Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
De como um simples encontro ocasional pode mudar o dia e fazer com que reflitamos no que é a cultura de alguns que desinteressadamente estão sempre prontos para ajudar os que precisam.
Ontem de manhã resolvi sair de casa para tratar de assuntos de somenos na Caixa Geral de Depósitos em Vila Nova de Gaia. Saímos de casa eu e minha esposa e fomos tratar do assunto que demorou pouco e decidimos ir ao Supermercado, o que fizemos tendo regressado a pé pela rua da Bélgica por onde tínhamos vindo de autocarro. Era ainda cedo e a manhã estava convidativa.
Após as compras seguimos de novo pela mesma via em direção à próxima paragem. Quase de imediato surge um autocarro que presumimos nos levaria até pertinho de casa. Só que as feitas são as que valem e nem eu nem ela reparamos que o autocarro era o dezassete e não o treze. O condutor perguntou-me: -Vão para a praia? E eu, como a última paragem antes de nossa casa é pertinho da praia que é extensa respondi, sim. Tudo como dantes Quartel-general em Abrantes.
Um pouco depois apercebemo-nos que o autocarro saiu da Rua da Bélgica e seguiu um trajeto que não era o que nós sempre fizemos que era percorrer literalmente a dita rua e um minuto após estarmos em casa. Quando decidimos deixar o dezassete ir ao seu destino final estávamos no passeio de uma rua bem no interior de Canidelo, sem que suspeitássemos sequer qual era o ponto cardeal de referência para seguirmos para casa.
Aqui confesso que embora aborrecida por tal situação a minha mulher não perdeu o sangue frio e estudou a melhor possibilidade de sermos informados. Reparou que no passeio, um pouco à nossa frente estava um homem mais ou menos da nossa idade que com uma vassoura e uma pá limpava, descontraído, alguns papeis e folhas caídas. Dirigindo -se a ele perguntou se sabia indicar-nos o caminho para Lavadores. O homem um pouco surpreendido disse: - Eu já lá estive mas daqui não sei como lá chegar. Refletiu mais um pouco e disse: - Vão assim e depois assado que encontrarão uma paragem e o condutor vos indicará a rota certa.
Agradecemos e pusemo-nos a caminho mas, subitamente, ouvimos que ele chamava por nós. Retrocedemos e a minha mulher em jeito de desculpa disse-lhe: - Sabe, nós não somos daqui somos de Bragança e não estamos familiarizados com estas andanças e perdemo-nos. O homem abriu mais os olhos e sorrido respondeu: - Também eu sou de Bragança, mais propriamente de Paredes perto de Parada.
Foi uma surpresa para nós e também para ele que a coincidência nos levasse ao reconhecimento pelos sinais linguísticos e alguma premonição. Disse-nos a quem pertencia, o que eu não relatarei por ser fastidioso, mas adianto que os seus familiares são nossos conhecidos, amigos até.
Disse-nos então: - Eu estou a ver que os senhores estão em dificuldades e que o seu marido como que manqueja um pouco. Pensei melhor e acho que eu sou capaz de vos levar a casa. É quase hora de almoço mas ainda demora um pouco e eu nem digo à minha mulher porque regressarei rápido.
Convidou-nos a entrar no seu carro que tinha ali estacionado e com um sorriso nos lábios, conduziu-nos até casa juntamente com as compras que começavam a pesar mais do que quando saímos do Supermercado. Fomos conversando e quando parou e nós saímos, convidei-o para entrar em nossa casa para de algum modo podermos demonstrar-lhe o nosso agradecimento. Recusou argumentando que a esposa o esperava e não queria aborrecê-la pois havia saído sem a avisar.
Serve todo este relato para tentar compreender o que ocasiona em nós esta disponibilidade para ajudarmos quem está em dificuldade, desinteressadamente, mesmo que o outro seja um ilustre desconhecido.
O certo é que eu levei o dia todo a pensar em tal desfecho e várias resposta me foram sendo oferecidas pela análise que fui fazendo ao longo do dia. Revendo dentro do possível a minha experiência colhida em terras de Sua Majestade, não foram poucas as vezes que me encontrei em tais dilemas e a minha consciência, sem rodeios foi igual à do ilustre bragançano, que muito se orgulha de haver nascido em Paredes tomou e que ficará no meu consciente como um farol que me oriente para bom porto. Durante este exercício lembrei-me dos meus princípios de vida quando o meu carácter se formou e das coisas simples que retenho como bússola que me indicou o Norte sem me esconder os outros pontos cardeais.
