Cria de águia-caçadeira na instalação de aclimatação. Fotografia Pedro Alves/Palombar. |
Em maio deste ano foi formalmente assinado o Protocolo Searas com Biodiversidade: Salvemos a Águia-caçadeira, que une, numa parceria inédita, o Clube de Produtores Continente, a Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC), o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO/BIOPOLIS) da Universidade do Porto e a Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural. O objetivo comum destes parceiros é contribuir para salvar esta espécie, em vias de extinção no país, identificando ações e medidas de gestão para salvaguardá-la, mas também para promover um sistema alimentar mais amigo do ambiente.
A Jornada que decorre esta sexta-feira, em Miranda do Douro, organizada pela Palombar – Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural, tem como objetivo fazer um balanço sobre as diversas ações que integraram este projeto desde fevereiro de 2022, assim como apresentar resultados preliminares.
Assim, durante a manhã, o momento alto do programa da Jornada será a devolução à Natureza das crias de Águia-caçadeira resgatadas e das crias provenientes da incubação dos ovos resgatados de ninhos no Nordeste Transmontano, cuja manutenção foi inviável. A instalação de aclimatação garante todas as condições de segurança e bem-estar para a espécie, com vigilância 24 sobre 24 horas e acompanhamento por técnicos especializados.
Para o resgate das crias e ovos e para a sua incubação artificial, bem como para a instalação e funcionamento dessa estrutura de aclimatação, foi fundamental o contributo dado pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e pelo Centro de Recuperação de Animais Selvagens do Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, razão pela qual estas entidades e a Palombar assinam agora um Acordo de colaboração, dando continuidade à cooperação prosseguida.
Adicionalmente, realizou-se uma cooperação institucional transfronteiriça com a organização não governamental espanhola AMUS - Acción por el Mundo Salvaje e a Junta da Extremadura espanhola, que permitiu trazer para a instalação de aclimatação águias-caçadeiras tutoras, que estão a ensinar as jovens crias a ganharem autonomia, nomeadamente a saberem caçar e reconhecerem situações de perigo, assim como a viverem em liberdade quando forem devolvidas à Natureza. Sem o salvamento e resgate destas crias e ovos em ninhos inviáveis, estas novas gerações de Águia-caçadeira dificilmente sobreviveriam.
As ações de salvamento e resgate enquadram-se numa iniciativa alargada de âmbito nacional e envolvem ainda outras entidades, como a Liga para a Proteção da Natureza e a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves.
Da parte da tarde, do programa da Jornada, que será já aberto ao público e que decorrerá no Pavilhão Multiusos de Miranda do Douro, constam a apresentação das diversas ações desenvolvidas e a formalização da adesão de novos agricultores à Rede de Proprietários Amigos da Águia-caçadeira, que compreende já cerca de duas dezenas de agricultores, gestores e proprietários de terremos agrícolas.
Ao longo destes cinco meses de projeto, foi iniciado o primeiro Censo Nacional da população da Águia-caçadeira, que está previsto decorrer até ao final de 2023. Os resultados preliminares deverão ser conhecidos em breve.
No âmbito da campanha de salvamento prevista, foram realizadas diversas ações consideradas urgentes e que têm como objetivo aumentar o sucesso reprodutor e, consequentemente, a população de Águia-caçadeira, o que incluiu a prospeção de colónias e ninhos, a monitorização da reprodução, o resgate de ovos e a proteção de ninhos.
Em paralelo, desde fevereiro deste ano, foram realizadas dezenas de reuniões de trabalho, proposta uma medida agroambiental, no âmbito do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum para Portugal 2023-2027, para a gestão da espécie, e efetuadas diversas sessões de formação e capacitação de Vigilantes da Natureza, assim como ações de sensibilização a agricultores e proprietários rurais sobre a necessidade de proteção da Águia-caçadeira.
Graças a esta parceria, as sete toneladas de farinha de trigo utilizadas diariamente nas padarias das lojas Continente têm origem em searas das regiões do Alentejo e de Trás-os-Montes, que são monitorizadas de forma a proteger a biodiversidade e a conservação desta ave.
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