São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)
O Texêrão, véio amigo das escrita, que morava em Caxias do Sul, era uma flor de pessoa; mais era mentiroso; como tudo us escritô é! Hoje iêle tá nos braço de Deus; i hai de me perdoá por relatá esse causo: iêle foi caçá a cavalo, custume dos gaucho... .
Cuma apareceu a mula sem cabeça prêle, muntada pelo Negrinho do Pastorêio, seu cavalo ispantô e saiu na vula; deitano cabelo pelas querência e invernada. E num é que o Texêrão caiu do cavalo, sô! I foi arrastado por um estirão; as´que por uns cem metro... E lá ficô o bacamarte, caído na grama tuda cuberta de geada. Tamém ficô por lá a guaiaca. A única arma que ficô cum iêle, era a garrucha, incaxada na cintura.
E o Texêrão disse: ...sô home pra mais de metro; e macho! Vô infrentá tudas coisa que vié pela frente!
Nessa hora, a onça roncô bem perto dele; anssim meio d´esgueio! Iêle viu a bicha de perto i puxô o gatío da garrucha de dois cano: nada; faiô! Iêle apercebeu que a garrucha táva discarregada! Saiu correno por adonde tinha sido arrastado, i achô a guaiaca: as borsinha da guaiaca távam tudo aberta, tinha perdido tudo; menos pòrva i iscórva! I iêle achô tamém o bacamarte, que táva descarregado....
Na farta de chumbo grosso, achô inté que ía morrê, pois a bicha vinha na sua direção. Daí achô uma cerca de arame farpado, adonde num dos morão tinha um prego grande; desses de prendê trío de trem nos dormente! Iêle conseguiu arrancá o prego, bem digêro! Encheu o cano do bacamarte de pórva , inté na boca, póis a iscórva e enfiô o prégo pela goela do cano.
Már virô de lado, cum o bacamarte, apercebeu que a onça, táva há maiomeno treis metro dele, i babano de apetite. E foi então que o Texêrão carcô fogo!
E foi um istrondo danado, iscuitado de Flores da Cunha inté em Farroupilha e Bento Gonçalves! E se feiz uma fumacêra do cão; i o Texêrão num viu mais a onça!
- Acho que ela cagô de medo desse gaudério; disse naquele linguajar isquisito....
I o Texêrão ficô por ali, precurano, campiano, tár e coisa! Nisso sentiu arguma coisa cair de mansinho na copa do seu chapéu gaúcho. Tirô o chapéu; inquanto oiava a gota de sangue no chapéu, uma outra gota, ainda maió, caiu na sua cabeça. Oiô pra cima, i viu, a onça pregada no gáio do jacarandá, cum aquele prégo que falei procêis.
- Dá pra acreditá no Texêrão!
Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 9 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de cinco outros publicados em antologias junto a outros escritores.
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