Na Escola e no exercício de aprendizagem corrente fui confrontado com textos e poemas que me marcaram e que versando a miríade de assuntos da vida me encantaram e comigo ficaram como se Deus mos houvesse emprestado como um presente que guardarei até ao fim e que devolverei porque não poderei levar comigo para o além o que me serviu aquém.
O que vou escrever é um simples poema de um autor português que com uns versos de uma beleza indescritível nos transporta para um mundo onde a carne que nos faz pecar também consegue fazer do homem uma montanha de sentimentos que vão do puro júbilo de poder prolongar-se no tempo com o nascimento dos filhos e num puro exercício de contrição louvar a Deus usando o respeito e exaltação de Sua mãe.
Ontem de manhã resolvi sair de casa para tratar de assuntos de somenos na Caixa Geral de Depósitos em Vila Nova de Gaia. Saímos de casa eu e minha esposa e fomos tratar do assunto que demorou pouco e decidimos ir ao Supermercado, o que fizemos tendo regressado a pé pela rua da Bélgica por onde tínhamos vindo de autocarro. Era ainda cedo e a manhã estava convidativa.
Após as compras seguimos de novo pela mesma via em direção à próxima paragem. Quase de imediato surge um autocarro que presumimos nos levaria até pertinho de casa. Só que as feitas são as que valem e nem eu nem ela reparamos que o autocarro era o dezassete e não o treze. O condutor perguntou-me: -Vão para a praia? E eu, como a última paragem antes de nossa casa é pertinho da praia que é extensa respondi, sim. Tudo como dantes Quartel-general em Abrantes.
Um pouco depois apercebemo-nos que o autocarro saiu da Rua da Bélgica e seguiu um trajeto que não era o que nós sempre fizemos que era percorrer literalmente a dita rua e um minuto após estarmos em casa. Quando decidimos deixar o dezassete ir ao seu destino final estávamos no passeio de uma rua bem no interior de Canidelo, sem que suspeitássemos sequer qual era o ponto cardeal de referência para seguirmos para casa.
Aqui confesso que embora aborrecida por tal situação a minha mulher não perdeu o sangue frio e estudou a melhor possibilidade de sermos informados. Reparou que no passeio, um pouco à nossa frente estava um homem mais ou menos da nossa idade que com uma vassoura e uma pá limpava, descontraído, alguns papeis e folhas caídas. Dirigindo -se a ele perguntou se sabia indicar-nos o caminho para Lavadores. O homem um pouco surpreendido disse: - Eu já lá estive mas daqui não sei como lá chegar. Refletiu mais um pouco e disse: - Vão assim e depois assado que encontrarão uma paragem e o condutor vos indicará a rota certa.
Agradecemos e pusemo-nos a caminho mas, subitamente, ouvimos que ele chamava por nós. Retrocedemos e a minha mulher em jeito de desculpa disse-lhe: - Sabe, nós não somos daqui somos de Bragança e não estamos familiarizados com estas andanças e perdemo-nos. O homem abriu mais os olhos e sorrido respondeu: - Também eu sou de Bragança, mais propriamente de Paredes perto de Parada.
Foi uma surpresa para nós e também para ele que a coincidência nos levasse ao reconhecimento pelos sinais linguísticos e alguma premonição. Disse-nos a quem pertencia, o que eu não relatarei por ser fastidioso, mas adianto que os seus familiares são nossos conhecidos, amigos até.
Disse-nos então: - Eu estou a ver que os senhores estão em dificuldades e que o seu marido como que manqueja um pouco. Pensei melhor e acho que eu sou capaz de vos levar a casa. É quase hora de almoço mas ainda demora um pouco e eu nem digo à minha mulher porque regressarei rápido.
Convidou-nos a entrar no seu carro que tinha ali estacionado e com um sorriso nos lábios, conduziu-nos até casa juntamente com as compras que começavam a pesar mais do que quando saímos do Supermercado. Fomos conversando e quando parou e nós saímos, convidei-o para entrar em nossa casa para de algum modo podermos demonstrar-lhe o nosso agradecimento. Recusou argumentando que a esposa o esperava e não queria aborrecê-la pois havia saído sem a avisar.
