que passei por lá e mostrei o lugar a pessoas interessadas. Felizmente. Porque é um monumento ímpar no país. E é sempre agradável mostrar a estrangeiros estes degraus da história.
Boa tarde, o que não faltam são exemplos de abandomo e destruição do património Transmontano, para quê gastar recursos com uma cultura que não é a deles e que tanto se esforçam por aniquilar, estamos entregues a criminosos mas se cá vierem é só sorrisos por parte dos lacaios locais, pobre povo. Bem haja pelo texto, saudaçoes Transmontanas
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