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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 31 de julho de 2022

A CABRA

 Acho que já escrevi sobre este assunto uma boa dúzia de vezes. Mas, como em nenhuma delas recebi de algum Leitor apiedado um ‘feed-back’ que me esclarecesse, eis que volto a ele, na esperança de que haja alguém suficientemente caridoso que me explique.
 Trata-se, em suma, daquilo que para mim é um mistério inexplicável: o poder que os políticos têm ou adquirem em tempos de campanha eleitoral, de convencer o cidadão comum de que “desta vez” as promessas que faz são mesmo para cumprir. A história e a experiência (esse braço-direito da história) estão fartas de nos ensinar que promessa eleitoral não passa de lixo, de engodo, de conversa para esquecer no dia seguinte à contagem dos votos. Pois a coisa funciona. O eleitor deixa-se ir, como um burrico manso, levado pela arreata das promessas. E só depois, fechadas as urnas e eleito o figurão, ao ver as promessas ficarem uma a uma por cumprir, é que se lhe acende um assomo de arrependimento: afinal “desta vez” foi igual às vezes anteriores. E então protesta e bufa, mas é tarde: o dito figurão está eleito e instalado, e toca a aguentar com ele os anos da legislatura penosamente.
 Passos Coelho dava, só ele, um manual de promessas feitas e dolorosamente incumpridas. Ele eram os impostos que não subiam. Ele eram os vencimentos e pensões que não desciam. Ele eram os funcionários públicos que não tinham que recear despedimentos. Ele era o diabo a quatro. Pois na sua prática governativa quotidiana se vai vendo a solidez das suas promessas.
 Diga-se em abono da verdade que não é ele o único. Antes dele, José Sócrates — que anda agora feito tele-evangelista, como mordazmente o classificou Nuno Morais Sarmento, a verberar as promessas não cumpridas de Coelho — fez exactissimamente a mesma coisa. E antes de Sócrates, Durão Barroso. E antes de Barroso, António Guterres. E antes de Guterres — bom, o Leitor poupar-me-á ao trabalho, que é extenuante, de levar a coisa mais além.
 E é isto que não entendo: como podem os políticos prometer tanto e, já agora, como pode o Zé Pagode ser tão crédulo. Haja uma alma compadecida que me explique.
 Conversava há dias com um amigo, quando este assunto veio à baila. Zurzíamos ferozmente os políticos promitentes, quando me ocorreu uma comparação:
 – Pois. São como a cabra.
 A comparação não podia abismar mais o meu interlocutor.
 – Como a cabra?!...
 – Sim, como a cabra.
 – Como assim?
 – Nunca ouviste o povo dizer que a cabra apregoa mel e vende azeitonas?
 – Por acaso não. Mas troca lá isso por miúdos.
 – Pois seja. Como faz a cabra?
 – Mé…
 – Pronto. O ‘mel’ está por esse mé que a cabra berra.
 – Estou a ver. Mas, e as azeitonas?
 – Nunca viste os excrementos da cabra?
 – Já.
 – E parecem o quê?
 – Azeitonas.
 – Pois aí tens. A cabra parece dizer que dá mel, mas no fim de contas o que dá… são azeitonas.
 – Bem visto, pá!
 – Aprende, que eu não duro sempre…

Repórter do Marão, 2 de Agosto de 2013

A. M. Pires Cabral

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