Serve todo este relato para tentar compreender o que ocasiona em nós esta disponibilidade para ajudarmos quem está em dificuldade, desinteressadamente, mesmo que o outro seja um ilustre desconhecido.
O certo é que eu levei o dia todo a pensar em tal desfecho e várias resposta me foram sendo oferecidas pela análise que fui fazendo ao longo do dia. Revendo dentro do possível a minha experiência colhida em terras de Sua Majestade, não foram poucas as vezes que me encontrei em tais dilemas e a minha consciência, sem rodeios foi igual à do ilustre bragançano, que muito se orgulha de haver nascido em Paredes tomou e que ficará no meu consciente como um farol que me oriente para bom porto. Durante este exercício lembrei-me dos meus princípios de vida quando o meu carácter se formou e das coisas simples que retenho como bússola que me indicou o Norte sem me esconder os outros pontos cardeais.
Na Escola e no exercício de aprendizagem corrente fui confrontado com textos e poemas que me marcaram e que versando a miríade de assuntos da vida me encantaram e comigo ficaram como se Deus mos houvesse emprestado como um presente que guardarei até ao fim e que devolverei porque não poderei levar comigo para o além o que me serviu aquém.
O que vou escrever é um simples poema de um autor português que com uns versos de uma beleza indescritível nos transporta para um mundo onde a carne que nos faz pecar também consegue fazer do homem uma montanha de sentimentos que vão do puro júbilo de poder prolongar-se no tempo com o nascimento dos filhos e num puro exercício de contrição louvar a Deus usando o respeito e exaltação de Sua mãe.
De Augusto Gil uma pérola feita ao correr da pena, sem ostra que a gerasse.
Dorme, dorme meu menino
Foi-se o sol, nasceu a lua,
Qual será o teu destino,
Que sorte será a tua?
Foi-se o sol, nasceu a lua,
Qual será o teu destino,
Que sorte será a tua?
Riquezas tenhas tão grandes
E tal bondade, também ,
Que ao redor onde tu andes,
Não fique pobre ninguém.
E tal bondade, também ,
Que ao redor onde tu andes,
Não fique pobre ninguém.
E se houver urzes e tojos,
Pedras que rasguem a pele
Porás o corpo a rojos
Passarás por cima dele.
Pedras que rasguem a pele
Porás o corpo a rojos
Passarás por cima dele.
Senhora da Conceição
E da Fátima e da Paz
Chamar por uma ou por outra,
Ó mãe do Céu, tanto faz.
E da Fátima e da Paz
Chamar por uma ou por outra,
Ó mãe do Céu, tanto faz.
O estado de espírito depois que atingi a idade de sessenta e cinco anos como que fez um retorno ao tempo da minha criação e sem preconceito que o faça ocultar mostrou -me um outro modo de me sentir parte de algo que está dentro de mim como sendo a minha génese que retorna como um fogo lento mas constante e um jeito de me sentir bem quando a melancolia me invade. Sem pieguices que tento a todo o custo por de parte por insanas não resisto a este apelo ao retorno de pensamentos que senti num tempo longínquo mas que lentamente me dá o vigor para continuar a deliciar-me com estas delícias da nossa Poesia, particularmente quando é assim simples e fácil de memorizar.
Dou graças a Deus pelos escolhos que colocou na minha marcha e pelo que me deu quando o vigor deste garoto da Caleja sentiu logo que a doença deu sinais de cavalgada. Ele que não parou o corcel, mas pôs-lhe um freio que o fez refrear o ímpeto.
Como dizia a canção: Gracias a la vida que me há dado tanto…
Dou graças a Deus pelos escolhos que colocou na minha marcha e pelo que me deu quando o vigor deste garoto da Caleja sentiu logo que a doença deu sinais de cavalgada. Ele que não parou o corcel, mas pôs-lhe um freio que o fez refrear o ímpeto.
Como dizia a canção: Gracias a la vida que me há dado tanto…
V.N. de Gaia, 05/07/2022
A. O. dos Santos
(Bombadas)
Sem comentários:
Enviar um comentário