Acho que já escrevi sobre este assunto uma boa dúzia de vezes. Mas, como em nenhuma delas recebi de algum Leitor apiedado um ‘feed-back’ que me esclarecesse, eis que volto a ele, na esperança de que haja alguém suficientemente caridoso que me explique.
Trata-se, em suma, daquilo que para mim é um mistério inexplicável: o poder que os políticos têm ou adquirem em tempos de campanha eleitoral, de convencer o cidadão comum de que “desta vez” as promessas que faz são mesmo para cumprir. A história e a experiência (esse braço-direito da história) estão fartas de nos ensinar que promessa eleitoral não passa de lixo, de engodo, de conversa para esquecer no dia seguinte à contagem dos votos. Pois a coisa funciona. O eleitor deixa-se ir, como um burrico manso, levado pela arreata das promessas. E só depois, fechadas as urnas e eleito o figurão, ao ver as promessas ficarem uma a uma por cumprir, é que se lhe acende um assomo de arrependimento: afinal “desta vez” foi igual às vezes anteriores. E então protesta e bufa, mas é tarde: o dito figurão está eleito e instalado, e toca a aguentar com ele os anos da legislatura penosamente.
Passos Coelho dava, só ele, um manual de promessas feitas e dolorosamente incumpridas. Ele eram os impostos que não subiam. Ele eram os vencimentos e pensões que não desciam. Ele eram os funcionários públicos que não tinham que recear despedimentos. Ele era o diabo a quatro. Pois na sua prática governativa quotidiana se vai vendo a solidez das suas promessas.
Diga-se em abono da verdade que não é ele o único. Antes dele, José Sócrates — que anda agora feito tele-evangelista, como mordazmente o classificou Nuno Morais Sarmento, a verberar as promessas não cumpridas de Coelho — fez exactissimamente a mesma coisa. E antes de Sócrates, Durão Barroso. E antes de Barroso, António Guterres. E antes de Guterres — bom, o Leitor poupar-me-á ao trabalho, que é extenuante, de levar a coisa mais além.
E é isto que não entendo: como podem os políticos prometer tanto e, já agora, como pode o Zé Pagode ser tão crédulo. Haja uma alma compadecida que me explique.
Conversava há dias com um amigo, quando este assunto veio à baila. Zurzíamos ferozmente os políticos promitentes, quando me ocorreu uma comparação:
– Pois. São como a cabra.
A comparação não podia abismar mais o meu interlocutor.
– Como a cabra?!...
– Sim, como a cabra.
– Como assim?
– Nunca ouviste o povo dizer que a cabra apregoa mel e vende azeitonas?
– Por acaso não. Mas troca lá isso por miúdos.
– Pois seja. Como faz a cabra?
– Mé…
– Pronto. O ‘mel’ está por esse mé que a cabra berra.
– Estou a ver. Mas, e as azeitonas?
– Nunca viste os excrementos da cabra?
– Já.
– E parecem o quê?
– Azeitonas.
– Pois aí tens. A cabra parece dizer que dá mel, mas no fim de contas o que dá… são azeitonas.
– Bem visto, pá!
– Aprende, que eu não duro sempre…
Trata-se, em suma, daquilo que para mim é um mistério inexplicável: o poder que os políticos têm ou adquirem em tempos de campanha eleitoral, de convencer o cidadão comum de que “desta vez” as promessas que faz são mesmo para cumprir. A história e a experiência (esse braço-direito da história) estão fartas de nos ensinar que promessa eleitoral não passa de lixo, de engodo, de conversa para esquecer no dia seguinte à contagem dos votos. Pois a coisa funciona. O eleitor deixa-se ir, como um burrico manso, levado pela arreata das promessas. E só depois, fechadas as urnas e eleito o figurão, ao ver as promessas ficarem uma a uma por cumprir, é que se lhe acende um assomo de arrependimento: afinal “desta vez” foi igual às vezes anteriores. E então protesta e bufa, mas é tarde: o dito figurão está eleito e instalado, e toca a aguentar com ele os anos da legislatura penosamente.
Passos Coelho dava, só ele, um manual de promessas feitas e dolorosamente incumpridas. Ele eram os impostos que não subiam. Ele eram os vencimentos e pensões que não desciam. Ele eram os funcionários públicos que não tinham que recear despedimentos. Ele era o diabo a quatro. Pois na sua prática governativa quotidiana se vai vendo a solidez das suas promessas.
Diga-se em abono da verdade que não é ele o único. Antes dele, José Sócrates — que anda agora feito tele-evangelista, como mordazmente o classificou Nuno Morais Sarmento, a verberar as promessas não cumpridas de Coelho — fez exactissimamente a mesma coisa. E antes de Sócrates, Durão Barroso. E antes de Barroso, António Guterres. E antes de Guterres — bom, o Leitor poupar-me-á ao trabalho, que é extenuante, de levar a coisa mais além.
E é isto que não entendo: como podem os políticos prometer tanto e, já agora, como pode o Zé Pagode ser tão crédulo. Haja uma alma compadecida que me explique.
Conversava há dias com um amigo, quando este assunto veio à baila. Zurzíamos ferozmente os políticos promitentes, quando me ocorreu uma comparação:
– Pois. São como a cabra.
A comparação não podia abismar mais o meu interlocutor.
– Como a cabra?!...
– Sim, como a cabra.
– Como assim?
– Nunca ouviste o povo dizer que a cabra apregoa mel e vende azeitonas?
– Por acaso não. Mas troca lá isso por miúdos.
– Pois seja. Como faz a cabra?
– Mé…
– Pronto. O ‘mel’ está por esse mé que a cabra berra.
– Estou a ver. Mas, e as azeitonas?
– Nunca viste os excrementos da cabra?
– Já.
– E parecem o quê?
– Azeitonas.
– Pois aí tens. A cabra parece dizer que dá mel, mas no fim de contas o que dá… são azeitonas.
– Bem visto, pá!
– Aprende, que eu não duro sempre…
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